Com novas possíveis provas e reviravoltas na investigação, o caso, que supostamente envolveu um ritual de magia negra, ainda desperta o horror de muitas pessoas
Joseane Pereira e Victória Gearini Publicado em 16/03/2020, às 16h37 - Atualizado às 17h00
Na manhã do dia 6 de abril de 1992, um garoto de apenas seis anos desapareceu da cidade litorânea de Guaratuba, no Paraná. Era o pequeno Evandro Ramos Caetano, cuja ausência foi percebida por sua mãe algumas horas depois.
Com ajuda do delegado-geral, a família e outros moradores da cidade começaram a procurar pelo menino — que seria encontrado cinco dias depois, em condições difíceis de acreditar.
O crime
No dia 11 de abril, o que era um caso de desaparecimento se transformou na confirmação de assassinato. Evandro foi encontrado em um matagal próximo à sua casa por um trabalhador que passava próximo à região. O menino estava sem os olhos, sem o couro cabeludo, com os dedos dos pés cortados, sem as mãos, com o ventre aberto e sem os órgãos internos.
Policiais e familiares foram ao local para identificar o corpo, já em estado avançado de decomposição. Conforme registrado pelo Projetos Humanos, alguns elementos ajudaram no reconhecimento: sua bermuda branca e a chave de sua casa, que estava próxima ao corpo.
Dias depois, o par de chinelos do garoto também foi encontrado. Jovens da escola local resolveram fazer uma manifestação pela morte de Evandro, pedindo por mais segurança às autoridades.
Morte encomendada?
Em julho daquele ano, três homens confessaram ter matado o pequeno Evandro. Osvaldo Marcineiro, curandeiro que chegara em Guaratuba no início do ano, teria recebido ajuda do artesão Davi dos Santos Soares e de seu amigo e também feiticeiro, Vicente de Paula. A acusação diz que a morte teria sido parte de um ritual encomendado pela primeira-dama Celina, com o objetivo de abrir os caminhos da fortuna e da política para a família Abagge, conforme relata o projeto.
A filha do prefeito, Beatriz Abagge, também teria auxiliado no ritual, como confessado por ela e sua mãe em uma fita cassete. De acordo com os cinco, o ritual ocorreu na serraria Abagge, nos arredores da cidade, liderado por Osvaldo Marcineiro no valor de 15 milhões de cruzeiros.
Segundo o programa Projeto Humanos - Caso Evandro, que investiga o crime, essa fita de confissão foi gravada pelo grupo ÁGUIA da Polícia Militar, "que realizava uma investigação paralela, sem o conhecimento da polícia civil (no caso, o Grupo TIGRE)".
Apesar de tudo, a família Abagge foi inocentada no primeiro julgamento, ocorrido em 1988 e com duração de 34 dias. A alegação era de que não existiam provas suficientes para comprovar que o corpo era de Evandro.
Já a família Abagge foi inocentada no primeiro julgamento, ocorrido em 1988 e com duração de 34 dias. A alegação era de que não existiam provas suficientes para comprovar que o corpo era de Evandro. A filha do prefeito, Beatriz Abagge, seria condenada a prisão apenas em 2011: apesar de ter sido condenada a 21 anos de prisão, ela recebeu perdão de pena cinco anos depois.
As reviravoltas do caso
Neste ano, o jornalista Ivan Mizanzuk, que produz o Projeto Humanos, revelou que recebeu de uma fonte anônima gravações que comprovam que os depoimentos de Beatriz Abagge, Osvaldo Marcineiro, Davi dos Santos Soares e Vicente de Paula — os quatro condenados pelo sequestro e homicídio do garoto — foram obtidos sob tortura.
As declarações, colhidas e gravadas por policiais militares do Paraná, são a principal evidência para a condenação de cinco entre os sete envolvidos no crime.
"Estas fitas mudaram tudo para mim. Se antes eu tinha dúvidas se eles eram inocentes, todas elas se foram. Estas pessoas foram torturadas e perderam anos das suas vidas. São coisas que fazem parte das torturas, mas ainda assim são importantes para se entender que a investigação foi toda contaminada", disse Mizanzuk em entrevista ao G1.
O que diz a justiça?
Segundo o Ministério Público do Paraná "será necessária uma prova da autenticidade e da contemporaneidade do material, sendo que a desconstituição de uma condenação criminal somente ocorre no caso de surgir nova prova cabal de exclusão de responsabilidade do condenado".
Ainda informaram que, como o caso aconteceu em 1992, o processo foi arquivado e não pode mais ser reaberto por ter acontecido “há mais de 20 anos, portanto, prazo máximo prescricional previsto pela lei”.
Mesmo com as novas possíveis provas, o Caso Evandro permanece sem solução definida, e ainda intriga muitos brasileiros que se questionam o que teria acontecido com o menino.
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