Figura icônica do folclore eslavo é uma bruxa canibal que voa num pilão e vive numa casa com um pé de galinha. Aterradora, mas vez por outra podia ajudar
Maria Carolina Cristianini Publicado em 08/02/2020, às 10h00
Não mexa com essa vovozinha. Baba, nas línguas eslavas, quer dizer algo como velhinha — dando no carinhoso russo babushka, vovó. Quanto a Yaga, as teorias vão desde um apelido para o nome comum Jadwiga (pronuncia-se iadviga) até serpente, maligna ou bruxa.
Figura ambígua, Baba Yaga, na versão russa, usa um pilão como arma e voa montada no morteiro. Ela mora numa casa em cima de um ou dois pés de galinha gigantes, e pode se mover pela floresta para mudar de lugar.
A casa é cercada por ossos humanos e crânios com olhos brilhantes ficam sobre a cerca, afinal ela tem esse infeliz hábito de ser canibal. Quando conta com trinco, é em formato de boca cheia de dentes, e só aparece após um feitiço especial.
Como uma predadora da floresta, ela é capaz de encontrar pessoas pelo cheiro. Seu bordão é: "Sinto o cheiro do espírito russo”. Algo bem interessante, porque quer dizer que ela não é russa, mas algo muito anterior. O que condiz com a interpretação comum entre acadêmicos russos de que ela é uma figura pagã ancestral, demonizada pelo cristianismo.
Quanto ao seu caráter, podemos trazer duas histórias dela, publicadas por Aleksandr N. Afanássiev em Contos Populares Russos, do século 19.
Em Baba Yaga e o Jovem Corajoso temos a versão raptora-devoradora da bruxa, que aparece na casa onde moram um gato, um pardal e o tal garoto valente. Os animais tinham avisado ao menino: “(...) se a Baba Yaga vier e contar as colheres, não diga uma palavra”. Porém, a hora que ela aparece, o jovem não se controla e grita para que ela não toque nas colheres.
Baba Yaga, então, leva o menino. Embora o gato e o pardal salvem o menino três vezes, ele é sempre raptado pela vilã, que pede a uma de suas filhas para assá-lo. Enganada por ele, é a filha que vai parar no forno, algo que Baba só descobre no momento da refeição. A mesma coisa acontece com outras filhas da bruxa, até que ela própria é ludibriada e assada.
Em contraste, em Vassilissa, a Bela, outra caracterização de Baba Yaga, ela assume traços maternais. Tudo começa com uma garota, que recebe uma boneca da mãe, morta pouco depois, sob a recomendação de alimentá-la sempre que estiver em perigo. A nova esposa do pai e suas duas filhas passam a tratar Vassilissa com crueldade — semelhante à Cinderela — mas o brinquedo, magicamente, ajuda nos serviços domésticos.
Até que, na ausência do marido, a madrasta arma um apagão de velas em casa e obriga Vassilissa a buscar fogo com a bruxa. Ao encontrar Baba Yaga, em seu costumeiro farejar de carne humana, a feiticeira diz que dará o fogo em troca de serviços domésticos.
Ao se deparar com tudo tão bem feito e descobrir a bênção materna na boneca, a bruxa expulsa a garota. Antes, espeta um crânio esbraseado numa vara e dá à menina. De volta ao lar, o presente fulmina a madrasta e suas filhas, queimando-as.
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