Em entrevista exclusiva ao site da AH, a estudiosa contou sobre as muitas conquistas que atingiu em seus 13 anos de carreira
Pamela Malva Publicado em 19/06/2021, às 08h00
Unhas sujas com a terra recém-escavada, roupas manchadas com o tom amarronzado e o leve cheiro de grama molhada. Quase todos reconhecem o cenário de cavar um buraco no jardim ou em um gramado, seja para plantar ou enterrar alguma coisa.
Para a pequena Valdirene Ambiel, todavia, os buracos no chão eram muito mais do que uma brincadeira de criança. Em sua imaginação, aqueles eram pequenos portais para uma outra realidade, um passado diferente do que ela lia nos livros de história.
“Sempre gostei de escavar buracos, e quando encontrava algum fragmento de louça, cerâmica entre outros artefatos, era uma festa”, revela a atual arqueóloga, em entrevista exclusiva ao site da Aventuras na História. “Imaginava por quem aquele material era usado, e como. Questões que normalmente são abordadas por arqueólogos.”
Atraída por filmes e séries que retratam épocas antigas, Valdirene cresceu interessada no passado e, mesmo sem saber, traçou seu caminho até aqui. “A história e a arqueologia sempre estiveram presentes em minha vida desde minha infância”, conta a estudiosa.
“Conforme eu crescia, o interesse pela história e arqueologia cresciam”, lembra. “Eu passei a acompanhar documentários, ler livros e conferir, mesmo que fossem romances, se os fatos apresentados condiziam com a época histórica apontada.”
A preocupação com a veracidade dos fatos e a curiosidade para descobrir mais sobre àquelas épocas, então, deixaram de ser apenas um passatempo. “Fui me informar sobre como eu poderia me tornar historiadora e arqueóloga. Vi que era possível, e que conseguiria trabalhar e me sustentar nestas carreiras. Daí foi estudar muito”, narra.
Foi assim que Valdirene formou-se em Licenciatura Plena em História, completando seu Mestrado em Arqueologia logo em seguida. Hoje, ela segue na carreira acadêmica e busca completar seu doutorado, enquanto acumula trabalhos impressionantes. “O próximo passo será o Pós-Doutorado”, comenta a arqueóloga.
Entre trabalhos arqueológicos para o restauro do Quartel da Luz, e a identificação, preservação e acondicionamento dos remanescentes humanos de Francisco Adolfo de Varnhagen, Valdirene também realizou uma das pesquisas mais expressivas quando o assunto é a Família Imperial Brasileira.
“Todo pesquisador tem um estudo ao qual possui um maior tempo para se dedicar por vários motivos. Este é o caso do meu trabalho com os primeiros imperadores do Brasil: D. Pedro I, D. Leopoldina e D. Amélia. Eles são meu objeto de pesquisa desde 2007”, narra a arqueóloga, lembrando da experiência que ela classifica como “maravilhosa”.
Do trabalho e das revelações feitas com o corpo de Dom Pedro I e suas parceiras, Valdirene lançou um livro, ‘O Novo Grito do Ipiranga’, em 2017. Essa foi a forma que a arqueóloga encontrou de “despertar o interesse do brasileiro pela história de seu país”.
“Após minha dissertação de Mestrado em Arqueologia, em fevereiro de 2013, eu quis mostrar para as pessoas o que, por quê, como e para que eu havia feito minha pesquisa nos remanescentes humanos dos imperadores”, explica a historiadora.
Parte do lançamento da obra vem da vontade que Valdirene sente de disseminar seu conhecimento. “Devemos continuar lutando pelo reconhecimento da importância de nossas pesquisas, e pela preservação do nosso patrimônio arqueológico e histórico. Com relação aos projetos do futuro. Sim, tenho alguns, mas estão no futuro”, narra.
É pensando no conhecimento e na educação, inclusive, que a arqueóloga afirma que os atuais cortes na educação brasileira “são difíceis de entender”. Principalmente porque, no começo de sua carreira, um dos primeiros obstáculos que ela encontrou foi conseguir os recursos financeiros necessários para a própria educação.
“Eu estava sem emprego formal. Sobrevivia com trabalhos esporádicos que conseguia”, lembra. Isso tudo sem contar os obstáculos que sua própria saúde lhe impunha. “Não preciso dizer os motivos que não estava passando bem, mas na época de minha graduação cheguei a pesar apenas 47 quilos”, comenta a estudiosa.
Mesmo assim, Valdirene nunca pensou em desistir, principalmente porque, “sem os estudos arqueológicos não teríamos formas de interpretar, deduzir como seria a vida no passado”, coisa que ela entende que fazem “parte da pesquisa do arqueólogo”.
“Desistir? Jamais, pois amo muito minhas duas profissões, e tenho o maior orgulho delas”, comenta a arqueóloga. “Todas as pessoas passam por problemas, isso é normal. Quando você quer, realmente alguma coisa, deve lutar sempre.”
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