Idealizado pelo até então senador Jaime Guzmán, o documento foi redigido em meio à Ditadura
Pamela Malva Publicado em 26/10/2020, às 13h31 - Atualizado em 20/12/2021, às 13h31
Entre 1973 e 1990, o Chile viveu um dos períodos mais emblemáticos de sua história, conhecido por forte presença militar e pelo autoritarismo. Durante a Ditadura de Augusto Pinochet, o país acompanhou intensas perseguições e repressões.
Foi na mesma época que o governo criou a Constituição chilena de 1980, idealizada pelo então senador de extrema direita Jaime Guzmán. No dia 11 de setembro de 1980, um plebiscito bastante polêmico aprovou o texto, que só viu uma mudança ontem, 25 de outubro.
Criada durante um regime tão contraditório, a Constituição é constantemente criticada por diversos grupos chilenos, que pedem pela modificação da Carta Magna. Mas, afinal, por que o texto escrito durante a Ditadura sobreviveu durante tanto tempo?
Tudo começou naquele ano de 1980, quando Jaime Guzmán decidiu criar uma Constituição que garantisse o poder às camadas mais conservadoras da sociedade. Mesmo que saíssem da liderança, elas ainda teriam suas vontades previstas por lei.
Com essas ambições, então, o texto foi redigido de uma forma que dificulta quaisquer alterações. Sendo assim, caso a Ditadura chegasse ao fim, os governos seguintes precisariam de um quórum bastante elevado para modificar alguma legislação. Algo inacreditável em pleno 2020.
Ainda nesse sentido, a Constituição chilena de 1980 também previa um sistema eleitoral binominal de deputados e senadores. Entre muitas outras, a legislação reforçou mais ainda a supressão de partidos políticos, favorecendo apenas os partidos de direita.
Ao fim do governo de Pinochet, o Chile voltou a ser governado por partidos democráticos, não mais por um regime autoritário. Os novos líderes, no entanto, tiveram de aceitar a Constituição já vigente, ainda que ela tivesse sido escrita na Ditadura.
Desde 1980, então, a Carta Magna acabou sofrendo diversas emendas. Em 2005, por exemplo, uma grande reforma no texto retirou múltiplos princípios antidemocráticos do documento. Ficou decidido, por exemplo, que os senadores passariam por eleições.
Mais tarde, a socialista Michelle Bachelet, em seu segundo mandato presidencial, fez com que a eleição binominal fosse trocada por um sistema proporcional moderado. Assim, ela acabou por garantir uma maior representação de diversas forças políticas.
Em 2018, o próprio presidente Sebastián Piñera afirmou que não permitiria a revisão do projeto de lei que pede pela reforma da Constituição, apresentado por Bachelet.
Os protestos populares no Chile começaram no final de 2019, quando manifestantes protestaram contra o aumento do de preço das tarifas de transporte público. Com isso, o governo até chegou a endurecer a onda de manifestações com a Lei de Segurança de Estado, mas nem isso conteve o comportamento do povo.
O presidente Sebastián Piñera até voltou atrás pedindo perdão, e finalmente cancelou o aumento, mas, a resposta foi essa: o Chile permaneceu em chamas, em busca de mais. Em outubro de 2020, os atos completaram um ano. A data foi marcada com incêndio causado por alguns manifestantes em duas Igrejas na Praça Itália.
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