Iniciativa do Ministério Público da Bahia apresenta orientações de como atualizar o vocabulário ao eliminar expressões racistas
Redação Publicado em 21/11/2022, às 19h47 - Atualizado em 18/01/2023, às 13h36
Durante o programa 'Big Brother Brasil', da TV Globo, o participante Gabriel conversava com a sister Marvvila quando usou o termo criado-mudo. Especificamente, ele disse a colega de confinamento que a toalha se encontrava no móvel. De imediato, Marvvila acabou corrigindo o colega.
"Gabriel, vem aqui. Você falou criado-mudo", disse ela. "Por quê?", respondeu ele. Em seguida, ela disse: "A gente não usa essa expressão, ela é racista. Eu só estou te dando um toque, como amiga".
No entanto, o teor racista do termo que motivou a discussão no programa não é recente. O termo "criado-mudo" seria a uma referência "aos criados, geralmente pessoas escravizadas, que deveriam segurar objetos para seus senhores e eram proibidos de falar". Assim, o dicionário da Defensoria Pública já indicou que a palavra fosse substituída por "mesa de cabeceira". No entanto, existe uma discussão por trás da verdadeira origem do termo, que você pode conferir aqui.
O "Dicionário de Expressões (Anti) Racistas", publicado pela Defensoria Pública do estado da Bahia em 2021, separou uma lista de palavras com origem e significado racista que devem ser eliminadas da nossa rotina.
No projeto, é mostrado um glossário de palavras e frases que carregam significados preconceituosos em relação às pessoas negras e pardas. Em muitos casos, são expressões comuns, usadas no dia a dia sem que seus interlocutores se deem conta de seu teor racista.
A fim de tornar a linguagem do cotidiano livre das "micro agressões" — isso é, pequenos atos de preconceito que, acumulados, acabam impactando negativamente a vida dos membros de um grupo socialmente oprimido —, a cartilha baiana oferece alternativas melhores para esses termos já desatualizados. Confira exemplos abaixo!
Essa é uma frase usada para se referir a uma situação difícil ou complicada. Em vez de associar "preto" com essas circunstâncias negativas, todavia, a Defensoria Pública da Bahia recomenda simplesmente que outras descrições sejam usadas.
Não é incomum ouvir a expressão "cabelo ruim" para se referir aos fios crespos típicos das pessoas pretas, o que retrata esse traço físico como indesejável. O mesmo significado é alcançado com termos como "cabelo duro" ou "bombril".
Para se obter um vocabulário menos preconceituoso, é melhor chamar o cabelo pelas suas características em si, como "cacheado" ou "crespo".
Frequentemente, o termo "cor de pele" é usado para descrever tons de rosa e bege. Não é preciso pensar muito para perceber, todavia, que essa expressão que é por vezes repetida no automático ignora a existência de vários outros tons de pele. Assim, é preferível chamar as cores pelo nome.
Essa frase tem um contexto diferente das mostradas até aqui por ser usada como se fosse algo positivo, como forma de elogio.
Neste caso, o problema é que, ao se dizer que alguém com pele escura é "da cor do pecado", é feita uma hipersexualização do povo negro e pardo que remonta ao período da escravidão, em que os senhores estupravam as mulheres escravizadas.
Para evitar essa herança histórica ruim, é melhor usar qualquer outro elogio que faça referência à beleza daquela pessoa em específico.
De acordo com o governo da Bahia, essa é uma palavra que significa "tornar negro". Assim, quando é usada como sinônimo de "caluniar" e "difamar", associa, novamente, a negritude a significados negativos. As outras opções oferecidas pelo dicionário brasileiro, dessa forma, são melhores por não serem associadas a esse conceito preconceituoso.
No caso de "escravo", a opção antirracista é uma expressão próxima — "escravizado". Isso porque, no primeiro caso, a condição da escravização dá a impressão de ser inerente a quem alguém é, enquanto no segundo fica claro que foi uma situação no qual a pessoa estava.
O termo é utilizado para se referir às oferendas aos orixás (que é como se chamam divindades como Iemanjá e Ogun) feitas pelos praticantes de religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé.
Esse não é um uso correto, porém, pois "macumba" é, na verdade, o nome de "um instrumento de percussão de origem africana", ainda de acordo com o documento criado pelo governo baiano.
Além disso, a palavra acaba misturando a umbanda e o candomblé: no caso da primeira, as oferendas são chamadas de "despachos", e dentro da segunda, são "ebós".
Existem ainda diversas outras expressões que vinculam conceitos negativos com a palavra "negro". Alguns exemplos são: mercado negro, lista negra, humor negro e ovelha negra.
Todos podem ser trocados por versões que não carregam essa conotação preconceituosa. Nos exemplos dados, os substitutos são: mercado clandestino, lista proibida, humor ácido e pessoa ruim ou rejeitada.
Em conclusão, é válido lembrar que a língua portuguesa está em constante evolução, e, à medida que mais pessoas fazem um uso consciente do vocabulário, é possível empurrar os termos racistas para o desuso, criando uma sociedade melhor a partir da maneira como falamos.
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