Lizzie foi a principal suspeita de cometer os assassinatos - Reprodução
Crimes

Há 129 anos, o caso Lizzie Borden escandalizava os Estados Unidos

A investigação chamou atenção da alta sociedade estadunidense durante o século 19 com um julgamento polêmico

Letícia Yazbek Publicado em 04/08/2021, às 15h00

Em junho de 1893, a alta sociedade americana voltava os olhos para um curioso caso julgado pela alta corte de New Bedfort, Massachusetts; Lizzie Borden, uma garota nascida em 19 de julho de 1860 numa família rica do condado de Fall River, era colocada em frente a um júri sob a suspeita de assassinar o pai Andrew Jackson Borden, junto de sua madrasta, Abby Durfee Gray.

Proprietário de estabelecimentos comerciais e atuante na gerência de bancos e instituições financeiras locais, o homem havia se casado com Sarah em 1866, três anos depois da morte da mãe biológica da filha. Lizzie, por sua vez, se dedicava junto a irmã mais velha, Emma, em atividades na comunidade religiosa de Fall River, dando aulas para crianças e imigrantes e ajudando nas organizações filantrópicas da igreja.

A tensão familiar, no entanto, teria aumentado por volta de 1890, quando Andrew deu diversas propriedades à família de Abby — sendo suficiente para causar desconfiança em uma comunidade inteira.

Emma e Lizzie Borden / Crédito: Domínio Público

O crime

Na noite anterior aos assassinatos, John Vinnicum Morse, irmão da mãe de Lizzie e Emma, visitou a família para discutir negócios com Andrew e foi convidado para passar a noite. Essa visita teria agravado a situação tensa entre os moradores.

Na manhã de 4 de agosto de 1892, a criada Bridget Sullivan estava limpando as janelas da casa quando Lizzie chegou correndo, dizendo que Andrew havia sido assassinado. Mais tarde, Bridget e Lizzie foram ao segundo andar e descobriram o corpo de Abby. Os dois haviam sido mortos por pancadas violentas provocadas pela mesma arma: um objeto pesado e pontiagudo.

Abby foi morta primeiro, entre 9h e 10h30. Ela havia subido para arrumar o quarto de hóspedes, onde John Morse passara a noite. De acordo com as investigações, foi golpeada na cabeça, acima da orelha, e caiu no chão.

Depois, o assassino a atacou 17 vezes, na parte de trás da cabeça. Enquanto isso, Andrew estava na cidade com John Morse. Ao voltar para casa, por volta das 10h30, se deitou no sofá para tirar um cochilo. Foi atacado com 11 golpes quando ainda estava dormindo.

Durante a investigação, a polícia encontrou no porão da casa dois machados, duas machadinhas e uma machadinha com o cabo quebrado, considerada a possível arma do crime. A análise da ferramenta concluiu que o cabo havia sido cortado porque estava sujo de sangue. No entanto, a arma do crime nunca foi confirmada.

Investigando a filha

Dias depois dos assassinatos, a Lizzie foi vista destruindo um de seus vestidos azul-claro. Ela disse que pretendia queimá-lo, pois havia derramado tinta nele. Testemunhas alegaram que Lizzie usava aquele vestido no dia dos assassinatos e que provavelmente ele estava manchado de sangue. Outros depoimentos contradisseram esse fato, que nunca foi comprovado.

No julgamento, em 5 de junho de 1893, a filha se mostrou calma e deu respostas consideradas estranhas e contraditórias a respeito dos acontecimentos da manhã em que os crimes aconteceram.

Embora os policiais estivessem convictos quanto à culpa de Lizzie, não encontraram nenhuma evidência que a ligasse aos assassinatos. Eles admitiram que, no dia dos crimes, não realizaram uma busca completa na casa porque a herdeira não estava se sentindo bem. Diante da falta de provas, ela foi inocentada, em 20 de junho.

Residência dos Borden, em Fall River / Crédito: Domínio Público

 

Ninguém mais foi acusado de assassinar Andrew e Abby Borden, e muitas teorias rodearam o mistério. Lizzie continua sendo a principal suspeita — uma das teorias defende que ela sofria abusos físicos e psicológicos do pai.

Outra hipóteses relaciona que ela era lésbica e tinha um caso com Bridget Sullivan — descoberta pela madrasta, decidiu matar os dois. Emma Borden, que na ocasião dos assassinatos estava em outra cidade, foi acusada de criar um álibi falso para cometer os crimes sem ser considerada suspeita.

Vida após Andrew

Depois do julgamento, Lizzie decidiu permanecer em Fall River. Comprou uma casa nova, Maplecroft, em um dos bairros mais bonitos da cidade, e passou a usar o nome Lizbeth. Dois anos após os crimes, ela e a irmã, Emma, gastaram mais de 2 mil dólares em um monumento de granito azul de 3 metros de altura para homenagear Andrew e Abby.

No entanto, Lizzie não conseguiu recomeçar a vida na cidade: o tribunal da opinião pública se voltou contra ela. Todos os seus amigos a abandonaram e as pessoas se recusavam a se sentar perto dela na igreja. No meio da noite, as crianças tocavam a campainha de sua casa e atacavam a residência com ovos e cascalho.

Em 1905, Lizzie desenvolveu um relacionamento com a atriz Nance O’Neil, o que Emma desaprovou. Após uma briga, Emma saiu de casa e se afastou da irmã pelo resto da vida. Lizzie morreu de pneumonia em 1º de junho de 1927 — detalhes sobre seu funeral não foram divulgados, e ninguém compareceu ao enterro.

Em 1996, a casa da família Borden em Fall River foi transformada em um pequeno hotel, aberto até hoje. O local também funciona como um museu em dias determinados.


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