Representação de unicórnio em bestiário medieval - Domínio Público/ Creative Commons/ Wikimedia Commons
Idade Média

Enciclopédia e religião: Os assustadores bestiários da Idade Média

Imaginação fértil, medo e religiosidade deram origem a representações de diversas criaturas

Redação Publicado em 05/02/2022, às 08h00 - Atualizado em 19/06/2022, às 06h00

Seres que afundam navios, dragões que destroem cidades, monstros devoradores de homens, sereias que encantam marinheiros, centauros letrados...

É difícil compreender que muitas das figuras mitológicas que conhecemos dos livros um dia realmente atemorizaram alguém. No entanto, como lembra o historiador francês Lucien Fèbvre, na Idade Moderna havia “excesso de plantas, de animais, de doenças, de tudo. O possível não se distinguia do impossível”.

Sem contar que, na Idade Média, a maior parte do mundo ainda era considerada terra incógnita. Assim, seres fictícios nutriam as superstições e tomavam forma graças a artistas talentosos da Antiguidade. Santo Agostinho, um teólogo do cristianismo, foi um dos primeiros a perceber a importância dos monstros no imaginário da população.

Representações consideradas antinaturais seriam também, em sua visão, parte do plano divino — como um adorno para ensinar os homens sobre o perigo dos pecados. Além de enfeitar templos, monstros encontraram seu lugar em bestiários — livros que somavam histórias e descrições de animais verdadeiros e imaginários —, fazendo com que a erudição enciclopédica e o pensamento religioso se reunissem.

“Nesses bestiários, a ênfase na moralidade, apregoada pela Igreja Católica, passa a dar novo sentido alegórico aos monstros”, explica a historiadora Mary Del Priore em seu livro 'Esquecidos por Deus — Monstros no Mundo Europeu e Ibero-Americano'. Para conciliar a filosofia com a crença popular, a Igreja buscava um significado espiritual nas entidades mitológicas e ensinamentos sobre bons costumes — a exemplo de Leviatã, na Bíblia.

Também nesta época, grandes espécies desconhecidas eram vistas como verdadeiras anomalias. Caso das baleias, ilustradas cheias de imaginação — tanto quanto em mapas medievais e da Renascença.

Aos nossos olhos, quase todos os monstros parecem estranhos, mas, na verdade, muitos foram desenhados a partir do que os cartógrafos consideravam como registro científico”, afirma Chet Van Duzer em 'Sea Monsters on Medieval and Renaissance Maps'.

Já a partir do final do século 17, conforme a compreensão europeia da ciência foi crescendo e a imprensa tornou mais fácil a propagação de imagens realistas, os seres imaginários começam a desaparecer dos mapas.

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