A regência de François Duvalier foi marcada por uma extrema violência e perseguição contra grupos opositores
Fabio Previdelli Publicado em 08/02/2020, às 10h00
De origem pobre, François Duvalier nasceu em 1907 na cidade de Porto Príncipe, capital do Haiti. Filho de um juiz de paz e uma padeira, ele se formou em medicina aos 27 anos — pela École de Médecine — e fez residência em alguns hospitais locais.
Sua profissão o aproximou da população mais carente do país ao trabalhar com prevenção em combate de doenças tropicais, como o tifo e a malária. Exatamente nesse período que ganhou o apelido de Papa Doc, ou doutor papai em tradução livre do francês.
Anos depois, se tornou Ministro da Saúde, mas não permaneceu muito tempo no cargo. Foi exilado por apoiar o presidente deposto Durmarsais Estimé. O período de deportação durou sete anos. Ao retornar ao país entoando um discurso populista contra a elite mulamba, Papa Doc ganhou7 o apoio dos negros e tornou-se presidente haitiano em 1957.
“Dê poder ao homem, e descobrirá quem ele realmente é”, essa máxima de Maquiavel se aplica como uma luva ao governo de Duvalier. Sua regência ficou marcada pela extrema violência e perseguição contra grupos opositores. Sua obsessão pelo poder foi vista com clareza no dia 2 de abril de 1964. Durante um discurso marcante, Papa Doc anunciou sua presidência vitalícia no país.
Os 14 anos de autoritarismo serviram para o tirano estabelecer alianças leiais, uma delas com a Milícia de Voluntários da Segurança Nacional, conhecidos como Tonton Macoute — nome que faz alusão a figura do bicho papão. A força paramilitar haitiana, que se inspirava no fascismo, aniquilou, perseguiu, caçou e prendeu centenas de jornalistas e civis que eram contra os pensamentos do déspota.
O ditador institui uma taxa obrigatória que deveria ser paga por toda população, sem exceções. A contribuição seria destinada a construção da Duvalierville, a cidade de Duvalier. Mas o montante jamais foi empregado no país, seu destino final foram as contas do líder em bancos no Haiti e na Suíça.
O sexto ano do médico ao comando do Haiti foi considerado o mais sangrento entre eles. Após seus filhos quase serem mortos em um atentado, o desejo de retaliação ferveu em suas veiais. Ele ordenou a execução de quaisquer pessoas que sejam suspeitas pelo ato, a ação também serviu como pretexto para as perseguições contra opositores aumentar.
Nas horas seguintes, centenas de pessoas são assassinadas, famílias inteiras são exterminadas. Além da extrema crueldade, dezenas de corpos são carbonizados depois que os guardas ateiam fogo nas casas que foram palco dos massacres.
Papa Doc era praticante fervoroso do vodu. Utilizou do pretexto religioso para construir um culto de exaltação em torno de si. Rumores da época sugerem que o ditador mandava arrancar a cabeça de seus inimigos para que ele pudesse conversas com suas almas em uma espécie de ritual macabro.
Sua empreitada violenta só teve um pontal final com o fim de sua vida. François Duvalier permaneceu no poder até o ano de 1971, quando faleceu com 64 anos. Seus 14 anos no poder serviram como legado a ser seguido por seu filho, Jean-Claude Duvalier. O Baby Doc comandou o país com as mesmas mãos de ferro de seu pai, durante longos 12 anos.
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