Trecho de vídeo mostrando o interior do San José - Divulgação/Presidência da Colômbia
Naufrágio

Entenda a disputa pelo naufrágio com tesouro de até R$ 100 bi

Afundado há mais de 300 anos na costa da Colômbia, o galeão espanhol San José carrega uma fortuna em ouro, prata e esmeraldas

Redação Publicado em 10/10/2024, às 19h00 - Atualizado em 16/10/2024, às 21h24

Afundado há mais de 300 anos na costa da Colômbia, o galeão espanhol San José é considerado o naufrágio mais valioso do mundo, carregando uma fortuna em ouro, prata e esmeraldas, cujo valor estimado atinge bilhões de dólares.

Mas, apesar de sua descoberta, o destino do tesouro permanece incerto, sem acordo sobre a quem pertencem os restos da embarcação e seus preciosos artefatos. O caso está sendo examinado pelo Tribunal Permanente de Arbitragem em Haia, uma vez que a posse é disputada pela Colômbia, Espanha, Estados Unidos e grupos indígenas sul-americanos. 

Segundo a Bloomberg, o governo colombiano expressa a intenção de resgatar os destroços e exibi-los em um museu. Já arqueólogos defendem que o San José, assim como muitos outros naufrágios espalhados pelo mundo, deve permanecer intocado. Para os historiadores marítimos, o navio representa um cemitério submerso, onde cerca de 600 pessoas perderam a vida, e deve ser tratado com respeito.

Além disso, caçadores de tesouros indicam que o valor comercial da carga pode chegar a US$ 18 bilhões (cerca de R$ 100 bilhões de reais).

#NoticiaW | La DIMAR reveló que, en el área en donde se ubica el Galeón San José, se hallaron más concentraciones de material arqueológico, además del cuerpo principal, en donde se encuentra la mayor cantidad de evidencias de la embarcación y la carga que transportaba. pic.twitter.com/xiOqQG3lF5

— W Radio Colombia (@WRadioColombia) August 8, 2024

História

O galeão San José afundou em 1708 enquanto navegava do que hoje é o Panamá rumo a Cartagena, na Colômbia. Com a intenção de cruzar o Atlântico para a Espanha, o navio foi interceptado por um barco de guerra britânico, que, ao tentar capturá-lo, disparou acidentalmente contra seus depósitos de pólvora, causando uma explosão que resultou em seu naufrágio.

O navio teve o paradeiro desconhecido até a década de 1980, quando a empresa de salvamento americana Glocca Mora afirmou tê-lo encontrado. Tentativas de parceria com os colombianos para recuperar o tesouro resultaram em disputas judiciais. Em 2015, a Colômbia alegou ter encontrado o navio de forma independente e negou os direitos da Glocca Mora, agora chamada Sea Search Armada.

Pintura retrata a explosão do galeão San José / Crédito: Licença Creative Commons via Wikimedia Commons

 

O estado espanhol também passou a reivindicar a propriedade do San José e de sua carga, enquanto grupos indígenas da Bolívia e do Peru argumentam que o tesouro é fruto de saques realizados pelos espanhóis durante a colonização, portanto, lhes pertence.

"Essa riqueza veio das minas de Potosí nas terras altas da Bolívia. Essa carga pertence ao nosso povo — a prata, o ouro — e achamos que ela deveria ser retirada do fundo do mar para impedir que caçadores de tesouros saqueiem. Quantos anos se passaram? Trezentos anos? Eles nos devem essa dívida", afirmou Samuel Flores, um representante do povo indígena qhara qhara, à BBC.

‘Santo Graal’

Imagens subaquáticas recentes do San José revelam canhões de bronze e moedas de ouro em meio à vida marinha. A Sea Search Armada estima o valor da carga entre US$ 7 bilhões e US$ 18 bilhões, chamando-a de "o maior tesouro da história da humanidade".

No entanto, embora o San José seja considerado o "Santo Graal dos naufrágios", ele é apenas um dos três milhões de navios afundados, conforme informações da BBC.

As Nações Unidas adotaram a Convenção sobre o Direito do Mar em 1982 e, posteriormente, a Convenção do Patrimônio Cultural Subaquático em 2001, que aborda naufrágios, mas muitos países, como Colômbia e EUA, não a ratificaram, o que gera incertezas sobre a propriedade e os direitos de exploração.

Arqueólogos defendem que naufrágios como o San José devem ser preservados in situ, ou seja, em seu local de descanso, pois, a retirada de artefatos resulta na perda de seu contexto histórico.

À BBC, Rodrigo Pacheco Ruiz, mergulhador e explorador de naufrágios, e Juan Guillermo Martín, arqueólogo marítimo colombiano, concordam que o tesouro e os restos humanos devem permanecer no fundo do mar. 

"O tesouro do San José deve permanecer no fundo do mar, com os restos humanos dos 600 tripulantes que morreram lá. O tesouro faz parte do contexto arqueológico e, como tal, não tem valor comercial. Seu valor é estritamente científico", afirmou Martín.

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