Do Casarão ao luxo no garimpo: Dona Beja, a mais famosa mulher de Minas Gerais

A cidade de Araxá, em Minas Gerais, nunca mais foi a mesma depois da chegada da família de Ana Jacinta de São José, em 1805, quando a menina tinha 5 anos. Crescida, Beja, como ficou conhecida na região, era a mais bela moça do local.

Quando tinha 15 anos, foi raptada por Joaquim Inácio Silveira da Motta, uma figura importante na realeza brasileira. O avô da menina — responsável pelo apelido da garota, já que dizia que sua beleza era como a da flor beijo — foi atrás do político e fazendeiro. De imediato, fora morto pelos guardas antes mesmo de conseguir defender a neta.

Uma vez nas mãos de Silveira da Motta, passou a viver na Vila do Paracatu do Príncipe como sua amante por um período de dois anos. Contudo, o imperador Dom João VI queria que o seu homem de confiança voltasse para o Rio de Janeiro, sem poder levar a jovem, a Beja não tinha outra opção senão voltar para sua cidade.

Voltando para Araxá, Ana se deparou com uma cidade diferente da que conhecia quando havia saído, pelo menos em relação a ela. As pessoas que antes a enxergavam apenas pela beleza, agora julgavam por ter servido como amante por tanto tempo, mesmo que não tivesse sido sua opção.

As mulheres da época a consideravam uma mulher "suja" e "desvirtuada", que poderia tentar roubar maridos a qualquer momento. Com isso, a pobre garota se tornou uma figura desprezada e à margem da sociedade. 

Poucas eram as oportunidades que pessoas assim tinham num ambiente tão conservador. Passando por cima dos boatos e com o dinheiro que ganhou ao ser sequestrada por um rico homem, construiu uma grande e luxuosa casa no campo mineiro, onde um bordel ganhou vida. 

Seletiva

A própria mulher se prostituía em sua Chácara do Jatobá, mas tinha a política de poder selecionar com qual homem iria dormir a cada noite — sempre visando um grande valor, é claro. O negócio atraía rapazes de todas as regiões do Brasil, que queriam ver o que a Dona Beja tinha a oferecer.

Certo dia, um conhecido, seu Manoel Fernando Sampaio, apareceu na chácara. Para sua surpresa, era o homem que estaria destinado a ser seu marido antes de ser cruelmente rapatada por Joaquim Inácio Silveira da Motta. Sem acreditar na cena, agarrou Sampaio e não desgrudou dele a noite toda. Foi esse episódio que resultou na gravidez da primeira filha, Tereza Tomázia de Jesus. Mas não seria a única.

A segunda filha foi Joana de Deus de São José, fruto de um caso com outro amante. Com as duas, Beja decidiu que era hora de se mudar de Araxá. Assim abandonou o seu lucrativo bordel e partiu para a cidade mineira de Bagagem.

A cidade estava com uma alta nos negócios de diamantes. Assim uniu o útil ao agradável ao usar o dinheiro guardado durante tantos anos para construir uma propriedade e iniciar o garimpo no leito do rio Bagagem, um dos maiores depósitos de pedras preciosas.

Assim viveu até os últimos dias de vida: com a riqueza que conquistou em meio à boatos, que não a fizeram abaixar a cabeça, embora a sociedade mineira fizesse de tudo para que sucumbisse. Morreu aos 73 anos, supostamente por conta de uma nefrite.

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