Em 1995, o prestigiado jornalista estreava no SBT e conversava com o ex-presidente pela primeira vez após a renúncia
Redação Publicado em 18/04/2021, às 09h00
Em 21 de outubro de 1993, era revelado, pela primeira vez na televisão brasileira, o crime de caixa dois; PC Farias batia o recorde de maior audiência da história do Jornal Nacional ao relatar para o Brasil detalhes sobre sua vida como foragido e sua participação como braço direito do ex-presidente Fernando Collor de Mello, que havia renunciado no ano anterior durante um processo de impeachment.
As confissões e explicações do tráfico de influências e corrupção no governo caíram como uma bomba para a imagem do ex-presidente, reascendendo a cobertura midiática do caso e, posteriormente, resultando na extradição de Paulo César ao Brasil e em sua prisão, logo no mês seguinte. Collor, que havia perdido seus direitos políticos nos oito anos seguintes a aprovação do impeachment, decidiu se isolar.
Mesmo absolvido pelo Supremo, praticou um exílio voluntário em Miami, nos Estados Unidos, visto que a medida da suspensão política não foi anulada pela Justiça.
Assim, permaneceu sem dar entrevistas por quase dois anos — até que Roberto Cabrini, o mesmo jornalista que descobriu o paradeiro de PC, decidiu convidá-lo para passar os fatos à limpo.
A negociada entrevista marcava não apenas o retorno do político na mídia, mas era a estreia de Cabrini no SBT. Para isso, uma grande reportagem foi preparada, chegando a coletar depoimentos de PC na cadeia, em Maceió, e contratar uma pesquisa pública para responder se os brasileiros, dois anos após o estopim da queda, gostariam de ter Collor de volta no cenário político nacional.
Dessa maneira, Cabrini surgiu no SBT Repórter na noite de 29 de agosto de 1995, iniciando a conversa na Casa da Dinda, residência onde o Fernando morou durante o mandato, e viajando até os Estados Unidos para mostrar sua rotina de caminhadas, compromissos sociais e, principalmente, obtendo uma entrevista exclusiva.
Entre negativas e pessoalidades, Collor demonstrou segurança para falar sobre sua família, que em menos de um ano, havia perdido a mãe Leda e o irmão Pedro — este, em especial, havia dado detalhes sobre os esquemas de Fernando em uma histórica edição da revista Veja. O ex-presidente só demonstrou indignação em um momento: quando foi indagado sobre a cobertura da imprensa.
Cabrini iniciou as perguntas sobre os principais boatos que foram especulados a respeito de Collor durante o mandato; as suposições de que o irmão havia o denunciado por uma possível traição da esposa Thereza Collor, problemas com cocaína e um suposto apelido de “Fernandinho do Pó” durante a juventude. O mais alto momento de fúria se deu quando perguntado sobre sua saúde mental.
O repórter citou uma matéria do jornal Folha de S. Paulo onde o jornalista Gilberto Dimenstein relata crises de depressão do presidente por dois anos, chegando a ser diagnosticado com PMT (psicose maníaco-depressiva) e medicado na boca então chefe do gabinete militar General Agenor Homem de Carvalho. Rindo, Collor pede o jornal em mãos e amassa após rasgar em duas partes.
Ele conclui afirmando que “uma merd* dessa, uma bost* como essa” é capaz de ser publicada em um grande veículo de influência social e solicita que o militar seja consultado. Com certeza, um marco da história da política e televisão brasileira.
Confira a conversa completa abaixo.
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