O Holocausto não só foi um assassinato em massa de minorias, como também uma tentativa de seu apagamento
Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 12/09/2023, às 17h04
Nos últimos dias, um assunto comentado entre internautas brasileiros envolve a comparação de uma linha de peça de roupa, à venda na loja Riachuelo, com os antigos uniformes utilizados por minorias em centros de concentração nazistas, durante o Holocausto. Muito criticada, a marca retirou das vitrines e do site as roupas listradas.
Após a polêmica, a Riachuelo logo se manifestou publicamente sobre o ocorrido, e a infeliz comparação da peça de roupa com os antigos uniformes dos campos de concentração. "Nós, da Riachuelo, prezamos pelo respeito por todas as pessoas, e esclarecemos que, em nenhum momento, houve a intenção de fazer qualquer alusão a um período histórico que feriu os direitos humanos de tanta gente", começa o comunicado.
"A escolha do modelo das peças e da cartela de cores realmente foi uma infelicidade, e gostaríamos de reforçar que todas as peças já estão sendo retiradas das nossas lojas e e-commerce.
Entendemos a sensibilidade do assunto, agradecemos o alerta trazido pelos nossos consumidores e pedimos desculpas a todas as pessoas que se sentiram ofendidas pelo que o produto possa ter representado", conclui.
Apesar de toda a confusão, ainda existem dúvidas por parte de algumas pessoas sobre o porquê de as roupas listradas, uma opção de estampa, pode ser vista como ofensiva para alguns. Para estas, o Museu do Holocausto, localizado em Curitiba, também se posicionou sobre o ocorrido, esclarecendo esta questão através de sua conta no X, o antigo Twitter.
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— Museu do Holocausto (@MuseuHolocausto) September 11, 2023
A Riachuelo não é a primeira loja de fast fashion que utiliza dessa estética em suas peças.
Mas por que a imagem incomoda?
As respostas têm a ver com MEMÓRIA, HISTÓRIA e SEMIÓTICA.
Sigam o fio!
+ pic.twitter.com/JOJmQ7glJB
De acordo com a publicação, as antigas roupas listradas utilizadas por prisioneiros, não necessariamente do Holocausto, tinham "o objetivo de segregá-los e facilitar a identificação e o reconhecimento", explica a instituição. Com isso, os uniformes eram impessoais e, assim, retiravam a individualidade, servindo ainda como uma forma a mais de humilhação — sem mencionar que estampas com listras eram baratas e de fácil produção.
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No caso específico do Holocausto, as fotos produzidas e a própria Indústria Cultural — termo desenvolvido pela Escola de Frankfurt sobre a produção em massa de cultura — ajudaram na construção de um imaginário. Ou seja, embora nem todas as listras sejam associadas aos uniformes das vítimas, muitas vezes levam as pessoas a remeterem às roupas listradas do sombrio período da História.
Assim, compreende uma construção imagética, que atribui, por exemplo, um símbolo a uma figura ou período histórico, não depende necessariamente de sua veracidade. A semiótica pontua que imagens carregam sentidos e emoções. Como consequência, um conjunto de roupas listradas, com as mesmas larguras e gola que os uniformes do Holocausto, acabam remetendo ao período — tanto que foi assim que a peça de roupa viralizou, após uma pessoa pontuar a semelhança na internet.
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Em meio à polêmica da Riachuelo, a especialista em cultura material e consumo, semiótica psicanalítica da USP Maria Eugênya destaca que "tendências de moda não são isoladas da estética, da semiótica, da história, e nenhuma tendência deve estar acima da decência, da memória e do respeito."
Logo, desde que a moda surgiu, se tornou um elemento fundamental na compreensão da História, considerando-se que a memória fica atrelada, entre outras coisas, às roupas.
Por isso, se faz necessária empatia na confecção de peças e no avanço da moda, além da conhecer a história daqueles para os quais a moda é produzida, para serem evitadas confecções que, porventura, levem pessoas a sentir alguma dor.
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