Jackie junto com Charlie Chaplin (à esq.) e junto aos seus pai (à dir.) - Divulgação
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Jackie Coogan, o ator mirim que processou a própria mãe em uma disputa milionária

Ajudado por Charlie Chaplin, a ação judicial revelou um escândalo e chegou a mudar as leis norte-americanas sobre trabalho infantil

Wallacy Ferrari Publicado em 03/05/2020, às 11h00

Nascido John Leslie Coogan em 1914, o ator mirim Jackie Coogan estava integrado no meio artístico de Los Angeles por toda a sua infância, visto que John Henry, seu pai, também era ator e frequentemente aproveitava o pequeno para suas peças teatrais. Conforme foi crescendo, Jackie se mostrava um garoto esperto e bem-humorado.

Foi descoberto por Charlie Chaplin em 1917, quando viu o garoto, com apenas 3 anos de idade, dançando e atuando em uma casa de vaudeville. Fez um contrato breve com o pai de Jackie para fazer um papel minoritário no filme Skinner’s Baby, onde não foi creditado. Apesar do momento rápido de fama, conquistou a confiança de Chaplin.

Com o bigodudo, Coogan passou a ser escalado em diversos filmes onde havia papéis para crianças. Em 1921, a comédia The Kid alavancou a imagem do ator, que passou a ser fortemente requisitado em Hollywood. Interpretando um garoto abandonado, conseguiu mesclar e emoção na obra que lucrou 45 vezes mais o valor de sua produção em bilheteria.

No ano seguinte, foi convidado pelo diretor britânico Frank Lloyd para interpretar o Oliver Twist no filme homônimo, sendo seu primeiro papel principal. Com apenas 8 anos de idade, se tornava não apenas uma das principais estrelas mirins de sucesso na indústria cinematográfica, mas também uma estrela da publicidade.

Sua imagem, fortemente comercializada, estampou embalagens e produtos de diversos segmentos direcionados ao público infantil, como discos, estatuetas, bonecas, manteiga de amendoim, artigos de papelaria e até uma linha de apitos. Com ótimos contratos arranjados pelo pai e uma tutoria especialmente desenvolvida para estimular os estudos e o psicológico, Jackie estava preparado para a vida pública.

Jackie em fotografia com a mãe e o pai / Créditos: Divulgação

 

A segurança financeira obtida por Jackie foi tamanha que, ao completar 10 anos de idade, deixou de lado a carreira para ingressar em escolas preparatórias e somente retomar a mesma após o fim de sua puberdade. Como não tinha responsabilidade legal sobre suas finanças, aguardou até a maioridade penal, que era de 21 anos.

Cadê meu dinheiro?

Meses antes de completar a idade necessária para ter acesso ao dinheiro que obteve trabalhando, o ator foi o único sobrevivente de um acidente automobilístico que matou seu pai, seu melhor amigo e mais dois companheiros de viagem. Como foi tutorado pelo pai, seus bens, estimados em cerca de US$ 3 milhões, também estavam sendo administrados por ele.

Ao completar 21 anos, em 1935, descobriu que sua fortuna não apenas estava bem menor que o estimado, mas que havia sido movimentada principalmente nos meses que sucederam a morte de seu pai. Jackie descobriu que sua mãe, junto ao padrasto, já havia gasto mais de US$ 2 milhões em carros de luxo, joias de diamantes e casacos de pele, entre outras regalias extravagantes.

O padrasto, Arthur Bernstein, não apenas tinha uma relação marital com a mãe, mas foi por anos o consultor financeiro da família e já tinha ciência da fortuna obtida pelo trabalho do ator mirim. Quando o escândalo foi divulgado em jornais americanos, a mãe alegou que a fortuna era injusta, visto que o garoto mal sabia que estava trabalhando e pensava estar ‘brincando em frente às câmeras’.

Jackie visita Charlie Chaplin no set de 'Tempos Modernos', em 1935 / Créditos: Divulgação

 

Jackie contra-atacou, processando os familiares em 1938, quando reuniu provas suficientes sobre a alegação. Porém, somando as despesas legais e os gastos da mãe, quando ganhou o processo, só conseguiu obter US$ 126 mil que restavam. A ocasião, no entanto, serviu de base para a Lei para Atores Infantis da Califórnia, que exige a reserva de ao menos 15% dos ganhos em uma conta dedicada ao seu futuro, registrando suas horas de trabalho, folgas e escolaridade.

A lei foi apelidada de Lei Coogan e foi apresentada no ano seguinte, sendo rapidamente aprovada. Visto que não tinha o dinheiro planejado para seus investimentos, pediu ajuda a Charlie Chaplin para retomar a carreira, que além de lhe dar mil dólares prontamente, o direcionou para a CBS, onde fez uma carreira sólida até morrer, em 1984.


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