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Antiguidade

Julio César: O calvo adúltero

O legado do grande Imperador Romano, que ultrapassou gerações, tem características curiosas

Reinaldo José Lopes e Joseane Pereira Publicado em 20/05/2019, às 08h00

Muita gente acha que os gênios já nascem prontos. Mas, para o homem cujo nome virou sinônimo de imperador e general, as coisas aconteceram bem mais devagar. Ele teve de esperar a maturidade para mostrar a que veio, galgando o poder aos poucos, de mansinho – ascensão que, aliás, combinava bem com a personalidade desse mestre conciliador.

César governou para valer os gigantescos domínios de Roma por apenas quatro anos, mas a influência do “Divino Júlio”, como seus conterrâneos passaram a conhecê-lo depois da morte, dura mais de dois milênios.

Herança cultural

O kaiser nasceu em julho por meio de uma cesariana.

Não entendeu nada? Então vamos lá: “kaiser” é como se chama o soberano da Alemanha. Esta palavra, o nome do mês e a cirurgia que substitui o parto normal têm o mesmo patrono. Ele próprio, o “JC” de Roma. Apesar de ter governado seu povo por pouquíssimo tempo, o impacto de César sobre a história e a cultura ocidentais foi imenso.

A começar pelo calendário juliano, organizado sob sua supervisão, que estabeleceu as bases para a contagem do tempo que ainda usamos hoje e só foi alterado no século 16 da era cristã.

O mês de julho empresta seu nome de César, divinizado por Augusto depois de sua morte. Seu nome também virou sinônimo de imperador em alemão (kaiser) ou russo (czar ou tzar). Por último, várias anedotas ligam a prática da cesariana ao fato de que César só teria nascido graças a uma operação pioneira realizada em sua mãe.

Assassinato de César, por Karl von Piloty / Créditos: Wikimedia Commons

 

Amantes

A vida sexual de César foi das mais movimentadas. Seus soldados o chamavam de O calvo adúltero (antes de completar 50 anos, César perdera todo o cabelo). Ele se casou quatro vezes.

Com Pompéia, a terceira, viveu uma situação esquisita. Um jovem apaixonado por ela, Clódio, invadiu a casa de César enquanto era celebrada uma festa em honra de Bona Dea, uma deusa cujos rituais não podiam ser vistos por homens. Clódio disfarçou-se de mulher, mas foi flagrado. César divorciou-se de Pompéia, mas não puniu Clódio. Diante do juiz, ele teria dito: “À mulher de César não basta ser honesta, ela deve parecer honesta”.

Também havia boatos sobre seus relacionamentos com outros homens. Em um debate no Senado, em que César defendia os interesses do amigo Nicomedes (soberano que ele conheceu na Bitínia), alguém insinuou que “todos sabem o que tu deste a ele”. As legiões de César, nas celebrações de suas vitórias em Roma, costumavam chamá-lo de “rainha da Bitínia”.

Não que isso contribuísse para diminuí-lo aos olhos do povo, ainda que os romanos fossem menos tolerantes em relação à homossexualidade que os gregos. “O importante é que o homem tivesse uma postura masculina, independentemente de ter relações com homens ou com mulheres”, afirma o historiador e arqueólogo Pedro Paulo Funari, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Bom de boca: frases que entraram para a história

Quase tudo aquilo que se conhece sobre César vem dos seus próprios escritos, nos quais relata a guerra contra os gauleses e as batalhas contra os exércitos de Pompeu. Outra fonte são os biógrafos clássicos, em especial Suetônio, na sua A Vida dos Doze Césares, e Plutarco, em Vidas Paralelas, um trabalho monumental que compara a trajetória de Alexandre, o Grande, e de Júlio César.

Desnecessário dizer que esses textos são metade história, metade literatura. Plutarco pinta-o como um predestinado pelos deuses, enquanto Suetônio apresenta uma visão mais crítica. De toda forma, os dois retratam César como um frasista talentoso. O seu “Veni, vidi, vici”, ou “Vim, vi e venci”, tornou-se sinônimo de competência.

Diante dos corpos dos Optimates em Farsália, conta-se que ele teria dito Hoc voluerunt, (Assim o quiseram) – como quem diz que os aristocratas poderiam ter evitado o banho de sangue se fossem menos teimosos.

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