89 anos atrás, nazistas saíam às ruas para exterminar outros nazistas, que já não eram mais úteis
Letícia Yazbek Publicado em 30/06/2019, às 07h01 - Atualizado às 09h50
Era noite de 30 de junho de 1934 quando Adolf Hitler, acompanhado por membros da Schutzstaffel (SS) e da Gestapo, invadiu um hotel na cidade de Bad Wiessee, na Baviera, e ordenou a morte de pelo menos 85 filiados ao Partido Nazista considerados possíveis opositores no futuro. Até o dia 2 de julho, outras centenas de pessoas, incluindo comunistas e antigos inimigos, foram presas e executadas.
Nessa data, o líder alemão já tinha sua autoridade bem consolidada -- em janeiro de 1933 ele havia sido nomeado chanceler, e em março do mesmo ano o Reichstag aprovara a Lei Habilitante, que lhe fornecia poderes ditatoriais.
Investindo na militarização, Hitler criou tropas fortemente treinadas e equipadas, como a Sturmabteilung (SA, algo como Destacamento Tempestade), organização paramilitar ligada ao Partido Nazista que funcionava como uma milícia intimidando adversários políticos como comunistas e sociais democratas.
Liderados pelo capitão Ernst Röhm, os membros da SA, chamados de camisas pardas devido à cor do uniforme que usavam, eram conhecidos por travarem violentas batalhas de rua contra os comunistas.
Desde que chegara ao poder, Hitler demonstrava insatisfação com relação ao desempenho da SA e aos rumos que a organização estava tomando. Röhm apoiava abertamente a ideia de uma Segunda Revolução, sob o seu comando, que teria o objetivo de redistribuir a riqueza entre as várias camadas da população.
Ele também desejava transformar seus três milhões de soldados no núcleo do Exército Nazista, o que ameaçava o Reichswehr, o Exército oficial alemão, e seu líder, Werner von Blomberg.
Além disso, Röhm não era bem visto entre os líderes nazistas. Era acusado de ser fraco e egoísta – a qualquer momento, suas ambições pessoais poderiam causar uma revolta popular e derrubar o regime. Sua homossexualidade, ignorada enquanto ele fora útil, agora era levantada como uma escandalosa acusação.
Para acabar com o problema e evitar um choque ainda maior com outros militares, Hitler planejou um expurgo contra a SA, atacando diretamente sua própria organização paramilitar.
Em 24 de junho, o chefe da SS, Heinrich Himmler, e o chefe de segurança da SS, Reinhard Heydrich, falsificaram documentos que sugeriram que Röhm planejava um golpe para derrubar Hitler. Em seguida, listaram todas as pessoas que poderiam ameaçar o Partido e, por conta disso, deveriam ser eliminadas. Em 27 de junho, Hitler reuniu um grupo especial para a operação e planejou todos os passos.
Na noite de 30 de junho para 1º de julho, o grupo armado de Hitler seguiu para um hotel em Bad Wiessee, onde havia sido marcado um encontro entre os membros da SA. A maioria dos chefes e soldados foi retirada de suas camas, presa e executada no local.
Röhm foi detido pelo próprio Hitler – que, marchando para dentro de seu quarto, gritou "você está preso, seu porco!" – e levado a uma prisão em Munique. Em 1º de julho, Röhm recebeu um revólver e 10 minutos para cometer suicídio, ao que teria dito “se eu serei morto, deixe o Sr. Hitler fazer isso”. Quando o tempo esgotou, um oficial da SS matou Röhm com um tiro à queima roupa.
O líder nazista aproveitou o expurgo para perseguir antigos inimigos e opositores. Entre eles estava o vice-chanceler Franz Von Papen, que havia discursado contra o nazismo. Preso, ele foi liberado e proibido de fazer qualquer referência ao regime. Mas o secretário de Papen, Herbert von Bose, e o autor de seu discurso antinazista, Edgar Jung, foram perseguidos e mortos. Gregor Strasser, ex-nazista que deixou o Partido em 1932, também foi executado.
Ao final de 2 de julho, pelo menos 85 pessoas já haviam sido mortas e centenas aprisionadas. Posteriormente, o episódio ficou conhecido como Noite das Facas Longas, referência ao verso de uma das canções da SA.
Após o expurgo, o presidente Hindenburg deu os parabéns ao chanceler pela “decisão e coragem exemplar” e por ter agido rapidamente contra seus inimigos. A SA foi reformulada e passada ao comando de Victor Lutze. A partir de então, reprimir condutas consideradas ameaçadoras se tornaria um padrão do regime nazista.
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