A francesa Marguerite Steinheill, envolvida em diversas mortes - Wikimedia Commons
Personagem

Da morte de um político ao marido que aceitava traições: a intensa saga de Marguerite Steinheil

Conhecida pelo charme, a Femme Fatale colecionou uma grande quantidade de amantes

Caio Tortamano Publicado em 03/07/2020, às 10h00

De uma família rica da França (em um território que, na época, era do Império Alemão), Marguerite Japy sempre foi muito charmosa, e, na infância, se livrava facilmente dos problemas através da simpatia.

Aos 17 anos de idade, toda essa graça chamou a atenção do Tenente Edouard Sheffer, amigo de seu irmão, que logo se apaixonou por ela. Porém, o pai da menina, Edouard Japy, não permitia que eles se encontrassem. Como consequência, o caso acabou esfriando, mesmo depois da morte de seu pai, em 1888.

No ano seguinte, Meg foi visitar a irmã, Juliette, ao sul da França. Lá, seu cunhado lhe apresentou um amigo pessoal, o pintor Adolphe Steinheil, que logo se apaixonou pela moça, mesmo sendo 20 anos mais velho. Os dois não demoraram para marcar o casamento. 

Os dois tiveram uma única filha, Marthe, em 1891. Porém, o casamento não era mais o mesmo, e a relação entre eles não era tão boa. Meg até cogitou pedir divórcio do artista, mas acabou desistindo da ideia e se ateve ao estilo de vida parisiense, mesmo que vivendo praticamente separada de seu marido.

Isso fez com que a popularidade de Meg atingisse níveis estratosféricos, e o salão de sua casa passou a ser o ponto de encontro da alta sociedade, com pintores, compositores, filósofos e políticos aglomerados para apreciar a beleza e graça da moça.

Pintura de Marguerite Steinheil / Crédito: Wikimedia Commons

 

A partir desse momento, ela passou a ser conhecida por seus casos amorosos com diversos desses frequentadores, muitos dos quais — talvez por sentirem culpa — compravam as obras de Adolphe, financiando o estilo de vida da amante.

Em 1897, Felix Faure, presidente da França, caiu nos encantos de Meg, e garantiu ao marido dela trabalhos suficientes para que o artista se sentisse bem em guardar esse pequeno segredo. Mas isso durou somente dois anos.

Em 1899, Meg foi até a residência oficial do presidente francês, para, supostamente, ajudar Faure a escrever a sua biografia. Pouco tempo depois de ter adentrado os aposentos do líder político, gritos desesperados vieram de onde estavam os dois, chamando atenção dos criados do palácio. Felix estava morto, vítima de um ataque cardíaco.

Duas versões

Existem duas versões para o que foi encontrado pelos funcionários quando entraram no quarto. A primeira, é uma versão insólita, em que o presidente estava com suas calças abaixadas, enquanto a amante estava encabuladamente se vestindo.

Já a mais explícita aponta que o ataque cardíaco aconteceu enquanto ela fazia sexo oral no político, e as mãos do morto acabaram se contraindo e prendendo o cabelo da moça, obrigando as testemunhas a cortarem o cabelo dela. A identidade da mulher com quem o presidente se relacionava durante sua morte foi preservada por um considerável tempo.

Recomeço

Aparentemente, o cargo político era algo que chamava a atenção de Meg, que se relacionou com o futuro primeiro-ministro Aristide Briand. Porém, em 1905, seu amante era um viúvo rico chamado Emile Chouanard, que propôs a ela que os dois se mudassem para uma casa no interior. Ao afirmar que pagaria todas as suas despesas, ela comprou a ideia. Seu marido ficou na cidade morando só, mas ainda legalmente casados.

Em 1907 a relação acabou, provavelmente pela falta de interesse em uma vida de casada. Com Emile fora de sua rotina, ela se engraçou com Emmanuel de Balincourt, a quem ela se encantou quando os dois estavam no mesmo trem. Emmanuel começou a se relacionar com a mulher, mas desistiu quando conheceu o marido de Meg, a quem ele teve pena uma vez que era um homem muito simpático.

O término impactou a mulher, que já estava ao final de seus trinta anos. Por sorte, ela encontrou outro viúvo extremamente rico, Maurice Borderel, que não se importava em pagar as contas de sua amante. A relação do casal ia aparentemente bem, porém, depois que ela sugeriu um casamento, ele recuou uma vez que não queria arcar com todas as burocracias que exigiria o casamento e a separação, entretanto, seguiram juntos.

Na manhã do dia 31 de maio de 1908, porém, tudo mudou. O ajudante da casa dos Steinheil acordou naquela manhã e ouviu barulhos vindos do quarto da filha, Marthe, mesmo ela não estando em casa. Quando entrou no cômodo, encontrou Meg amarrada na cama, completamente nua e avisando que haviam bandidos na casa.

O mordomo gritou por ajuda pela janela. Em seguida, autoridades entraram correndo na casa, mas não encontraram nenhum ladrão, mas sim dois mortos: Adolphe e Emilie, mãe de Meg. A sobrevivente disse que a casa tinha sido atacada por ladrões, e que ela tinha sido desacordada por um do grupo (três homens e uma mulher ruiva) e somente acordou na manhã seguinte, no estado em que havia sido encontrada.

Os assassinatos levantaram dúvidas sobre a inocência de Meg, já que sua versão não explicava o porquê de ela ter tido sua vida poupada enquanto sua mãe foi morta, além da ausência de outros furtos em peças de prata e joias, por exemplo.

Diversas acusações

Mas também, algumas evidências corroboravam com a versão. O traje supostamente utilizado pelos ladrões foi roubado de um teatro próximo a sua casa. Depois disso, Meg passou a acusar diversas pessoas ao seu redor, incluindo o mordomo que encontrou ela na manhã seguinte, e o filho de sua governanta, ambos foram inocentados.

Com isso, Meg foi presa em novembro de 1908, e sua governanta (como forma de vingança) contou para as autoridades a respeito dos diversos casos extraconjugais da mulher, levando os policiais a acreditar que a morte de seu marido seria para permitir que se casasse com Maurice Borderel.

Multidão em frente ao julgamento de Steinheil / Crédito: Wikimedia Commons

 

Passou um ano presa enquanto seu caso seria julgado. No dia do episódio, somente cem lugares foram liberados para o júri, todos muito disputados. O juiz estava determinado a condenar a socialite, e ela estava determinada a se salvar (assumindo seus casos extraconjugais e mentindo sobre o fato de seu marido saber das traições).

Todos seus amantes evitaram aparecer no tribunal, para não prejudicar a amante. Foi entendido que não havia motivo para ela matar a própria mãe, e que o motivo para matar seu marido era demasiado e fraco. O veredito foi de que ela era inocente de todas as acusações.

Depois do julgamento, Meg se mudou para Londres para se esquivar da atenção da mídia e da sociedade. Lá, ela trabalhou em sua autobiografia, em que contava do momento da morte do presidente francês. Em 1917, se casou com o militar Robert Brooke Campbell Scarlett com quem esteve até a morte dele, em 1927. Morreu em uma casa de repouso para idosos aos 85 anos.


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