Travis, o chimpanzé - Divulgação/ Youtube
Estados Unidos

A fúria — e a tragédia — do Chimpanzé Travis

Longe de sua casa, o animal sabia usar o banheiro e escovava os dentes por conta própria — até que um episódio terrível mudou a vida de todos ao seu redor

Vanessa Centamori Publicado em 10/06/2020, às 17h00

Travis, um chimpanzé de Connecticut, EUA, foi adotado quando tinha apenas 3 dias de idade pelo casal Sandra (Sandy) e Jerome Herold. Foi em um belo dia de 1995, quando o casal recebeu uma ligação de Connie Casey, uma criadora de animais do Missouri. “Sandy”, ela disse. “Seu bebê chegou. É um menino".

Com alegria, a futura dona — e mãe adotiva — do primata foi buscá-lo na casa da criadora. Lá, Sandra e Jerome conheceram o chimpanzé, que batizaram em homenagem à cantora Travis Tritt.

O macaco era bem mimado. Assim que chegaram em casa com ele nos braços, seus donos o deram mamadeira. A seguir, foi colocado para dormir em um berço. Após 3 meses, ele já estava caminhando sobre braços e pernas e aprendeu até mesmo a usar o banheiro e a escovar os próprios dentes. 

O animal também tinha suas próprias roupas, que os donos compravam para que ele vestisse. Era um bicho bem esperto: sabia abrir portas usando chaves, regar plantas e alimentava os cavalos de seus donos com feno. Travis também era apaixonado por sorvete — aprendeu inclusive a observar os caminhões de sorvete que passavam pela vizinhança. 

Travis comendo com colher / Crédito: Divulgação/ Youtube 

 

Reviravolta

O chimpanzé ganhou bastante peso e viveu uma vida feliz e tranquila com seus donos, que reformaram sua casa para melhor acomodá-lo. Eles acreditaram que tinham o domado por completo. Porém, um único episódio chamou a atenção deles e indicou que talvez esse não fosse o caso. 

Em 2003, Travis fugiu. Aconteceu bem depressa, quando o macaco estava com a família dentro de um carro. Sem explicação, o animal surtou e saiu do veículo para perseguir um homem. Quando a polícia chegou, os oficiais atraíram o chimpanzé para dentro do veículo várias vezes, apenas para Travis sair por outra porta.

Durante horas, a polícia usou biscoitos e sorvete para atraí-lo de volta. Os proprietários disseram que o animal era treinado para usar o vaso sanitário e estava acostumado a sentar à mesa para beber vinho. Ou seja, ele seria supostamente um bicho civilizado. Por sorte, Travis foi resgatado e ninguém se feriu. 

O caso resultou na aprovação de uma lei em Connecticut, que impede que primatas de mais de 23 quilos sejam adotados como animais de estimação. Essa legislação entrou em vigor em 2004. Travis, mesmo assim, permaneceu com seus donos. 

Travis após ganhar peso / Crédito: Divulgação/Youtube 

 

O episódio fatal 

No entanto, outro acontecimento ocorreu em 16 de fevereiro de 2009. Infelizmente, dessa vez, o resultado foi trágico. Naquele dia, Travis carregava as chaves da casa do casal que o adotou. De repente, ele surtou. 

Justamente naquela hora chegou na residência Charla Nash — uma amiga da família, que se ofereceu para acuar a fera. Ela carregava consigo um dos brinquedos prediletos de Travis. O primata enlouqueceu ao ver aquilo. 

Charla Nash com Travis / Crédito: Divulgação 

 

Foi um banho de sangue. Travis a atacou, arrancando suas mãos, nariz, lábios e pálpebras. Usando uma faca de açougueiro, Sandra tentou atacar o animal para salvar a amiga, mas não adiantou. A mulher ficou desfigurada. 

Sandra ligou para a polícia. Quando as equipes de emergência chegaram para socorrer a vítima, Travis tentou invadir uma viatura e foi abatido a tiros. O bicho morreu na hora, após ter causado uma enorme carnificina. Um exame de autópsia mostrou que ele havia ingerido Xanax, um remédio contra a ansiedade.

Recuperação 

Charla Nash teve a sorte de sobreviver ao incidente com o chimpanzé, mas passou por grande sofrimento. Foi submetida a inúmeras cirurgias reconstrutivas e recebeu um transplante de rosto, em maio de 2011. Ela ficou cega e suas mãos tiveram que ser amputadas, conforme noticiou o G1. 

Os médicos tentaram transplantar duas novas mãos durante a mesma operação que reconstruiu a face da mulher, mas complicações impediram o processo, que nunca foi realizado. 

Charla Nash após o transplante / Crédito: Divulgação/Youtube 

 

A família de Charla tentou processar Sandra Herold em 50 milhões de dólares, além de entrarem em processo contra o estado. A justificativa foi que o ataque podia ser prevenido pelas autoridades. Em novembro de 2012, a vítima chegou a um acordo e recebeu aproximadamente 4 milhões de dólares.

Devido a esse caso, o projeto da Lei de Segurança de Primatas em Cativeiro foi criado para incluir macacos e lêmures à lista de animais cuja venda e compra são proibidas nos Estados Unidos, exceto para casos de zoológicos e instituições de pesquisas. Porém, ele nunca foi aprovado pelo Senado norte-americano. 


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