Tancredo Neves sendo beijado na bochecha - Wikimedia Commons
Personagem

Dores intensas e 7 cirurgias: os angustiantes dias finais de Tancredo Neves

O presidente se recusava a passar por qualquer procedimento cirúrgico antes de ser empossado com medo da instabilidade política

Caio Tortamano Publicado em 06/07/2020, às 17h40

Após anos de um período com cicatrizes eternas, a expectativa pelo primeiro presidente após o período militar no Brasil era alta. Como consequência, a responsabilidade de Tancredo Neves — político eleito de indiretamente em colégio eleitoral — carregava uma pressão maior que o normal. Ele poderia ter correspondido a todas essas expectativas, se não tivesse falecido pouco tempo antes de assumir o poder.

Neves cresceu no cenário político sendo um dos maiores apoiadores do movimento Diretas Já, que pedia pelo voto direto na escolha de presidente — uma vez que em todos esses anos de ditadura militar não havia liberdade de escolha por parte da população. Por mais que tenha sido eleito indiretamente, Tancredo continuou apoiando a mudança, que também representava a maior parte do pensamento dos eleitores da época.

Dor no abdômen

Poucos dias antes de sua tão aguardada posse, Tancredo começou a sentir fortes dores no abdômen. Assim, foi aconselhado pelos médicos que o acompanhavam diariamente a procurar um tratamento que logo revelou a necessidade de uma cirurgia. No entanto, o presidente não sentia que era o momento ideal de arriscar a sua vida em uma cama operatória. Ele tinha medo do que poderia acontecer com a situação política do país caso sofresse um boicote.

Tancredo Neves durante campanha / Crédito: Wikimedia Commons

 

O receio era tamanho que nem mesmo as dores abdominais eram de conhecimento geral, ficando restritas somente ao círculo mais íntimo de Tancredo e do corpo médico responsável pelo caso. Tudo foi feito às escondidas. 

A maior adversidade poderiam ser os militares da chamada linha-dura, ou seja, os poucos que restavam do regime que queriam continuar firmes no poder e talvez negassem passar a faixa presidencial para um vice-presidente — no caso de Neves, José Sarney.

Ex-presidente brasileiro José Sarney / Crédito: Divulgação

 

Em março de 1985, dia de sua posse, Tancredo Neves planejava finalmente comunicar assessores e a população acerca de suas complicações e aceitaria se submeter a cirurgias. Isso porque no grande evento estariam presentes diversos chefes de Estado, tornando praticamente impossível uma nova ruptura política nesse processo sem causar uma grande crise diplomática — blindando, assim, a liberdade no país.

Internado às pressas

No entanto, o plano não saiu conforme esperado. Na véspera da posse, durante uma missa em Brasília, Neves começou a sentir e repetidas dores em seu abdômen, dessa vez mais intensas.

Assustado, pediu para ser levado o mais rápido possível ao hospital, sendo encaminhado às pressas para o Hospital de Base do Distrito Federal e internado. Paralelamente, temendo o resultado de uma cirurgia de emergência, Ulysses Guimarães, então presidente da Câmara, já tinha tudo preparado para a possível posse de Sarney.

Estado de saúde

A operação foi de alto risco, muito por conta de estrutura precária do hospital no Distrito Federal. Visando um ambiente digno, o presidente foi encaminhado para o Hospital das Clínicas de São Paulo em 26 de março — não conseguindo comparecer a posse.

Daí adiante o futuro presidente passou por sete cirurgias, mas não resistiu a última delas, e acabou falecendo no feriado de Tiradentes, em 21 de abril, aos 75 anos de idade.

O anúncio público veio por meio de Antônio Britto, porta-voz oficial da presidência que disse: “Lamento informar que o Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Tancredo de Almeida Neves, faleceu esta noite no Instituto do Coração, às 10 horas e 23 minutos [...].”.

A causa oficial da morte foi dada como uma diverticulite, no entanto, análises futuras indicaram que o óbito se deu diante da infecção de um tumor benigno no corpo do presidente. No dia da posse oficial, quem assumiu a presidência de maneira interina foi Sarney.


+Saiba mais sobre o Brasil República por meio de grandes obras disponíveis na Amazon:

História do Brasil República: Da queda da monarquia ao fim do estado novo, de Marcos Napolitano (2016) - https://amzn.to/2WGTl2b

O Brasil Republicano: O tempo da Nova República – Da transição democrática à crise política de 2016, de Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado (2018) - https://amzn.to/3g1QGId

A formação das almas - O imaginário da República no Brasil, de José Murilo de Carvalho (2017) - https://amzn.to/3699zEq

Dicionário da república: 51 textos críticos, de Vários autores (2019) - https://amzn.to/2LH2Jge

Da Monarquia à República: Momentos Decisivos, de Emilia Viotti Da Costa (2010) - https://amzn.to/368FKEb

Vale lembrar que os preços e a quantidade disponível dos produtos condizem com os da data da publicação deste post. Além disso, a Aventuras na História pode ganhar uma parcela das vendas ou outro tipo de compensação pelos links nesta página.

Aproveite Frete GRÁTIS, rápido e ilimitado com Amazon Prime: https://amzn.to/2w5nJJp 

Amazon Music Unlimited – Experimente 30 dias grátis: https://amzn.to/2yiDA7W

Brasil morte Tancredo Neves José Sarney dias finais Presidente da república

Leia também

Banco Central sob Ataque: Veja a história real por trás da série da Netflix


Outer Banks: Série de sucesso da Netflix é baseada em história real?


O Rei Leão: Existe plágio por trás da animação de sucesso?


Ainda Estou Aqui: O que aconteceu com Eunice Paiva?


Ainda Estou Aqui: 5 coisas para saber antes de assistir ao filme


Afinal, Jesus era casado e tinha filhos? Saiba o que dizem pesquisadores