Os dois homens do Egito Antigo foram enterrados juntos e, em sua tumba, foram representados abraçados, de mãos dadas e, ainda, encostando seus narizes
Isabela Barreiros Publicado em 13/04/2020, às 15h45
Todas as vezes que se deparam com descobertas egípcias antigas, arqueólogos esperam se surpreender. Não foi diferente quando encontraram, em 1964, a tumba de Khnumhotep e Niankhkhnum, próxima da capital Cairo. Não havia nenhuma múmia, nem ao menos joias preciosas — o que eles viram foram as representações nas paredes de dois homens muito próximos.
As artes do local ilustravam Khnumhotep e Niankhkhnum, que ocupavam os cargos de Superintendentes dos Manicures do Palácio do Rei. Por mais que não fossem nobres, cuidar da aparência do faraó era uma atividade estimada durante a quinta dinastia do Antigo Reinado, por volta de 2380 a 2320 a.C.
É extremamente incomum que egiptólogos encontrem tumbas divididas por dois homens que ocupassem a mesma posição no reino. De acordo com a crença da época, pessoas eram colocadas na mesma sepultura para que pudessem se encontrar novamente depois de morrerem, na vida após a morte. O comum era, portanto, que um homem proeminente fosse acompanhado de sua esposa e filhos em tal câmara mortuária.
Quanto às imagens dos dois, elas também acenderam um enorme debate. Abraçados, de mãos dadas e encostando seus narizes, — o que era considerado uma forma de beijo no antigo Egito —, os homens se tornaram alvo de inúmeras teorias, que tentam explicar a possível relação entre eles.
Nas gravuras, a esposa de Niankhkhnum é colocada afastada dos dois homens. Muitas vezes, ainda, Khnumhotep chegou a ocupar esse local. Durante uma cena que retrata um banquete, isso fica explícito, onde, enquanto o possível casal se entretém com dançarinos, a mulher é colocada em uma posição pouco visível.
Um dos pontos de vista mais comum entre os arqueólogos é que eles tenham sido o primeiro do mesmo sexo registrado na História. De acordo com o pesquisador independente Greg Reeder, se tais representações fossem de um homem e uma mulher não haveria dúvidas quanto ao relacionamento afetivo dos dois.
"Eles estão tão próximos aqui que não apenas estão face a face e nariz a nariz, mas tão próximos que os nós de seus cintos estão se tocando, ligando seus troncos inferiores. Se esta cena fosse composta de um casal de homem e mulher em vez do casal de mesmo sexo que temos aqui, haveria pouca dúvida em relação ao que estamos vendo", afirmou Reeder.
Outra tese, no entanto, considera que eles foram, na verdade, irmãos. Segundo David O'Connor, professor da Universidade de Nova York, eles deveriam ser gêmeos, e ainda em um caso muito particular: siameses.
"Minha sugestão é de que Niankhkhnum e Khnumhotep eram de fato gêmeos, mas de um tipo muito especial. Eles eram gêmeos siameses e era tal peculiaridade física que provocou tantas descrições deles de mãos dadas ou abraçados em sua tumba”, explicou.
As hipóteses, porém, permanecem como parte da investigação acerca da tumba descoberta. As evidências arqueológicas não são conclusivas e parte dessa análise vêm de traduções muito provavelmente enviesadas, principalmente devido ao fato de ser uma língua muito antiga e de difícil compreensão.
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