Fundado em 1521, o 'projeto de habitação social mais antigo do mundo' cobra apenas 1,30 dólares anuais (cerca de R$ 6,88 por ano) de seus moradores
Fabio Previdelli Publicado em 09/06/2024, às 09h00 - Atualizado em 15/06/2024, às 07h14
Era 1521, o comerciante e banqueiro Jakob Fugger, conhecido como 'o Rico', destinou parte de sua fortuna para a construção de um complexo residencial em Ausburgo, na Baviera, dedicado especialmente aos mais necessitados.
Para se viver em Fuggerei, como o local passou a ser chamado, os residentes precisavam pagar anualmente a quantia de um florim renano — o que representava apenas um mês do salário da época.
Mais de meio milênio depois, o lugar que mais lembra uma vila medieval mantém não apenas sua aparência, mas também o valor cobrado dos moradores.
Para se viver lá, os residentes pagam cerca de 1,30 dólares anuais (o que representa cerca de R$ 6,88 por ano).
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Pouco antes de fazer 18 anos, Noel Guobadia vivia um momento financeiro difícil com sua família. Seus pais tinham acabado de se separar e sua mãe lutava para sobreviver. A mulher, então, anunciou que se mudaria para Fuggerei, o 'projeto de habitação social mais antigo do mundo'.
"Eu estava tipo: 'As pessoas realmente moram lá? Tem certeza?" lembrou Guobadia em entrevista à CBC, em 2021. Hoje com 30 anos, segue sendo uma das moradoras mais jovens do complexo.
Atualmente, cerca de 160 pessoas vivem em Fuggerei. Os residentes variam entre aposentados, que sobrevivem de suas pensões cada vez mais escassas, até jovens adultos que trabalham fora da cidade. Afinal, Ausburgo fica apenas a uma hora de carro de Munique; o que a tornou muito procurada para quem deseja fugir dos aluguéis cada vez maiores do país.
Em 1521, Fugger fundou o Fuggerei para ser um lar para os trabalhadores católicos mais pobres da cidade. Ele queria criar um espaço onde as pessoas pudessem viver sem dívidas e, ao mesmo tempo, participar da comunidade.
Hoje o complexo se tornou um ímã de turistas, visto que os hóspedes adultos pagam 7 dólares (por volta de R$ 37; ou seja, cerca 5 vezes mais que o aluguel anual) para se aventurarem no 'labirinto' de 67 casas com terraço.
Cada propriedade possui dois andares, são pintadas em um característico amarelo-queimado e são cobertas com telhas de terracota.
Os baixos preços, obviamente, tornam Fuggerei um lugar extremamente atrativo, porém, não é tão simples quanto se pensa ser elegível para viver por lá. Para se tornar um residente, três critérios precisam ser seguidos: o principal é demonstrar necessidade financeira, a pessoa também tem que viver em Augsburgo há pelo menos dois anos, e seguir a doutrina católica.
Para morar por lá, as pessoas também passam por uma entrevista com a assistente social Doris Herzog, que faz perguntas sobre o padrão social e perfil de cada candidato. A espera pode demorar anos.
"Mais pessoas querem ter um apartamento no térreo, então têm que esperar muito tempo por um apartamento lá — talvez cinco, seis ou sete anos", disse Herzog ainda à CBC.
Os moradores do complexo também precisam viver com as diretrizes estabelecidas no século 16, como se voluntariarem como jardineiros e vigias noturnos, por exemplo. Quando os portões de Fuggerei fecham, às 22 horas, quem se atrasa tem que pagar uma pequena taxa ao porteiro.
Os residentes originais de Fuggerei também foram instruídos a fazer três orações diárias para Jakob Fugger e sua família; algo que os moradores atuais do complexo enxergam de forma mais tímida. Muitos apontam que entendem isso de uma forma mais ampla: dedicando minutos por dia para refletirem pelas coisas que são gratos.
Jakob Fugger diz que eles têm que orar por ele. Nosso administrador sempre diz que ele está no céu e verá se você faz isso. Você é responsável por isso", disse Herzog.
Em 23 de agosto de 2021, Fuggerei comemorou seu 500º aniversário; uma celebração que contou até mesmo com o primeiro-ministro da Baviera, Markus Söder. Na data, os moradores cantaram parabéns ao complexo habitacional e também jantaram em longas mesas que se estenderam ao longo da avenida principal.
Mas se engana quem pensa que a longevidade de Fuggerei foi fácil. A BBC recorda que o local sobreviveu à Guerra dos Trinta Anos, visto que Augsburgo foi um ponto crítico de confrontos entre protestantes e católicos no século 17.
Além disso, séculos depois, os moradores tiveram que se abrigar em bunkers durante a Segunda Guerra Mundial. Embora esses espaços permaneçam até hoje por lá, cerca de 75% da cidade foi destruída com ataques. Fuggerei passou por um longo processo de reconstrução.
O complexo ainda é administrado pela família Fugger, que usa o dinheiro dos investimentos em silvicultura, imóveis e as taxas de entrada para manter o local. O conde Alexander Fugger-Babenhausen, descendente de Jakob Fugger, ajuda a administrar o fundo patrimonial Fuggerei e afirma que não há interesse em aumentar o aluguel do complexo.
"Podemos abrigar 160 pessoas que de outra forma não conseguiriam viver da maneira que vivem", disse. "Aumentar o aluguel iria contra o propósito central do Fuggerei".
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