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Religião

Heaven's Gate: Neste dia, em 1997, acontecia um dos maiores suicídios em massa dos EUA

O suicídio coletivo era uma tentativa de embarcar numa nave alienígena. Mais de 30 corpos foram encontrados em uma mansão em San Diego

Thiago Lincolins e Letícia Yazbek Publicado em 21/11/2019, às 14h00 - Atualizado em 26/03/2023, às 12h16

Era 26 de março de 1997 quando policiais de San Diego, Califórnia, receberam uma denúncia anônima: dezenas de corpos estavam numa mansão de um bairro nobre da cidade. Quando chegaram no local, deparam-se com algo mais inacreditável do que imaginavam: 39 corpos, já em estado de decomposição, vestidos de preto, cobertos por um grande pano roxo.

Ao lado de cada cadáver, uma mala, como se estivessem preparados para partir. O mundo estava diante do maior suicídio em massa da História dos EUA (a tragédia de Jim Jones foi na Guiana).

Os corpos encontrados naquele domingo eram de membros da seita Heaven's Gate (Porta do Paraíso), liderada por Marshall Applewhite, que havia sido um professor universitário, casado e pai de dois filhos. Até, numa epifania, passar a acreditar que era a reencarnação de Jesus Cristo. Isso renderia uma passagem por uma clínica psiquiátrica de Houston, mas o efeito foi o posto.

Lá, ele conheceria a enfermeira Bonnie Lu Nettles, que o convenceu de que tal encontro havia sido premeditado por alienígenas e que ambos foram escolhidos a dedo e enviados a Terra como mensageiros de Deus para cumprir profecias bíblicas.

Marshall Applewhite e Bonnie Lu Nettles / Crédito: Wikimedia Commons
 

Adotando os pseudônimos Bo e Peep e Do e Ti,  passaram a afirmar entrar em contato com extraterrestres. Acreditavam que, quando morressem, ressuscitariam numa espaçonave. Eles escreveram panfletos que descreviam a reencarnação de Jesus como um Texano, em referência a Applewhite. Depois, visitaram igrejas e grupos espirituais para contar sobre suas identidades, mas não foram bem recebidos.

Por volta de 1974, Marshall e Bonnie passaram a recrutar discípulos, que chamavam de tripulantes. O grupo acreditava que a Terra passaria por uma mudança, e que a única forma de sobreviver seria deixar o planeta. Os escolhidos para ascender ao novo nível de evolução deviam se livrar de todas as características humanas, que os ligavam à Terra.

Quando Bonnie Nettles morreu, em 1985, Applewhite manteve o grupo unido — eles desistiram dos bens materiais e viviam em comunidade, compartilhando tudo. Applewhite e outros membros do sexo masculino passaram por processos de castração, deixando clara sua renúncia ao sexo.

Com o surgimento da internet, o grupo começou a usar a nova tecnologia para compartilhar suas crenças com mais pessoas. Da internet eles também tiraram seu meio de sobrevivência — desenvolviam websites para clientes, sob o nome de Higher Source (Fonte Maior).

Em março de 1997, 39 membros, com idades entre 26 e 72 anos, vestiram camisas pretas, calças pretas de ginástica e tênis novos Nike. Nos ombros, colocaram patches que traziam a frase Heaven's Gate Away Team (Equipe de Expedição da Heaven's Gate) — uma referência a Star Trek: quando Spock, Kirk e amigos saíam em missões, estavam num away team.

Então, tomaram fenobarbital misturado com suco de maçã, colocando tudo para dentro com a ajuda de vodka. Deitaram em suas beliches, de barriga para cima, e colocaram sacolas plásticas nas cabeças, para induzir a asfixia. Cobriram a cabeça e o tronco com um pano roxo, e aguardaram a tão esperada viagem.

As autoridades acreditam que os suicídios aconteceram em três dias consecutivos. Quinze membros teriam falecido no dia 24 de março, mais quinze no dia 25 e os últimos nove no dia 26. Applewhite foi um dos últimos a falecer — duas mulheres continuaram vivas após sua morte e foram as únicas encontradas sem sacolas plásticas nas cabeças.

Depois do suicídio em massa, Heaven's Gate ficou conhecido como um dos maiores cultos do século 20, principalmente por ser o primeiro culto conhecido a usar a internet para disseminar suas crenças. O site da Heaven’s Gate continua no ar, da mesma forma que era em 1997.

É mantido por Mark e Sarah King, casal que foi membro do grupo durante 12 anos, com o objetivo de deixar a informação disponível para quem quiser aprender. "De certa forma, é como plantar sementes para o futuro, para que as pessoas se familiarizem com o Próximo Nível e se preparem para um eventual retorno", afirmaram os administradores.

Site da Heaven's Gate continua no ar / Crédito: Divulgação

Um dos textos que explicam o propósito do grupo fala sobre o suicídio como forma de atingir um outro nível de existência. “Nós discutimos esse tópico (sobre deixar esse corpo sobre essas condições) e nos preparamos mentalmente para essa possibilidade. No entanto, esse ato certamente não merece séria consideração, e esperamos que não mereça no futuro.”

Diferente do caso de Jim Jones, o sucídio parece ter sido sem coerção, nem havia crianças entre as vítimas.

Estados Unidos História suicídio seita San Diego Heaven's Gate cometa grupo suicídio coletivo

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