Juan Domingo Perón - Wikimedia Commons
Personagem

Juan Domingo Perón, o presidente que governou como ditador, era eleito há exatos 74 anos

Mesmo antes da própria eleição, esse general admirador de Mussolini já estava envolvido em polêmicas, mas foi eleito com bastante vantagem

André Nogueira Publicado em 24/02/2020, às 11h08

Argentina, 1946. Em pleno caos político, devido golpes e manifestações conflitantes por todo o país, é anunciada a eleição oficial do popular general Juan Domingo Perón, que vira a ser o 26º e 27 º (antes de também ser o 38º em 1973) Presidente da República. Perón, um dos maiores símbolos do populismo mundial, venceu com 56% dos votos, demonstrando grande poder em meio à sociedade.

A vitória de Perón ocorreu com cerca de 260 mil votos a mais que seu principal concorrente, José Tamborini, da Unión Cívica Radical Del Pueblo, de cunho socialista democrático. Em um cenário continental de recente queda do maior populista já visto na América do Sul (Getúlio Vargas no Brasil, deposto pelas Forças Armadas em 1945), a situação argentina era surpreendente.

A eleição do general foi e é um evento bastante polêmico da História da Argentina enquanto país unificado. A trajetória de Perón, pessoal e politicamente, trás significados alarmantes: o principal fato é o de que ele participou de um estágio de dois anos em unidades de combate na Itália Fascista, onde criou grande admiração por Mussolini e sua ideologia política.

Perón como presidente / Crédito: Wikimedia Commons

 

Após retornar à América, que não estava em guerra, Perón participou da fundação de uma unidade golpista de militares chamada Grupo dos Oficiais Unidos. Num forte apelo antilegalista, a associação de generais, comandada pelo general Arturo Rawson, ordenou um golpe de Estado que derrubou o impopular e autoritário presidente Ramón Castillo, vice em exercício e responsável pelo Estado de Sítio que estava o país.

O golpe abriu espaço político para o que seria a eleição de Perón três anos depois, explicitando o valor golpista e desestabilizador de seu ingresso no poder público. Mas antes de assumir o país, o general foi secretário na pasta de Trabalho, que se tronou Ministério. No cargo de Ministro, ganhou grande apreço popular por conta de medidas no campo da melhoria na vida dos trabalhadores: redução de jornada, aumento salarial, instituição do 13º, etc.

O historiador Hiroshi Matsushima aponta mais uma polêmica importante na relação entre povo e Perón em seu livro Movimiento Obrero argentino, 1930-1945: sus proyecciones en los orígenes del peronismo (“movimento operário argentino, 1930-1945: suas projeções nas origens do peronismo”, numa tradução livre), ao ponderar as medidas trabalhistas do presidente como beneficiárias apenas para uniões politicamente organizadas, ao invés de abranger todos os trabalhadores da argentina.

Pintura de Juan e Evita, o casal mais famoso da Argentina / Crédito: Wikimedia Commons

 

Agora político, Perón possuía grande influência do corporativismo italiano, ao mesmo tempo em que acumulou a pasta de Guerra do governo e ainda se tornou vice-presidente oficial de Gal. Edelmiro Farrel. E foi nessa posição em que participou de um dos maiores eventos públicos daquele país, que se tornaria o trampolim para a polêmica eleição: após um golpe de Estado em 1945, quando um general de nome Avalos destituiu e prendeu Perón, mas não esperava os efeitos dessa radicalização.

Após o encarceramento do vice-presidente, a imagem dele passou a ser divulgada como um mártir republicano, incentivando uma gigantesca manifestação popular que tomou a Praça de Maio em Buenos Aires exigindo o retorno de Perón ao poder. A enxurrada de pessoas que foram às ruas ao grito do nome do adorado político (“Perón! Perón!”) forçou a nova junta golpista a recuar, fazendo de Juan Domingo novamente vice, agora com um mastodôntico capital político.

Quatro meses depois, Perón sai vitorioso e intocável das eleições presidenciais. Com uma política de culto a sua imagem e à de Evita, sua amante, criando um quadro consideravelmente estável de poder. Seu governo popular, por mais que autoritário, rendeu-lhe ainda uma reeleição, com 62% dos votos e grande aprovação de mandato. Mesmo após sua deposição em 1955, ele continuou sendo uma figura de suma importância na política do seu país, levando a uma nova eleição pouco antes de sua morte.

Praça de Maio tomada por manifestantes pró-Perón

 

Em 11 de novembro de 1951, Perón seria reeleito com 62% dos votos, mas foi deposto em 19 de setembro de 1955. Após exílio de 18 anos, candidatou-se novamente, numa chapa com a mulher Maria Isabel, a Isabelita, vencendo as eleições de 23 de setembro de 1973 com 60% dos votos. Seu último mandato seria curto: ele faleceu em 1º de julho de 1974. Seu governo foi marcado pela perseguição aos opositores, fechamento político por parte do Executivo e autoritarismo militar.


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