Considerado um engenheiro do ecossistema, o tatu-canastra é uma espécie de enorme importância para o Cerrado
Giovanna Gomes Publicado em 02/03/2021, às 16h22
Considerado um engenheiro do ecossistema devido a sua importância, o tatu-canastra é o maior de todos, podendo chegar a 1,5 metros de comprimento e pesar 60 kg.
Contudo, conforme um estudo realizado por especialistas do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS) a espécie já rara no Cerrado brasileiro, pode deixar de existir no estado do Mato Grosso do Sul.
“Sabíamos que, no Pantanal, a viabilidade da espécie não estava ameaçada a curto prazo. Mas no Cerrado, pelo que líamos e víamos, sabíamos que a situação era urgente. Então a primeira pergunta que a gente queria fazer foi: existe ainda tatu-canastra do Cerrado do Mato Grosso do Sul? E onde?”, disse Arnaud Desbiez, presidente do ICAS e fundador do Projeto Tatu-canastra em entrevista ao G1.
Visando entender o caso, os pesquisadores escolheram 37 municípios do Mato Grosso do Sul, sendo 22 pertencentes ao Cerrado e os demais à Mata Atlântica.
“Dividimos esses locais em microbacias e vimos a porcentagem de área nativa que ainda restava em cada uma delas. Ranqueamos essas áreas, falamos com os proprietários e íamos visitar o fragmento andando e procurando por sinais do tatu-canastra”, explicou Desbiez.
Assim como o tamanduá, o tatu-canastra se alimenta de formigas e cupins. De hábitos noturnos, a espécie cava buracos e permanece dentro das tocas durante o dia. Justamente por ser um animal dificilmente encontrado, foi necessário prestar atenção nos mínimos detalhes que poderiam indicar a presença do mamífero.
Os pesquisadores identificaram a existência de diferentes fragmentos de habitat no estado, sendo que o maior deles tem apenas 170 km², área na qual menos de sete tatus-canastra podem viver.
“O resultado assustou muito, porque a gente viu que tinha menos de 70 fragmentos do tamanho da área de vida do tatu-canastra no Pantanal. A pesquisa mostra que essa espécie está muito ameaçada no Cerrado e que o habitat está muito fragmentado", disse o fundador do projeto.
"Isso significa que, para trafegar de um fragmento para o outro, o tatu-canastra tem que atravessar rodovias e grandes áreas de pastagem, correndo o risco de ser perseguido, caçado, atropelado ou até atacado por cães, uma situação extremamente preocupante”, prosseguiu.
De acordo com o projeto, há outro problema que implica na preservação da espécie: a velocidade com que os tatus se reproduzem.
Eles atingem a maturidade para reprodução apenas aos sete anos de idade, sendo que apenas um filhote é gerado a cada gestação. Além disso, trata-se de um processo que ocorre a cada três anos.
“É uma espécie que não tem a capacidade de recuperar ameaças e nos dá medo que nos próximos 15 a 30 anos o tatu-canastra possa se extinguir”, disse Desbiez.
O objetivo agora é descobrir quantos são os indivíduos que ainda vivem no bioma. Além disso, há o desafio de descobrir uma maneira de conectar os vários fragmentos de habitat para que a espécie possa ser salva.
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