O insólito país, considerado o menor do mundo - Wikimedia Commons
Europa

Principado de Sealand: a bizarra história do menor país do mundo

O pequeno forte, declarado país pelo britânico Roy Bates, tem até governo em exílio e já passou por diversas situações, no mínimo, cômicas

Redação Publicado em 10/11/2019, às 08h00

Após a Segunda Guerra Mundial, as antigas potências europeias — principalmente Inglaterra e França — viram grande parte de suas antigas colônias declararem independência. Grandes territórios na Ásia e na África rejeitaram de vez o domínio de suas antigas metrópoles, expulsando-as e declarando sua soberania. Grandes países modernos se formaram nessa época, como a Índia.

Para os britânicos, o processo foi ainda mais longe. Em 1965, Roy Bates, um excêntrico major do exército inglês, invadiu um dos fortes construídos pelo país para defesa no oceano e se mudou para lá com sua família. O forte ficava em águas internacionais, mas, quando o governo estendeu os limites do país, Bates precisava de uma nova sede.

Encontrou, então, as Rough Towers, outro forte a dez km da costa britânica, bem além dos três km de águas territoriais do Reino Unido. Em 1967, Bates declarou a independência do forte, batizando-o Principado de Sealand. Com apenas 4000 metros quadrados, é o menor país do mundo.

Alguns anos mais tarde, o autodeclarado príncipe instituiu uma constituição com sete artigos, bandeira, brasão de armas e até moedas de ouro e prata (sem valor nenhum devido à falta de reconhecimento). Passaportes eram vendidos àqueles que Bates julgava terem colaborado com a causa de Sealand.

Nascia, assim, o menor país do mundo. Após um incidente em que Michael Bates, filho do Príncipe Roy, deu tiros de alerta para afugentar trabalhadores britânicos que vinham consertar uma boia, a Inglaterra tentou expulsá-los, apenas para descobrir que não tinha jurisdição sobre o local.

Sealand ainda existe, e outras peculiaridades permeiam sua história: em 1978, um empresário alemão, Alexander Achenbach, se autoproclamou Primeiro Ministro de Sealand e, aproveitando um momento em que Roy Bates não estava presente, lançou uma invasão ao forte com alguns mercenários alemães e holandeses, chegando com helicópteros, barcos e jet skis.

Achenbach fez Michael como refém, no entanto, ele foi capaz de inverter a situação utilizando algumas armas escondidas pelo forte, e, dessa vez, quem ficou cativo foi o alemão. O empresário foi condenado por traição contra Sealand (ele possuía passaporte) e só seria liberto mediante pagamento de 75 mil Marcos Alemães, aproximadamente 23 mil libras esterlinas na época. A confusão levou a Alemanha Ocidental a enviar um diplomata para a embaixada de Londres - lá foram informados que os ingleses não poderiam fazer nada. 

O diplomata alemão foi até Sealand resolver o imbróglio e conseguiu a soltura de Achenbach após negociações com o Príncipe. A visita do diplomata levou Roy Bates a alegar que isso se configurava como reconhecimento oficial da Alemanha Ocidental à existência e soberania de Sealand.

Achenbach, por sua vez, montou um governo em exílio, também conhecido como Governo Rebelde de Sealand. Isso porque ele não concordava com a ideia de Roy Bates de transformar a pequena ilha num cassino.

Posteriormente, Sealand viveu tempos de paz, sem maiores ocorrências. No final dos anos 90, os Bates confiscaram os passaportes emitidos nos anos anteriores, já que estavam sendo usados para lavagem de dinheiro em diversos locais do mundo. Em 2006, um incêndio atingiu o forte e uma pessoa teve que ser levada de helicóptero para o hospital de Ipswich, na Inglaterra.

Em 2007, o famoso site de downloads de torrents, The Pirate Bay, tentou comprar a ilha depois de sofrer duras sanções em seu país natal, a Suécia. O local tem poucas regulamentações acerca do uso da Internet e, por isso, foi usado por alguns anos como um data haven, uma espécie de paraíso fiscal de dados, através da empresa HavenCo.

O país também participa de diversas competições esportivas, apesar de não estar filiado a nenhuma associação em decorrência da falta de reconhecimento — e de não ter nem população suficiente para tal. Futebol, curling, minigolfe e arremesso de ovos (sim!) são algumas modalidades praticadas pelo lugar.

Em 2018, o nadador profissional Richard Royal teve seu passaporte carimbado em Sealand e nadou por 12 km até a costa britânica. Foi a primeira pessoa a ir de Sealand para a Inglaterra sem auxílio de quaisquer veículos, e, por isso, foi condecorado Cavaleiro de Sealand pelo Príncipe Michael.

Em 2012, o Príncipe Roy Bates veio a falecer por complicações causadas pelo Alzheimer. Seu filho, Michael, já era considerado o príncipe regente de Sealand desde 1999. Hoje, ele vive na Inglaterra e colocou Sealand à venda, mas ainda administra o pequeno país. O príncipe participa de convenções e congressos ao redor do mundo para falar sobre o seu país e outros semelhantes, aproveitando para vender passaportes, títulos de nobreza e moedas.

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