Nesta sexta-feira, 3, o conflito, que preocupa o mundo desde seu princípio, completa 100 dias de duração
Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 03/06/2022, às 06h00
Em 24 de fevereiro, o governo da Rússia anunciou ao restante do mundo que havia invadido o território ucraniano, naquilo que chamou de "operação militar especial" para "desmilitarizar e desnazificar" a nação vizinha.
A notícia, embora chocante, não era nenhuma novidade para quem acompanhava a situação: desde o início de fevereiro, tropas russas eram vistas próximas da fronteira da Ucrânia, e diversas autoridades internacionais já haviam feito a previsão de que as tensões na região se aproximavam de um ponto de erupção.
No dia 21 de fevereiro, por exemplo, o Kremlin reconheceu a independência de duas regiões separatistas ucranianas, o que foi interpretado pela embaixadora dos EUA na ONU como um motivo de alerta:
Esse ataque à soberania e integridade territorial à Ucrânia é não provocado e claramente a Rússia está procurando um pretexto para uma futura invasão. Não podemos desviar o olhar. A história nos diz que olhar para o lado será um percurso muito custoso”, apontou Linda Thomas-Greenfield, conforme repercutido na época pelo UOL.
Infelizmente, a diplomata norte-americana estava correta. Atualmente, é inegável que a guerra entre os dois países causou perdas humanas e materiais imensuráveis em ambos os lados, além de abalar a economia mundial.
Um total de 100 dias de conflito foram completados, todavia, a paz ainda não parece estar no futuro próximo — ou, ao menos, é o que sugerem as atualizações a respeito das negociações de cessar-fogo entre autoridades russas e ucranianas, que prosseguem sem conseguir chegar a um acordo.
Relembre abaixo alguns dos pontos mais marcantes da trajetória do confronto militar até aqui.
Um dos efeitos mais imediatos da invasão da Ucrânia pelas forças russas foi o surgimento de uma onda de ucranianos buscando abandonar as regiões atacadas.
A princípio, destacaram-se os moradores de Kiev, a capital do território, que acordaram na manhã de 24 de fevereiro ao som de explosões, e logo iniciaram uma movimentação generalizada na direção oposta. Na foto abaixo, por exemplo, é possível ver a fila de carros que se formou:
Prevendo o fato que uma parcela da população da Ucrânia logo buscaria deixar seu país para fugir da guerra, a União Europeia anunciou, naquele mesmo dia, estar preparada para receber um "número ilimitado" de refugiados.
"Nós estamos preparados para abrigar todos os refugiados, estamos preparados para providenciar ajuda imediatamente, o que quer que for preciso, além de fornecer uma assistência financeira à Ucrânia de mais de 1 bilhão de euros. Nós não sabemos quantos refugiados existirão, mas estamos inteiramente preparados para recebê-los", afirmou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, segundo repercutido pelo portal Front News.
Em maio, a ONU revelou que o número de ucranianos a terem deixado seu território já passava de 6 milhões, configurando a pior crise de refugiados ocorrida na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Os deslocamentos dentro do próprio país também teriam levado mais da metade das crianças da Ucrânia a ficarem desabrigadas, de acordo com dados da Unicef.
É uma triste realidade que corre o risco de ter consequências duradouras para as próximas gerações. A segurança das crianças, seu bem-estar e o acesso aos serviços essenciais estão ameaçados por uma violência horrível e ininterrupta", declarou Catherine Russel, a diretora do órgão, segundo repercutido pelo UOL na época.
A decisão por parte do Kremlin de atacar a nação vizinha também gerou consequências imediatas em suas relações diplomáticas com o restante do mundo. Isso porque o conflito foi condenado pela maioria das autoridades internacionais.
Dessa forma, para desencorajar sua continuidade, inúmeros bloqueios econômicos foram impostos pela União Europeia, Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, Japão e muitos outros países.
Foi realizado o congelamento de bens e ativos bancários de uma série de empresários e integrantes do governo russo, assim como a interrupção de importações de produtos russos como o petróleo e os diamantes.
