O presidente se recusava a passar por qualquer procedimento cirúrgico antes de ser empossado com medo da instabilidade política
Caio Tortamano Publicado em 06/07/2020, às 17h40
Após anos de um período com cicatrizes eternas, a expectativa pelo primeiro presidente após o período militar no Brasil era alta. Como consequência, a responsabilidade de Tancredo Neves — político eleito de indiretamente em colégio eleitoral — carregava uma pressão maior que o normal. Ele poderia ter correspondido a todas essas expectativas, se não tivesse falecido pouco tempo antes de assumir o poder.
Neves cresceu no cenário político sendo um dos maiores apoiadores do movimento Diretas Já, que pedia pelo voto direto na escolha de presidente — uma vez que em todos esses anos de ditadura militar não havia liberdade de escolha por parte da população. Por mais que tenha sido eleito indiretamente, Tancredo continuou apoiando a mudança, que também representava a maior parte do pensamento dos eleitores da época.
Dor no abdômen
Poucos dias antes de sua tão aguardada posse, Tancredo começou a sentir fortes dores no abdômen. Assim, foi aconselhado pelos médicos que o acompanhavam diariamente a procurar um tratamento que logo revelou a necessidade de uma cirurgia. No entanto, o presidente não sentia que era o momento ideal de arriscar a sua vida em uma cama operatória. Ele tinha medo do que poderia acontecer com a situação política do país caso sofresse um boicote.
O receio era tamanho que nem mesmo as dores abdominais eram de conhecimento geral, ficando restritas somente ao círculo mais íntimo de Tancredo e do corpo médico responsável pelo caso. Tudo foi feito às escondidas.
A maior adversidade poderiam ser os militares da chamada linha-dura, ou seja, os poucos que restavam do regime que queriam continuar firmes no poder e talvez negassem passar a faixa presidencial para um vice-presidente — no caso de Neves, José Sarney.
Em março de 1985, dia de sua posse, Tancredo Neves planejava finalmente comunicar assessores e a população acerca de suas complicações e aceitaria se submeter a cirurgias. Isso porque no grande evento estariam presentes diversos chefes de Estado, tornando praticamente impossível uma nova ruptura política nesse processo sem causar uma grande crise diplomática — blindando, assim, a liberdade no país.
Internado às pressas
No entanto, o plano não saiu conforme esperado. Na véspera da posse, durante uma missa em Brasília, Neves começou a sentir e repetidas dores em seu abdômen, dessa vez mais intensas.
Assustado, pediu para ser levado o mais rápido possível ao hospital, sendo encaminhado às pressas para o Hospital de Base do Distrito Federal e internado. Paralelamente, temendo o resultado de uma cirurgia de emergência, Ulysses Guimarães, então presidente da Câmara, já tinha tudo preparado para a possível posse de Sarney.
Estado de saúde
A operação foi de alto risco, muito por conta de estrutura precária do hospital no Distrito Federal. Visando um ambiente digno, o presidente foi encaminhado para o Hospital das Clínicas de São Paulo em 26 de março — não conseguindo comparecer a posse.
Daí adiante o futuro presidente passou por sete cirurgias, mas não resistiu a última delas, e acabou falecendo no feriado de Tiradentes, em 21 de abril, aos 75 anos de idade.
O anúncio público veio por meio de Antônio Britto, porta-voz oficial da presidência que disse: “Lamento informar que o Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Tancredo de Almeida Neves, faleceu esta noite no Instituto do Coração, às 10 horas e 23 minutos [...].”.
A causa oficial da morte foi dada como uma diverticulite, no entanto, análises futuras indicaram que o óbito se deu diante da infecção de um tumor benigno no corpo do presidente. No dia da posse oficial, quem assumiu a presidência de maneira interina foi Sarney.
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