Leopoldina amava Pedro, que amava Domitila, que amava ser sua favorita
M.R. Terci Publicado em 13/10/2019, às 09h00
Demonão! Era assim que o imperador Dom Pedro I assinava as cartas endereçadas à sua amante, Domitila de Castro, a marquesa de Santos, a quem chamava Titília.
Muitas vezes, ele usava a alcunha carinhosa de Fogo Foguinho, incluindo, nas suas missivas, desenhos do próprio pênis ou anexando pelos pubianos, considerados à época, prova de grande fidelidade e compromisso. “Quero ir aos cofres! ”, assim penejava o pai da nação quando intimava a marquesa aos finalmentes.
Não é de hoje que as indiscrições do imperador, a força da marquesa e a triste condição da paciente imperatriz, pudica e diminuída publicamente por conta da infidelidade espalhafatosa do marido, são assunto de nobres e plebeus. Os arquivos do Museu Imperial, em Petrópolis, estão repletos de cartas picantes, apaixonadas e escandalosas. Este foi, sem dúvida, o triângulo amoroso mais conhecido da história dos afetos brasileiros. Leopoldina amava Pedro, que amava Domitila, que amava ser sua favorita.
Algumas cartas, contudo, revelam o desejo de poder da graciosa e despudorada Titília, a mulher mais influente do império enquanto durou o romance. A marquesa não media palavras em suas respostas. Possuía uma postura vigorosa e autônoma e repelia, constantemente a volúpia do garboso Demonão.
O homem mais forte do reino, proclamador da Independência, viciado em sexo, chorava de saudades quando não era correspondido. Criava versinhos infantis e lhe enviava bilhetes duas vezes ao dia.
Já as missivas da imperatriz, no final da vida, revelam uma mulher que fala de depressão decorrente do adultério do marido. Leopoldina dizia ter horror a sexo e desde o dia em que se casaram, a imperatriz nutriu a esperança de que Pedro fosse gostar dela por suas qualidades morais, não pela cama e nem pela beleza física. O imperador dizia, então, que fazia amor de matrimônio com Leopoldina e amor de devoção com Domitila.
O povo logo se opôs ao romance extraconjugal de Dom Pedro I e a marquesa de Santos passou a ser tratada como inimiga número um da nação. Tal era esse sentimento que, quando Leopoldina morreu, uma turba foi à casa de Domitila com o intuito de apedreja-la.
Fogo Foguinho, apesar da imagem política desgastada e das pressões do ex-sogro, que o chamava publicamente de canalha, conseguiu se casar novamente com uma jovem de 16 anos chamada Maria Amélia. A garota, sem sangue real e sem prestígio na Europa, não trouxe benefício político algum, mas quando o Demonão viu chegar aquele pedaço de mal caminho ao palácio, terminou com a marquesa.
M.R. Terci é escritor e roteirista; criador de “Imperiais de Gran Abuelo” (2018), romance finalista no Prêmio Cubo de Ouro, que tem como cenário a Guerra Paraguai, e “Bairro da Cripta” (2019), ambientado na Belle Époque brasileira, ambos publicados pela Editora Pandorga.
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