Condenada à morte por blasfêmia, a mulher foi perseguida no Paquistão e ainda assistiu à manifestações que exigiam seu fim
Pamela Malva Publicado em 12/09/2020, às 11h00
Para diversos paquistaneses, um dos piores crimes que alguém pode cometer é a blasfêmia contra o nome de Maomé. Considerada um desrespeito de alto grau, a atitude pode levar à morte — uma condenação legalizada pela constituição.
Foi em 1986 que o Parlamento do Paquistão aceitou a polêmica cláusula sobre blasfêmia. A fim de transformar o país em uma nação "verdadeiramente islâmica", a lei punia com a morte quem ofendesse Maomé.
Segundo o Centro Paquistanês de Justiça Social, existem cerca de 1.550 casos de blasfêmia no país. Destes, 75 acusados foram assassinados antes mesmo de irem para seu julgamento e muitos foram mortos ainda sob custódia.
Esse teria sido o desfecho do caso de Asia Bibi se um enorme movimento social não tivesse defendido a mulher. Mãe de duas meninas, ela foi mantida em cárcere durante anos após ser acusada de blasfêmia, em junho de 2009.
Gole mortal
Tudo começou em um dia normal de trabalho, quando Asia cuidava de uma fazenda na aldeia de Ittanwala. Naquele dia, o calor castigava os agricultores e, após horas colhendo frutas, alguém pediu que a mulher fosse buscar água para o grupo.
Ela caminhou até o poço, pegou a água para os companheiros e, antes de entregar-lhes o copo, ela bebeu um pouco do conteúdo. Indignados com a atitude da mulher, os homens muçulmanos ficaram furiosos e os dois lados começaram a brigar.
Para os agricultores que trabalhavam com a mulher, que era cristã, a mulher era uma pessoa impura, por não acreditar em Alá. Assim, ela não era digna o suficiente para consumir as mesmas coisas que eles, que eram muçulmanos.
Intolerância e perseguição
Cinco dias depois do conflito, a casa de Asia foi invadida por oficiais paquistaneses e a mulher foi levada para a prisão. Acusada de blasfêmia, ela foi julgada e condenada à morte, após sofrer fortes represálias da população, em meados de 2010.
O caso de Asia tomou as ruas do Paquistão e um intenso movimento social assumiu o lado da mulher. A pressão era enorme, mas a acusada continuou presa durante anos. Foi apenas em 2018 que ela conseguiu reverter sua condenação e acabou absolvida.
A decisão, no entanto, não foi bem vista pela parcela conservadora da população e muitos se indignaram com a suposta impunidade do caso. Para eles, a mulher deveria ser punida pela dita blasfêmia que cometeu naquele fatídico dia em 2009.
Liberdade e condenação
Poucas horas após a libertação de Asia, centenas de manifestantes foram para as ruas, pedindo pela morte da mulher. O líder religioso Khadim Hussain Rizvi foi um dos muitos que usaram as redes sociais para defender seus ideais extremistas contra a acusada.
Depois de três dias de puro caos nas ruas do Paquistão, o governo cedeu aos manifestantes. Uma petição foi criada, a fim de reverter o caso de Asia, e ela foi impedida de sair do país, sendo mantida em custódia protetiva.
No dia 29 de janeiro de 2019, o caso de Asia foi julgado mais uma vez. Para o alívio da acusada e indignação dos conservadores, foi inocentada novamente. "Como poderíamos enforcar alguém usando declarações falsas de testemunhas?", questionou o presidente da corte que tomou a decisão.
Livre de uma vez por todas, ela finalmente saiu do Paquistão e viajou até o Canadá, onde reencontrou o marido e suas filhas. Com o fim do episódio traumático, ela conseguiu proteção no país americano e agora vive longe da perseguição religiosa.
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