Ao interpretar Eva Perón no longa de 1996, a rainha do pop recebeu diversas críticas dos fãs da amada primeira-dama
Wallacy Ferrari, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 25/04/2021, às 00h00 - Atualizado em 29/06/2023, às 15h45
Em 1996, uma grande produção de Hollywood prometeu retratar uma das mulheres mais importantes da História. Seria a estreia de Madonna como protagonista de um longa-metragem e, atuando em grande estilo, a cantora iria interpretar Eva Perón, em um roteiro adaptado do então aclamado e criticado musical sobre a personagem.
Evita foi primeira dama da Argentina durante o mandato do presidente Juan Perón, chegando a se candidatar a vice-presidente e recebendo apoio da população mais pobre, mas falecendo precocemente aos 33 anos, vítima de um câncer. Madonna, por sua vez, tinha pouco mais que isso quando as gravações iniciaram, em fevereiro daquele ano.
Após longas negociações, o filme foi gravado na Hungria, em Londres e na Argentina. Isso tudo depois que o diretor Alan Parker e a própria Madonna pediram a autorização do então presidente argentino Carlos Menem para usarem localizações como a Casa Rosada de set de filmagens para o longa, segundo a Folha Ilustrada. O problema, no entanto, partiria dos próprios admiradores da figura original.
Antes da cantora, a atriz Maryl Streep e Michele Pfiffer recusaram o papel, como revelou o jornalista Roger Ebert na época. Para suprir a atuação com classe, Madonna ainda aperfeiçoou o canto e fez aulas de atuação — mas não foi suficiente para os peronistas mais fanáticos, que associaram a imagem da ‘fase Erotica’ da cantora com perversidades e excentricidades incompatíveis com a de Evita.
Com medo de uma representação desonrosa, a equipe e elenco foram recebidos na Argentina com vaias e pichações por toda a cidade, sendo a maior delas próxima ao aeroporto de Buenos Aires, como relatou o diretor Alan Parker em seu blog pessoal.
Todas as paredes estavam cobertas com graffitis gigantes proclamando 'Fuera Madonna'. Eram enormes placas coloridas com letras pintadas de três metros de altura, estendendo-se por 12 metros em cada ponte sob a qual passamos”, disse Parker.
Além das críticas com palavrões contra a cantora, as pichações acompanhavam "Viva" ou "Respeite Evita!". Frente à reação negativa do público, Madonna fez questão de defender a produção em uma coletiva de imprensa no hotel em que se hospedou.
"Não posso dizer que não me afetaram, mas a verdade é que creio que os comentários negativos são baseados em coisas que as pessoas não sabe", afirmou a cantora, segundo registrou um documentário produzido pela MTV latino-americana. "Recomendo a todos que formem uma opinião após ver o filme."
Apesar de durar poucos dias, as gravações no país sul-americano foram finalizadas sem problemas, tendo a cena do palácio oficial do presidente realizada em dois dias, podendo ser concluída na Europa. Então vice-presidente da Argentina, Carlos Ruckauf, usou a saída para fortalecer um boicote ao filme, afirmando que “era melhor ficar em casa” do ver um “insulto à memória de Eva Peron”.
Em entrevista à Folha, pouco antes do lançamento da obra, a biógrafa Alicia Dujovne Ortiz, responsável pela obra “Eva Perón - A Madonna dos Descamisados”, comentou a reação dos mais fanáticos.
“Na Argentina, basta um pequeno grupo de fanáticos gritar forte para parecer que o povo argentino está todo furioso. Não foi assim. Acredito que o povo argentino de hoje tenha outros problemas muito mais concretos”, disse a escritora.
Mesmo com boicote, a aversão não foi capaz de interromper as críticas positivas e a arrecadação de US$ 141 milhões em bilheteria — além de, no ano seguinte, garantir o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia ou Musical para Madonna.
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