No passado, manter a privacidade das mensagens era mais difícil que hoje; confira curiosa técnica!
Éric Moreira Publicado em 23/04/2023, às 10h00
Hoje em dia, os inúmeros avanços tecnológicos que a humanidade alcançou ao longo de sua história permitem que, com facilidade, possamos enviar mensagens anônimas uns para os outros, ou até mesmo em conversas virtuais particulares criptografadas, de forma que dificilmente a privacidade existente em um webchat entre duas pessoas seja tranquilamente preservada.
No entanto, sabe-se que nem sempre foi assim. Antes mesmo de aplicativos de mensagens como temos hoje em dia, as pessoas conseguiam se comunicar somente via e-mail, de forma muito mais lenta. E antes disso tinha o telefone e, mais nos primórdios da humanidade, o hábito de se enviar cartas era extremamente comum.
Porém, da mesma forma como hoje, algumas questões relacionadas à diplomacia e política são tratadas com sigilo, no passado isso não era diferente. O que muda mesmo é que, teoricamente, meras cartas escritas à mão em um pedaço de papel não poderiam manter tão bem um segredo quanto as mensagens virtuais da atualidade, certo?
Pois saiba que a resposta para isso é, surpreendentemente, não. Confira a seguir como era o truque que reis e rainhas utilizavam no passado a fim de preservar a privacidade de suas correspondências:
Quando se pensa nas antigas correspondências rotineiramente enviadas, geralmente destacamos um lacre simples para as cartas, este que poderia muito facilmente ser substituído, feito com cera derretida e uma espécie de carimbo. Mas e se o conteúdo daquela carta não pudesse ser lido por mais ninguém que não o destinatário, de que forma uma tentativa de leitura não-desejada poderia ser impedida?
Embora nem todos conheçam, durante séculos, um sistema de segurança para as cartas era comum de ser encontrado nelas, uma espécie de criptografia física. O método para usar esse "cadeado", porém, era delicado e extremamente sofisticado — mas, definitivamente, eficiente.
Conhecido pelo termo em inglês 'letterlocking', em português algo como um 'travacarta', de acordo com a BBC, esse método foi descoberto por Jana Dambrogio, do Laboratório de Conservação do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, depois de pesquisar estranhas ranhuras e cantos rasgados em cartas dos séculos 15 e 16, enquanto trabalhava nos Arquivos Secretos do Vaticano em 2000.
Foi então que ela notou que essas cartas rasgadas apresentavam um padrão inusitado: todas foram engenhosamente dobradas e lacradas, com a inserção de uma parte do próprio papel da correspondência em uma ranhura. Esta prática, no caso, já foi percebida inclusive em cartas de outros grandes nomes da história, como a rainha Elizabeth 1ª, Maquiavel, Galileu Galilei e Maria Antonieta.
Porém, outro desses "travacartas" que merece destaque, ainda, é o presente na última carta escrita por Maria Stuart, uma antiga rainha da Escócia que, em meio a todas as confusões de linhagem monárquica que já eram rotineiras, acabou sendo acusada de traição em 1586, envolvida em um plano para libertá-la com apoio de uma invasão estrangeira, que mataria a rainha inglesa vigente, Elizabeth I. Porém, ela foi descoberta e, então, condenada à morte.
Presa na Escócia, Maria Stuart ainda quis realizar um último desejo, antes de sua execução. Em sua cela, começou a produzir ali o que seria sua carta de despedida ao então rei da França, Henrique 3º.
"Irmão real, depois de ter — pela vontade de Deus e por meus pecados, acredito — me lançado ao poder da minha prima, a Rainha, finalmente fui condenada à morte por ela e seu legado. Esta noite, após o jantar, fui informada da minha sentença. Serei executada como criminosa às oito da manhã", escreveu calmamente.
Então, graças ao que se sabe hoje sobre a curiosa técnica para manter a privacidade das cartas, depois de escrever a mensagem, dobrou-a, recortou-a e a costurou, em um processo que exige mais de 30 etapas em sua elaboração, para fazer o 'cadeado'.
Para isso, um pedaço de papel era recortado de forma que a margem da carta ficasse pontiaguda, como descreve a BBC; esse pedaço servia, no caso, como uma espécie de 'agulha' que bordava o cadeado em espiral, de forma que sua violação e manuseamento errado danificaria a carta permanentemente.
A mecânica desse cadeado obriga a pessoa que abrir a carta a rompê-lo para ter acesso ao conteúdo", explicam, por fim, os estudiosos que pesquisaram o mecanismo.
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