Mais de mil empresas também decidiram cortar laços com a Rússia, suspendendo suas operações no país, de acordo com informações apuradas pela BBC. Algumas das marcas mais famosas deste grupo são Uber, Nike, Netflix, Prada, McDonald's, Coca-Cola, Starbucks, Mastercard e Visa.
A cobertura de guerra feita pela televisão estatal russa foi amplamente criticada devido à sua narrativa pró-invasão, o que não é uma surpresa quando se leva em conta que esses veículos pertencem ao governo russo.
Ao mesmo tempo, no início de março, poucos dias após o começo do conflito contra a Ucrânia, o Kremlin aprovou leis proibindo que seus cidadãos se manifestassem de forma contrária ao confronto, sob a ameaça de penas de até 15 anos de prisão, conforme apurado pela CNBC.
A despeito do ambiente repressivo, diversos jornalistas, membros da população russa e até mesmo um veterano do exército fizeram críticas às ações tomadas pelo governo de Putin.
Um dos exemplos de destaque é Marina Ovsyannikova, uma repórter cuja coragem impressionou o mundo após ela segurar um cartaz com a mensagem "Não acredite na propaganda. Eles estão mentindo para você aqui" em meio a um noticiário ao vivo da televisão estatal russa. Para completar sua manifestação, Ovsyannikova ainda entoava "Pare a guerra. Não à guerra".
Outra figura admirável é o coronel Mikhail Khodaryonok, um ex-militar estrategista que usou uma entrevista a uma emissora também pertencente ao Kremlin para expressar seu posicionamento contrário ao conflito:
A principal deficiência de nossa posição político-militar é que estamos em plena solidão geopolítica e — por mais que não queiramos admitir — praticamente o mundo inteiro está contra nós... e precisamos sair dessa situação", alertou o veterano.
Além desses personagens, cujos nomes viajaram o mundo, informações repercutidas pelo The Economist em março deste ano mostravam que mais de 15 mil cidadãos russos anônimos haviam sido presos em protestos anti-guerra. O dado, embora triste, mostra que nem toda a população da Rússia é convencida pela narrativa apresentada pelo Kremlin.
No início de abril, fotografias tiradas na cidade ucraniana de Bucha, então recentemente abandonada pelos soldados russos, marcaram um dos episódios mais perturbadores da invasão militar.
Nas imagens, centenas de cadáveres de pessoas vestidas com roupas de civis se encontravam caídos pelas ruas. O massacre, que incluiria mais de 400 corpos, chocou o mundo, e levou a ONU a pedir que fosse iniciada uma investigação a respeito de possíveis crimes de guerra cometidos pela Rússia.
Volodymyr Zelensky, por sua vez, o chefe de estado do país invadido, classificou o acontecimento como um "genocídio" em entrevista à CBS:
Somos cidadãos da Ucrânia e não queremos ser subjugados à política da Federação Russa. Esta é a razão pela qual estamos sendo destruídos e exterminados, e isso está acontecendo na Europa do século 21. Esta é a eliminação de toda uma nação e seu povo. Isto é genocídio", declarou o líder.
A guerra iniciada pelo governo russo ainda levou a uma ocorrência inédita, em que Vadim Shishimarin, um soldado de 21 anos pertencente às tropas invasoras, foi julgado por um crime de guerra.
O fato do episódio que motivou o julgamento ter ocorrido apenas semanas antes, em um confronto armado que ainda não havia sido finalizado, tornava a situação sem precedentes, segundo repercutido pelo The Guardian.
Shishimarin foi acusado de ter assassinado um civil desarmado de 62 anos, crime que confessou ser culpado de cometer. O militar, que recebeu a prisão perpétua, pediu desculpas à esposa da vítima em tribunal.
Embora esse tenha sido o primeiro membro das tropas russas a ser levado à justiça na Ucrânia por conta do embate, vale mencionar que o procurador-geral da Ucrânia já realizou a documentação de outros 11 mil caso semelhantes, que estão na fila para serem também processados.
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