No passado, o curioso método de mineração fazia seu papel, mas também deixava uma marca irreversível no meio ambiente
Redação Publicado em 12/12/2021, às 11h00
“Quão perigosa tornamos a Terra!” A frase podia ter sido postada no Facebook semana passada, por aquele amigo de todas as causas contemplando os perigos da tecnologia moderna. Quem sabe mencionando o “fracking”, a técnica de bombear água para dentro de um depósito de petróleo ou gás natural para forçar sua saída — o que pode causar de contaminação do solo até terremotos. Mas ela foi escrita quase 2 mil anos atrás, em 74, por Plínio, O Velho — o mesmo que morreria cinco anos depois ao tentar investigar a explosão do Vesúvio, em Pompeia. Ele se referia a um método romano de mineração.
O ruina montium, ou “destrói-montanhas”, uma técnica hidráulica usada na Espanha do século 1. Ninguém ligava ainda para desastre ambiental, e a coisa funcionava: as minas de ouro espanholas eram as mais produtivas de todo o Império.
O resultado é visível ainda hoje: em Las Médulas, as montanhas destruídas criam uma paisagem quase alienígena, que, dois milênios depois, tornou-se uma grande atração turística do local. Lembra o Grand Canyon, nos Estados Unidos — com a diferença que este foi feito pela natureza.
O alvo era defi nido após acabarem os veios de ouro superficiais e o veio principal ser descoberto. O método ruina montium era mais barato e menos perigoso que conduzir uma escavação tradicional de profundidade.
As condições eram horríveis. Os túneis eram cavados por meses a fi o, nos quais a única luz era a das lâmpadas a óleo. Muitos morriam. Mas havia um lado positivo: ninguém era escravo. A região tinha uma longa tradição de exploração mineral, que datava do tempo dos fenícios e cartaginenses. Os nativos estavam mais que dispostos a se arriscar em busca de fortuna.
Até sete aquedutos eram usados para carregar águas da fonte até uma represa acima da montanha. Essa água era acumulada por dias e provinha de rios da região, que tem chuvas particularmente torrenciais durante o verão.
A comporta era aberta e inundava os túneis cavados de forma a comprometer a integridade estrutural do morro. Quando chegava ao fundo, sua pressão e a do ar comprimido causavam uma explosão, levando ao imediato desabamento.
Os romanos não conheciam a física da pressão — isso só foi esclarecido no século 17, por Robert Boyle. Mas tinham experiência prática graças a seu sistema de águas, que era baseado em gravidade, mas tinha partes pressurizadas para cruzar vales.
Os túneis não tinham saída, de forma que a água batia com muita força contra as paredes, causando um golpe de aríete — quando uma coluna de água encontra um obstáculo, com resultados destruidores.
Com a montanha reduzida a lama, bastava procurar pelo ouro a céu aberto, cavar superfi cialmente ou filtrar o barro em peneiras. Plínio, o autor da frase, diz que 20 mil libras romanas (6,5 toneladas) de ouro eram cavadas anualmente na região. Em 250 anos de operação, 1.650 toneladas do ouro espanhol encheriam os cofres do Império.
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