Um grupo de músicos brasileiros usou a guitarra como forma de resistência e expressão de liberdade
Giovanna de Matteo Publicado em 01/11/2020, às 10h00
A partir da década de 60, o mundo se deparou com modernidades e novos estilos. No universo artístico, clipes inéditos eram lançados, boy bands faziam fama, festivais de música eram os eventos mais esperados pela juventude, e o movimento hippie, que estava caminhando para o auge, era a mais nova moda entre os artistas e compositores.
Transgredir valores morais era o desafio, e o rock'n roll viria a ser o elemento principal entre artistas famosos como Beatles, Rolling Stones, The Beat Boys, e outros.
Entretanto, o Brasil ainda se escondia por trás de barreiras. Sob um regime ditatorial e uma população conservadora, a cultura do rock demorou a se infiltrar, afinal, para florescer ela necessita de um ambiente aberto a mudanças e debates, com uma estrutura moderna e progressista.
Todavia, perante as dificuldades, um grupo composto por diversos artistas, produtores e compositores brasileiros se pôs à frente da mudança, e revolucionou a música por aqui. Eles se autodenominaram Tropicalistas.
Antes de tudo
Nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Os Mutantes, entre outros, se propuseram à fazer uma música diferente dos iês-iês, sambas ou da bossa nova, modelos já enraizados no país.
Misturando elementos externos, como a guitarra elétrica, nunca antes usada no Brasil, e acordes malucos, com letras que empanturravam as mentes de críticas e levavam os ouvinte à um espaço de além-realidade, eles introduziram o "elemento rock" à música nacional.
Nascia então o álbum chamado "Tropicália ou Panis et Circenses". Era diferente de tudo aquilo que os brasileiros já haviam experimentado musicalmente. Mas, como era de se esperar, o grupo balançou algumas estruturas.
O uso da guitarra elétrica já era por si só um afronte. A incorporação desse instrumento pela MPB foi considerada um escândalo aos conservadores, tendo sido até mesmo alvo de um protesto, que reuniu artistas da bossa nova como Elis Regina, e outros gêneros, que acreditavam que o instrumento estrangeiro poderia destruir a música tradicional brasileira.
Obstáculos
Entretanto, não foi esse o maior problema. Os músicos da Tropicália sofreriam repressões e perseguições. Encarados como intelectuais comunistas, por suas músicas incitarem o pensamento livre e contradizerem as morais e os bons costumes, eles sofreram censuras e alguns de seus membros foram detidos e forçados ao exílio.
Foi a partir de novos sons e composições que espetáculos chocantes e símbolos modernos - com o objetivo de chocar e quebrar com os padrões de uma época onde a reflexão era proibida - buscaram a descentralização cultural.
O público foi introduzido a uma nova modernidade, que foi além das estruturas da sociedade e do governo. Para adentrar ao Tropicalismo era necessário que o público expandisse sua visão para outros lados da história, do mundo e da cultura.
O III Festival de Música Popular da TV Record de 1967, por exemplo, é um dos marcos iniciais para a apresentação desse novo estilo musical e estético. O Tropicalismo nascia expondo, e não superando os males da história brasileira, e explorava criticamente as raízes culturais do Brasil. Portanto, a modernidade tropicalista se apresentava através de uma necessária ruptura com os padrões culturais até então impostos.
O movimento também abriu portas para que a sociedade, ou ao menos seu público, se expandisse cultural e politicamente, através de uma nova expressão artística carregada de elementos da cultura pop-rock internacional.
Foram também influenciados pelo contexto histórico mundial, exibindo referências sutis ao movimento hippie e de contracultura, ao latino-americanismo libertário (ideologicamente) e ao antropofagismo de Oswald de Andrade.
A paródia ao nacionalismo ufanista e conservador foi o ápice da inovação na música, sintetizando um movimento crítico e criativo que passava a caracterizar a sociedade brasileira urbana e suas mudanças.
Segundo o compositor Gilberto Mendes, a Tropicália pode ser entendida a partir dessa máxima: “assim como o boiadeiro troca o cavalo pelo caminhão, o violeiro acaba seduzido a trocar a viola pela guitarra elétrica."
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