Retrato fotográfico de Marighella - Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, via Wikimedia Commons
Ditadura Militar brasileira

Guia prático ou obra utópica? Manual de Marighella era propaganda da luta armada

Autor aponta que ‘Minimanual do Guerrilheiro Urbano’ possui pontos que o tornam surreal

Redação Publicado em 31/03/2022, às 00h00

Considerado inimigo número um da ditadura militar brasileira, o guerrilheiro baiano Carlos Marighella publicou, em junho de 1969, sua mais famosa obra: o ‘Minimanual do Guerrilheiro Urbano’.

Com orientações aos participantes de movimentos revolucionários comunistas, Marighella detalhou táticas de guerrilha urbana que poderiam ser empregadas na luta contra os governos autoritários.

Um fato curioso é que o minimanual se tornou tão famoso que diversas versões mimeografadas e fotocopiadas passaram a circular na época, entretanto, muitas possuíam diferenças entre si, fazendo com que fosse difícil apontar qual era a versão original. 

Conforme aponta Henrique Sena Guimarães Lopes em artigo publicado pela Revista Discente de História da UNIFESP, em 2016, a Central Intelligence Agency (CIA), dos Estados Unidos, nos anos 1980, fez diversas traduções em inglês e espanhol da obra com a intenção de entender e combater com maior eficiência os movimentos terroristas e de militância armada antigovernista. 

Assim, a obra de Marighella foi distribuída entre os serviços de inteligência do mundo inteiro, servindo como material didático nas Escolas das Américas, que era mantida pela agência americana no Panamá. 

Segundo o próprio guerrilheiro aponta em seu livro, sua intenção era de popularizar táticas de guerrilha, com o objetivo "não somente ler este manual aqui e agora, mas difundir seu conteúdo". Em suas palavras, um guerrilheiro urbano é "um homem que luta contra uma ditadura militar com armas, utilizando métodos não convencionais".

Entretanto, para o jornalista Elio Gaspari, o 'Minimanual do Guerrilheiro Urbano’ serviu apenas como propaganda, sendo falho demais para ser considerado um guia. “Marighellla cometeu, no manual, erros e omissões incompreensíveis para um comandante de operações paramilitares”, aponta em seu livro ‘A Ditadura Escancarada’.

Ensinou que os helicópteros são inúteis para perseguir a guerrilha, pois têm dificuldades em pousar na malha urbana, como se a sua missão fosse de captura e não de observação”. 

“Não há em todo o Manual uma só lição sobre esconderijos. Quando a apostila começou a circular, a ALN já perdera dois comandantes de seu Grupo Tático Armado — a maior patente na hierarquia militar da organização — por conta da temeridade e de aparelhos inseguros”, prossegue Gaspari

“Na concepção de Marighella, o terrorismo urbano destinava-se antes de tudo a produzir tensão política, ‘levando a insegurança e a incerteza às classes dominantes, desgastando e desmoralizando as forças militares dos gorilas’”, completa. 

O jornalista ainda aponta que o Minimanual se torna ainda mais surreal quando o revolucionário baiano apresenta seu retrato de guerrilheiro, que seria uma espécie de Rambo, por “ser capaz de longas marchas, suportar a fadiga, a fome, a chuva e o calor”. Além de “saber esconder-se e saber ser vigilante”. 

Outro ponto destacado por Elio Gaspari é que Marighella expõe que um guerrilheiro deve ter conhecimentos dignos de um super agente. “É muito importante aprender a conduzir um automóvel, pilotar um avião, dirigir um barco a motor ou a vela, compreender a mecânica, o rádio, o telefone, a eletricidade e possuir conhecimento de técnicas eletrônicas”.

“É igualmente muito importante ter conhecimento de topografia, saber orientar-se por intermédio de meios práticos e de instrumentos, saber calcular segundo uma escala, cronometrar, trabalhar com um aparelho de medida de ângulos e arcos, com uma bússola, etc. Conhecimentos de química e de combinação de cores, fabricação de carimbos, o perfeito conhecimento de caligrafia e de imitação das escritas e outras técnicas, fazem parte da preparação técnica do guerrilheiro urbano, que é obrigado a falsificar documentos para viver numa sociedade que ele pretende destruir”, continua. 

Por fim, Gaspari aponta que a construção “desse personagem radical, mistura de escoteiro e agente secreto”, era apenas um “adereço propagandístico”, fazendo da obra de Marighella não um guia prático, mas um livro muito mais utópico.


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