Regado à muita bebida, uma chuva insistente e veteranos cruéis, o que seria um trote divertido entre mais de 200 alunos acabou virando um pesadelo
Pamela Malva Publicado em 22/02/2020, às 10h00
Não há nada mais comum e corriqueiro do que um trote na faculdade. Aquela festa animada, que comemora os novos estudantes e os parabeniza por terem passado no vestibular. Tinta guache, uma apresentação da bateria da universidade e, às vezes, pegar dinheiro no farol.
Um trote divertido precisa de poucos ingredientes para acontecer. O que ocorreu no dia 22 de fevereiro de 1999, no entanto, contou com alguns itens a mais. Uma piscina profunda, uma chuva insistente, altas doses de uísque, pinga e aguardente e veteranos animados até demais.
Essas foram as condições da morte de Edison Tsung Chi Hsueh, há exatos 21 anos. Entre a comemoração, no dia 22, e a descoberta do seu corpo no fundo da piscina do Clube Osvaldo Cruz, no dia 23, um sequência enevoada de eventos aconteceu.
Edison, que tinha 22 anos, acabara de passar no curso de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e estava feliz por sua conquista. Ele já tinha estudado na Santa Casa e fez a matrícula na nova faculdade nos dias 8 e 9 daquele mês.
No dia de sua morte, ele saiu de casa achando que teria suas primeiras aulas. "Ele não sabia. Eu também não”, falou seu pai, em entrevista na época. “Se eu soubesse, avisaria: cuidado com piscina, filho, você não aprendeu a nadar."
O trote da turma era uma festa a céu aberto, com mais de 200 estudantes, contando os muitos veteranos. Todos à beira da piscina — que tinha 5 metros de profundidade —, bebendo e, por vezes, usando lança-perfume. De repente, começou a chover e todos correram para um local coberto.
Foi nesse meio tempo que Edison caiu na piscina, segundo possibilidade apontada pelos legistas. Não se sabe, entretanto, como ele foi parar na água. Se foi empurrado, se caiu, ou se decidiu nadar. A teoria mais aceita é a primeira, que configuraria um homicídio, mesmo que culposo.
No corpo do jovem calouro, não foram encontrados sinais de agressão e ele estava completamente sóbrio quando morreu afogado, entre às 14h e 16h do dia 22. Alguns alunos voltaram a mergulhar na água naquele dia, mas não viram o corpo do colega — segundo testemunhos, a piscina estava turva, devido à tinta.
O que a polícia sabe, entre todas as dúvidas que envolvem o caso, é que o trote foi, de fato, bastante violento. Após o ocorrido, calouros escreveram 68 cartas à mão, contando sobre a festa. Edison aparece em três delas.
Em muitos dos textos, os jovens narram que veteranos coagiam até mesmo aqueles que não sabiam nadar a entrar na piscina. “Havia mais de 100 pessoas na água”, conta uma das cartas. “Não consigo entender como uma pessoa com tais sentimentos de maldade possa vir a ser um médico”, lamenta outro calouro.
Após a morte de Edison, a USP se viu forçada a tomar algumas providências. Desde aquele dia, trotes são proibidos em quaisquer campi e um Disque-Trote e um aplicativo foram criados. Até hoje, a família do jovem acredita que ele foi assassinato e procura por respostas, mesmo duas décadas mais tarde.
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