Totalmente conservados, os doces descobertos em janeiro deste ano foram um presente para tropas britânicas durante a Guerra dos Bôeres
Isabela Barreiros, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 11/02/2021, às 07h00
Foi durante uma avaliação de arquivo feita por uma equipe da Biblioteca Nacional da Austrália em 2 de janeiro deste ano que uma caixa curiosa foi encontrada. A instituição tinha acabado de adquirir a coleção de itens do poeta, autor e jornalista australiano Andrew Barton “Banjo” Paterson.
Os bibliotecários estavam no processo de desempacotar e digitalizar os conteúdos quando se depararam com uma lata que continha chocolates, embalados em palha e papel alumínio, no fundo de uma caixa. Segundo os especialistas, parecia que eles ainda estavam bons para comer.
No entanto, isso não poderia estar mais longe da realidade: aqueles doces tinham 121 anos, o que chocou a equipe. O estado de conservação do alimento era impressionante e ele estava ainda parcialmente embrulhado, o que dava o aspecto de “novo” à caixa levemente enferrujada.
Não foi muito difícil adivinhar a idade dos chocolates. Na embalagem, uma mensagem estava escrita, ao lado da imagem da Rainha Vitória. A inscrição dizia “África do Sul, 1900. Desejo-lhe um feliz ano novo, Victoria RI.”
Trajeto nada doce
A história de como os chocolates foram parar nas mãos de Paterson é curiosa. Os doces foram uma ideia da Rainha Vitória, encomendados e enviados por ela para a África do Sul durante a Segunda Guerra dos Bôeres. Eles eram presentes para as tropas britânicas.
O intuito era levantar a moral dos soldados, um gesto simbólico para apoiar os combatentes do conflito com os chocolates, considerados itens de boa qualidade no período em que eram fabricados.
A batalha era entre os colonos holandeses, chamados de bôeres, e o exército britânico. A Grã-Bretanha queria dominar as minas de diamante e ouro no local, o que acabou gerando o conflito entre as diferentes nacionalidades. Em apenas três anos, dezenas de milhares de pessoas morreram em decorrência da guerra.
Durante esse período, Paterson foi enviado para cobrir a Guerra dos Bôeres como correspondente do jornal Sydney Morning Herald. Ele ocupou o cargo por apenas um ano, quando provavelmente adquiriu a caixa de chocolates.
É possível que ele tenha comprado o doce, que tinha se tornado um item quente no mercado local, ou que o produto tenha sido um presente de alguma pessoa da região. Na verdade, não é possível saber exatamente como o poeta adquiriu os chocolates. O que se sabe é que eles foram encontrados intactos nos materiais do jornalista.
Um presente duradouro
A fábrica responsável pela fabricação dos chocolates, Cadbury, pertencia a dois irmãos conhecidos por seu pacifismo. John e Benjamin Cadbury não tinham nenhum interesse em apoiar a Guerra dos Boêres, mas acabaram sendo convencidos pela rainha.
Acredita-se que eles tenham concordado com a ideia para conseguirem vender mais os seus produtos, que, ao serem enviados pela própria monarca, demonstravam-se de excelente qualidade. Para alavancar sua reputação, os irmãos aceitaram.
Se os chocolates eram considerados de boa qualidade, o fato de eles estarem preservados até os dias de hoje pode ser uma evidência de que isso era verdade. A descoberta impressionante dos doces intactos causou uma enorme surpresa nos funcionários da biblioteca.
Hoje, os chocolates são considerados os mais antigos já encontrados intactos no mundo e devem passar por análises de especialistas, com o intuito de entender como os alimentos conseguiram se manter conservados por tanto tempo, totalmente sem querer.
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