Manifestações contra às medidas instauradas para conter uma pandemia já existiam há mais de cem anos
Vanessa Centamori Publicado em 28/05/2020, às 12h46 - Atualizado em 21/04/2021, às 12h00
Em maio de 2020, a capital paulista se deparou com manifestantes, que protestaram na Avenida Paulista contra o isolamento social. Enquanto isso, no exterior, milhares de pessoas — principalmente da extrema direita, antivacina e teóricos da conspiração — se manifestaram nas ruas da Alemanha, Reino Unido e Polônia contra as restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus.
Tal cenário, que reúne milhares de indivíduos contrários às medidas restritivas recomendadas pela ciência, atualmente está abalando o planeta. Mas isso não é uma novidade. Há mais de cem anos, protestos similares ocorriam no auge da pandemia de gripe espanhola.
Eles aconteciam dentro de um movimento, intitulado de Liga Anti-Máscara, que surgiu em 1919, na cidade de São Francisco, Califórnia. Faziam parte dessa onda vários moradores, que se diziam cansados das restrições e desconfiados da eficácia do uso das máscaras.
O principal argumento usado pela liga era que a obrigatoriedade do uso do equipamento infringia a liberdade e os direitos constitucionais. Tal mentalidade contagiava quase tanto quanto o vírus: em uma só única reunião, em janeiro, compareceram mais de 2 mil pessoas para protestar contra as máscaras.
Vale lembrar, porém, que o uso dessa medida de prevenção é recomendado atualmente pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que tem até diretrizes sobre o manuseio responsável desse equipamento, importante agora contra a Covid-19.
Nos meses finais da Primeira Guerra Mundial, o uso de máscaras era considerado símbolo de patriotismo. A Cruz Vermelha fabricava e distribuía os equipamentos em todo os Estados Unidos, mas não havia o suficiente para todo mundo.
Então, as autoridades recomendavam a costura de máscaras caseiras. Isso funcionou nas primeiras semanas, com 80% da população de São Francisco se protegendo. Só que, por outro lado, centenas de pessoas foram detidas por infringir o uso.
Isso fora aqueles que usavam o utensílio de proteção de modo equivocado - há relatos até de que algumas pessoas irresponsáveis abriam um buraco na máscara, na região da boca, para fumar.
Os integrantes do movimento de 1919 se tornaram contra a exigência das máscaras devido à várias justificativas. Assim como ocorre em movimentos atuais, muitos membros simplesmente não gostavam de cobrir seus rostos com tais apetrechos, mas havia quem se refugiasse em interpretações constitucionais.
Por outro lado, uma das discrepâncias mais importantes entre a Liga Anti-Máscara e as manifestações de hoje é que em 1919 não havia a quantidade de dados e evidências atuais de que as restrições podiam salvar vidas.
Durante a gripe espanhola, os estudos científicos certamente estavam em outro ritmo. Naquela época, a Associação Americana de Saúde Pública havia publicado um artigo que dizia que as evidências sobre a eficácia das máscaras eram contraditórias.
Isso só fortificou o surgimento da Liga Anti-Máscara, embora hoje saibamos que o uso dessa proteção é essencial contra a atual pandemia. Historiadores modernos argumentam também que, mesmo que não se saiba o impacto das máscaras no controle da gripe em São Francisco, a própria devastação da doença na cidade já aponta os desdobramentos péssimos da interrupção das restrições, que ocorreram antes do controle da gripe espanhola.
No dia 21 de novembro de 1919, foi anunciada o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras e a liga comemorou arrancando os equipamentos e os jogando no chão. Mas, na realidade, não havia motivos para celebrar: o número de casos de gripe espanhola voltou a crescer.
Calcula-se que apenas 10% da população aderiu ao uso de máscara após o fim da recomendação dessa medida. Com o número de doentes crescendo, em 17 de janeiro, foi retomado o uso de máscaras de modo obrigatório novamente.
Mesmo assim, um tempo depois, após as autoridades de São Francisco dizerem terem vencido a gripe espanhola, o cálculo final foi assustador: a cidade somou 45 mil infectados e mais de 3 mil mortos.
No Estados Unidos como um todo, a doença matou 675 mil pessoa. Acredita-se que, em três ondas mortais, a mãe das pandemias tenha feito mais de 50 milhões de vítimas no mundo todo. A resistência contra as medidas de prevenção com certeza inflou essa conta e ceifou vidas. Tal realidade, infelizmente, pode não ter ficado no passado.
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