Diretor Acadêmico do Instituto Brasil-Israel, Michel Gherman explicou, em 2020, como surgiram as teorias que, mesmo décadas mais tarde, ainda questionam a veracidade dos terríveis acontecimentos
Pamela Malva Publicado em 01/10/2021, às 08h00
Entre os séculos 19 e 20, as "teses conspiratórias", como são chamadas pelos especialistas, passaram a tomar conta dos ideais das pessoas ao redor de todo o planeta. Foi nesse momento que o pensamento da minoria começou a frustrar a maioria.
Segundo explicou Michel Gherman, Diretor Acadêmico do Instituto Brasil-Israel, com exclusividade ao site da AH, em novembro de 2020, tal processo é marcado por uma maioria numérica que acredita “que grupos minoritários degeneram sua moral, que são responsáveis pela quebra da harmonia que havia em um passado imaginado e ideal”.
Acontece que, enquanto grupos minoritários reivindicavam seu espaço em uma sociedade excludente, a maioria os enxergava como o motivo do caos. De acordo com Michel, que também é coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos da UFRJ e pesquisador da Ben Gurion University, foi assim que nasceu o discurso de ódio.
Um dos movimentos mais palpáveis desse processo, que abrange até o racismo, foi a disseminação do antissemitismo. Minoria religiosa, os judeus, então, “passam a ser as vítimas maiores de referências conspiratórias”, explica o professor — fator que, no futuro, deu início ao conhecido negacionismo histórico, que contesta o Holocausto.
Considerados a personificação da perversidade durante o começo do século 20, os judeus eram acusados de “imorais, degenerados, exploradores, revolucionários, enfim, de tudo que incomodava o homem médio moderno”. Foi isso que, segundo Michel, gerou um forte movimento antissemita na Alemanha.
De repente, os judeus tornaram-se a causa de diversos problemas que o país enfrentava, apenas porque reivindicaram seu espaço na sociedade e, de certa forma, saíram do "isolamento anterior os protegia". Foi assim que o capitão Dreyfuss, por exemplo, acabou acusado de traição na França.
“Preso e condenado sem provas, o Capitão [que era judeu] passou anos encarcerado na Ilha do Diabo”, explica Michel. “Esse pode ser o primeiro exemplo de antissemitismo moderno. Para acabar com o mau, bastava acabar com os judeus”.
Tamanho era o antissemitismo na época que, com o começo da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha de Adolf Hitler criou um Ministério da Propaganda. De lá saíam filmes, livros e propagandas oficiais que, segundo Michel, foram fundamentais “na disseminação do ódio. Não somente aos judeus, mas a todos os grupos que eles consideravam inimigos do regime”.
Naquela época, então, todos que se opunham ao Führer tornaram-se alvos e, assim, deveriam ser eliminados. “Teses conspiratórias e generalizadoras afirmavam que judeus, ciganos e homossexuais deveriam ser combatidos”, conta o professor.
No final das contas, ainda de acordo com Michel, que falou exclusivamente à Aventuras na História, “o discurso de ódio estabeleceu a preparação política para isolamento e eliminação dos judeus na Alemanha e na Europa”.
Décadas mais tarde, pessoas com uma ideologia parecida iniciaram um processo de negacionismo histórico, cuja teoria defende que o Holocausto nunca existiu. Para Michel, a única coisa que explica esse movimento é “de ordem ideológica”.
“Não há fatores históricos ou mesmo de investigação e pesquisa [que justifique o negacionismo]”, o professor explica. Nesse sentido, uma das agendas, ou ideologias, dos negacionistas teoriza que “os judeus dominam o mundo e que por isso inventaram o genocídio para manter esse domínio”.
Esta ideia, especificamente, “é uma tese racista e antissemita, que ainda mantem-se relativamente forte, principalmente com a circulação das ideias conspiratórias na rede”, lamenta Michel. E olha que as redes, principalmente as sociais, têm muito crédito na disseminação do negacionismo e, por isso, também têm deveres com a sociedade.
Quando perguntado sobre o papel de plataformas como o Facebook, Twitter e Instagram no combate ao movimento negacionista, inclusive, Michel é categórico. “Acredito que [a remoção de conteúdos negacionistas das redes] seja necessária. Mas, infelizmente, acho que não é suficiente”, explica.
Para o pesquisador, muito além de deletar publicações racistas, fascistas e antissemitas, o combate ao negacionismo deve estar na educação e na mídia. “No Brasil, a negação do holocausto e a propaganda nazista são crimes. Mas tenho dúvidas se a judicialização do tema é suficiente”, lamenta.
No final, ele explica que o combate ao negacionismo “deve ser um compromisso de todos”. Para ele, perdemos “a batalha contra o racista, contra o negacionista, contra o conspiracionista e contra o produtor de discurso de ódio quando normalizamos seus discursos”. “No Brasil, especificamente, talvez nunca foi tão necessário estar tão atento”.
Conheça o trabalho do Instituto Brasil-Israel através das redes sociais.
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