Capa do filme 'Infiltrado na Klan', 2018, que narra a história de Ron Stallworth - Divulgação/ Universal Pictures
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Infiltrado na Klan: A história do policial negro que inspirou o filme

Neste domingo, 26, passa na Globo o longa que retrata a história real de Ron Stallworth, um homem negro que conseguiu passar meses infiltrado na KKK

Fabio Previdelli Publicado em 15/05/2020, às 10h00 - Atualizado em 25/11/2023, às 12h58

Neste domingo, 26, irá passar na emissora Globo o filme "Infiltrado na Klan", que foi lançado em 2018. A produção, que é baseada em fatos reais, será exibida no quadro "Domingo Maior", tendo início após a meia-noite. 

Dirigido pelo aclamado Spike Lee e estrelado por John David Washington e Adam Driver, o longa-metragem é inspirado na história real do policial negro Ron Stallworth, que conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan durante nove meses, contando sobre o episódio em seu livro de memórias, "Black Klansman". 

Neste curto período, o detetive conseguiu se aproximar de um dos membros de alto calão da organização supremacista, David Duke, ganhando sua confiança e chegando ao ponto em que tinha conversas constantes com o homem via telefone.  

Já para os encontros presenciais, ele enviava um colega no seu lugar, Chuck (interpretado por Driver no filme), que era um policial branco e ficou com a tarefa de se passar por Ron em frente à KKK. 

Os superiores de Stallworth inclusive chegaram a tentar abafar a sua investigação inédita, mas, àquele ponto, já era tarde demais: ele havia descoberto a identidade de alguns membros com cargos em órgãos governamentais, uma informação valiosíssima. 

Confira abaixo o trailer do filme, que usa do humor para contar a história repleta de tensão: 

O caso 

Durante sua ascensão, a Ku Klux Klan, sem saber, deixou um negro entrar em sua organização. Ron Stallworth, um policial do Colorado, Estados Unidos, não imaginou que seria tão fácil enganar o grupo de supremacistas brancos que tanto odiavam sua cor e origens. No entanto, seu maior trabalho seria manter seu disfarce.

No verão de 1972, quando Ron Stallworth tinha apenas 19 anos, ele se mudou de El Paso, no Texas, para Colorado Springs, no Colorado. Como o jovem já tinha interesse na carreira policial, se matriculou em um programa de cadetes que visava atrair grupos minoritários para o departamento. Assim, ele acabou sendo o primeiro cadete negro a ingressar no projeto.

Apesar da façanha, Ron queria algo maior e desafiador, e desde então se interessou pelos trabalhos secretos. Sua primeira chance de trabalhar disfarçado foi quando Stokely Carmichael, ativista dos Panteras Negras, foi convidado para discursar no Colorado. Pelo seu ótimo trabalho, Ron foi designado a trabalhar na seção de inteligência de seu departamento.

Ron Stallworth em 1970 / Crédito: Wikimedia Commons

 

Parte de seu trabalho era procurar nos jornais algo que valesse a pena ser investigado. Em um jornal de 1978 ele viu um anúncio que procurava membros para um novo trabalho na KKK. E assim começaria sua árdua investigação.

Sem saber o quão sério era o anúncio, ele decidiu escrever uma carta para o grupo sob o disfarce de um homem branco. Apimentando a carta com discurso de ódio contra negros, judeus, mexicanos e asiáticos, Stallworth disse que estava pronto para escrever uma nova história no país. Porém, ele havia cometido um erro: assinar seu verdadeiro nome no bilhete.

Por sorte, o equívoco acabou passando despercebido e agente recebeu uma ligação cerca de uma semana depois. Era o organizador local do grupo supremacista. Usando a mesma retórica, ele decidiu que Stallworth era exatamente o que eles precisavam. Assim, Ron estava dentro do plano.

Mas havia um problema crucial, ele não poderia comparecer às reuniões. Assim,  recrutou um colega oficial, Chuck, para atuar como a versão branca de Ron Stallworth. Ao longo da investigação, que durou sete meses, houve apenas uma suspeita sobre o Ron branco.

Em uma ocasião, depois da primeira reunião em que Chuck apareceu, Ron ligou para o organizador local e ele questionou por que sua voz soava diferente pessoalmente. O policial disse que estava com um problema nasal, mas o membro da KKK disse entender o problema.

Mas algo mais sério estava prestes a colocar sua cobertura em risco. David Duke, um dos grandes nomes da KKK, iria dar algumas entrevistas publicitárias em Colorado Springs e Ron foi designado para ser seu guarda-costas. Naquela época, eles já se falavam constantemente por telefone.

Ron Stallworth mostrando seu cartão de membro KKK / Crédito:  YouTube

 

Ron chegou a argumentar que o contato próximo com Duke poderia comprometer o caso e que sua voz seria reconhecida. Mas o chefe alegou que ele era o único da divisão de inteligência disponível para o trabalho.

Enquanto designado como guarda-costas, Stallworth disse a Duke que não acreditava em suas ideologias, mas que manteria o profissionalismo e o deixaria em segurança.  Ao apertar a mão do profissional, David não sabia que tinha acabado de cumprimentar um homem com que ele conversava constantemente. Duke chegou a concordar em tirar uma foto com Ron, mas quando o abraçou, tentou quebrar a câmera. Ron disse que se o tocasse, seria preso por agredir um policial.

O fim da investigação

David Duke não descobriu a identidade de Stallworth, mas a investigação terminou por um motivo diferente. O Ku Klux Klan pediu para que Ron fosse seu novo organizador, eles pensaram que ele seria o homem ideal para o trabalho, uma vez que ele provou ser um ‘klasman’ leal e dedicado.

Stallworth estava pronto para aceitar, mas seu chefe entrou em pânico e pediu para que a investigação fosse encerrada e ainda pediu que Ron parasse de atender as ligações, alterasse o número da linha telefônica e destruísse todos os relatórios.

Ron fez quase tudo o que lhe foi dito e encerrou a investigação. No entanto, ele não destruiu os relatórios, muito pelo contrário, tudo foi detalhado em cadernos. Outra lembrança mantida por Ron é sua carteirinha de membro da Klan, que foi assinado por David Duke.

Ron Stallworth continuou trabalhando como investigador pelas duas décadas seguintes, aposentando-se em 2005, mas permaneceu ativo como presidente do Conselho Consultivo Negro.

Ron Stallworth atualmente / Crédito: Wikimedia Commons

 

No ano seguinte, ele concedeu uma entrevista ao jornal Deseret News of Salt Lake City, no qual revelou todos os detalhes da infiltração. A investigação, que durou cerca de 9 meses, revelou que havia membros da Klan nas forças armadas e, inclusive, dois deles controlavam gatilhos para armas nucleares. Posteriormente, os dois homens acabaram sendo transferidos.

Stallworth publicou um livro em 2014, chamado 'Black Klansman', que relatava sua experiência como investigador da KKK. Em 2018, por sua vez, seria lançado o filme "Infiltrado na Klan". 

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