A decisão controversa e extrema revoltou todos os moradores da cidade francesa de Poitiers. Blanche acabou sendo solta, mas jamais voltou a se sentir livre
Fabio Previdelli Publicado em 10/11/2019, às 08h00
Em maio de 1901, o procurador-geral de Paris recebeu uma estranha carta declarando que uma importante família da cidade mantinha um segredo sujo. Apesar do bilhete escrito à mão estar sem assinatura ou indícios de quem o escreveu, ele decidiu investigar imediatamente o ocorrido devido aos detalhes cruéis e perturbadores.
Entretanto, quando a polícia chegou à propriedade dos Monnier, eles passaram por um difícil dilema: será que realmente havia algo estranho com a rica família que tinha uma reputação impecável?
Madame Monnier era conhecida na alta sociedade parisiense por suas obras de caridade — ela até recebeu um prêmio em reconhecimento por suas generosas contribuições. Já o filho dela, Marcel, se destacou na escola e trabalhava como um advogado respeitável.
Porém, os Monnier tinham um terceiro membro na família, se tratava de Blanche, a belíssima filha socialite que ninguém via há 25 anos. Descrita como “gentil e de boa índole”, a jovem simplesmente desapareceu no auge de sua juventude. Mas, na época, ninguém parece ter pensado muito nesse episódio estranho, e logo a família passou a viver como se nada tivesse acontecido.
A polícia fez uma busca habitual na propriedade dos Monnier e não encontraram nada fora do comum. Pelo menos era isso o que pensavam até alguém notar um horrível odor vindo de trás de um dos quartos, no andar de cima.
Após uma investigação minuciosa, descobriram que a porta havia sido trancada com cadeado. Percebendo que algo estava errado, os policiais arrombaram a fechadura e invadiram a sala, despreparados para os horrores que estavam prestes a presenciar.
O quarto estava escuro, um verdadeiro breu. A única janela havia sido fechada e escondida atrás de cortinas grossas. O fedor do cômodo era tão avassalador que um dos policiais ordenou que uma janela fosse aberta imediatamente.
Quando a luz do sol adentrou o local, eles notaram que odor horrendo vinha dos restos de comida apodrecendo no chão ao redor de uma cama decrépita, na qual uma mulher estava acorrentada.
Aquela foi a primeira vez que Blanche Monnier viu o sol em mais de duas décadas. Ela estava completamente nua e amarrada na cama desde seu misterioso desaparecimento. Incapaz de levantar para se aliviar, a mulher, estava coberta por seus dejetos e cercada por vermes que haviam sido atraídos pelos restos podres.
Os policiais ficaram tão impressionados com o cheiro de sujeira e a decadência do lugar, que não conseguiam ficar lá por mais de alguns minutos — enquanto Blanche sobreviveu ao local por todos esses anos.
Assim, ela foi imediatamente levada para um hospital. Já sua mãe e seu irmão foram presos. A equipe hospitalar relatou que, embora ela estivesse terrivelmente desnutrida — pesando apenas 15 quilos quando foi resgatada —Blanche apresentava bastante lucidez.
O motivo do cárcere
Conforme sua história ganhou notoriedade, descobriu-se o motivo de Blanche ser mantida em cativeiro por sua própria mãe. Na época, a jovem tinha finalmente encontrado um pretendente que lhe agradasse, mas ele não era o tipo de pessoa que uma família aristocrata esperava. Muito pelo contrário, era um advogado pobre e bem mais velho que a jovem socialite.
Embora sua mãe insistisse na escolha de um "marido adequado", Blanche se recusou. Em retaliação, madame Monnier trancou a filha em um quarto com cadeado até que ela cedesse à sua vontade. Mas a paixão da moça falava mais alto que a imposição da matriarca.
Com isso, os anos foram passando, mas a jovem se recusava a desistir. Mesmo depois que o escolhido dela morreu (fato que ficou longe de seu conhecimento), Blanche continuou trancafiada no quarto, tendo apenas ratos e piolhos como companheiros.
Ao longo das duas décadas, nem seu irmão nem quaisquer dos empregados da família levantaram um dedo para ajudá-la. Eles alegaram que tinham muito medo da matriarca e, por isso, resolveram não se arriscar.
Nunca foi revelado quem escreveu o bilhete que desencadeou o resgate de Blanche. Entretanto, existia um boato de que uma criada dos Monnier revelou o segredo da família para um namorado, que ficou tão horrorizado que sentiu a necessidade de contar a história para as autoridades.
Na época, a indignação pública foi tão grande que uma multidão enfurecida tomou o lado de fora da casa da tradicional família. O enorme baque por ser descoberta teria sido o principal motivo que levou Madame Monnier a sofrer de um ataque cardíaco — falecendo 15 dias depois da libertação da filha.
Apesar de finalmente ser solta, Blanche jamais voltou a se sentir livre. Ela sofreu com diversos e duradouros danos psicológicos decorrentes do seu período de cárcere. Blanche Monnier passou o resto de seus dias em um sanatório francês, morrendo em 1913, aos 64 anos.
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