Cultuada como modelo de mãe e esposa, ela batalhou pelo descanso eterno de Osíris
Redação Publicado em 18/09/2019, às 08h00
Morto sem deixar descendentes, Osíris foi o pai do grande deus Hórus. Se você não notou nada de estranho, leia novamente. De acordo com a mitologia egípcia, Osíris teve um filho depois de morto. Mas vamos começar pelo começo. Quatro filhos tiveram os deuses primordiais Nut (o céu) e Geb (a terra): Osíris, Set, Ísis e Néftis. Eles se juntaram em casais: Osíris e Ísis, Set e Néftis.
Osíris, o mais velho, tornou-se rei dos homens, o primeiro e melhor faraó de todos, que ensinou a agricultura, as leis, a cerveja, a civilização em geral. Invejoso de todo o louvor que os homens prestavam a ele – ou, em outras versões, da traição de sua mulher/irmã e do irmão, que geraram Anúbis – Set decidiu matá-lo. Tapeou Osíris para fazê-lo entrar num sarcófago, fechou a tampa e o jogou no Nilo.
Osíris morreu de asfixia e o caixão foi parar longe. A esposa de Osíris, Ísis, teve que rodar meio mundo para achar o corpo. Estava dentro de uma árvore, no Líbano. Deusa da magia, ela tinha os meios para ressuscitá-lo, mas, antes que pudesse, Set o partiu em dezenas de pedaços e os espalhou pelo Egito.
A solução
Enquanto Set reinava como o pior faraó da História, Ísis e Néftis, que não concordava com a atitude do marido, foram atrás das partes de Osíris e as prenderam com ataduras.
Mas faltava uma pecinha fundamental: seu pênis havia sido comido por um peixe-elefante do Nilo (medjed) – um peixe real, pequeno e com uma tromba. Por essa história, peixes assim eram sagrados e não iam parar na mesa dos egípcios.
Mas não seria isso que pararia Ísis. Ela fez um pênis em ouro, encaixou na parte que faltava, e jogou seu feitiço de ressurreição. Assim, Ísis engravidaria, mas o feitiço era provisório. Morto novamente, Osíris se tornaria a primeira múmia – e seria representado assim, com a pele verde e parcialmente enfaixado, um morto-vivo.
O deus iria parar no Duat, a terra dos mortos, e seria o eterno faraó desse domínio. Ísis ficou neste mundo, grávida de Hórus. Que cresceria para destronar o tio e se tornar o deus dos faraós enquanto vivos – em morte, o cargo passava para o pai.
Faraós honrariam a tradição dada pelos deuses, seus ancestrais, casando-se com as irmãs. E as múmias seriam uma parte central da religião egípcia, representando o desejo de renascimento no Duat. Quanto a Ísis, se tornaria provavelmente a divindade mais popular do mundo antigo. Seu culto era tão forte que foi adotado por gregos e romanos. Imagens dela circulavam por todo o mundo greco-romano, de uma mulher solitária e amamentando um bebê melancolicamente. Esse seria o protótipo para a Pietá, a representação da Virgem Maria com Jesus.
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