A emancipação dos países de língua espanhola teve características diferentes da independência do Brasil
Joseane Pereira Publicado em 27/10/2019, às 09h00
Enquanto o Brasil vivia o período Imperial, com um poder moderador vindo do Rio de Janeiro e a influência de senhores de engenho que garantiam a união entre os Estados brasileiros, seus vizinhos da América Espanhola fervilhavam em guerras de independência contra o Império Espanhol, enfraquecido no início do século 19 pelas guerras napoleônicas.
Os processos de independência tiveram participação de liberais e conservadores, e também a presença de líderes independentistas como José de San Martí e Simón Bolívar, que atuaram com objetivo de criar territórios independentes política e economicamente.
Confira alguns dos processos de independência da América Espanhola.
Argentina
O território da atual Argentina, que no século 19 fazia parte do Vice-Reino do Rio da Prata, proclamou sua independência na cidade de Buenos Aires em 25 de maio de 1810, no que ficou conhecida como Revolução de Maio. Liderado inicialmente pelos militares Cornelio Saavedra e Manuel Belgrano e pelo advogado Mariano Moreno, o processo de independência durou 15 anos (1810 - 1825), mas só foi reconhecido pelo império Espanhol em junho de 1859, durante o reinado de Isabel II.
Bolívia
Uma das primeiras colônias a se rebelar contra o domínio espanhol, a Bolívia proclamou sua independência em julho de 1809, quando Pedro Domingo Murillo liderou uma revolta de criollos (descendentes de espanhóis nascidos na América) e mestiços. Seguiram-se anos de luta até o estabelecimento da república, em 1825, que foi nomeada em homenagem a Simón Bolívar. As guerras de independência da Bolívia marcaram, junto à independência da Argentina e do Uruguai, o desmembramento do Vice Reino do Rio da Prata.
Chile
A independência do Chile ocorreu no dia 12 de fevereiro de 1818, sob liderança do estadista chileno Bernardo O’Higgins, do general criollo José de San Martin e do britânico Lord Thomas Cochrane. O processo teve amplo apoio da Igreja Católica e, diferente de outras independências da América Espanhola, esta deixou o país à mercê do imperialismo inglês, que preservou privilégios da elite criolla sobre a população como a continuidade do sistema latifundiário.
Colômbia
O processo de independência da Colômbia teve seu início em 1810 sob a liderança do militar Antonio Nariño e do acadêmico Camilo Torres. O processo terminou em 1819 com auxílio de Bolívar, convertendo o território do Vice Reino de Nova-Granada em uma república que ficou denominada "Grã-Colômbia". Dentre os planos de Bolívar para integrar os territórios da América Espanhola em uma grande nação, a conquista da Colômbia tinha papel central por facilitar a entrada no território da Venezuela.
Costa Rica
Localizado na América Central, o território se libertou do domínio Espanhol em setembro de 1821, passando a incorporar a chamada República Federal Centro-americana junto aos atuais Guatemala, El Salvador, Honduras e Nicarágua. Os territórios da América Central passaram por várias tentativas de unificação por parte dos liberais centro-americanos, que acreditavam na possibilidade de criação de uma nação moderna e enriquecida pelo comércio internacional, ligando os oceanos Atlântico e Pacífico. A República Centro-americana foi dissolvida em 1838.
Cuba
A declaração de independência cubana foi redigida em 1868 pelo advogado e proprietário rural Carlos Manuel de Céspedes, que libertou seus escravos e incentivou-os a se unir à luta anticolonialista, dando início à Guerra de Dez Anos. Com o tempo, os conflitos deram origem à Guerra Hispano-Americana (1895 - 1898), que teve intervenção dos EUA e terminou com a assinatura do Tratado de Paris, no qual a Espanha concedia o controle de Cuba aos Estados Unidos. Até hoje, Cuba sofre o jugo da intervenção norte-americana em sua economia e política.
Equador
A emancipação do Equador do domínio espanhol ocorreu entre 1809 e 1822, dirigida pelo general Sucre com apoio de Simón Bolívar. Após essa data o território fez parte da Grã Colômbia, dirigida por Bolívar, se tornando uma república independente apenas em 1830. Entretanto, o local foi palco de instabilidades políticas e econômicas até 1860, quando o conservador Gabriel García Moreno, com apoio da Igreja Católica, estabilizou a economia e a agricultura do país.
Guatemala
A Guatemala também fazia parte da República Federal Centro-americana. Sua independência em relação ao domínio Espanhol se deu em 1821 e, como já vimos em relação à Costa Rica, a Guatemala passou a fazer parte da República Federal Centro-americana. O colapso da federação foi resultado de uma forte oposição liderada pelo general conservador Rafael Carrera, que assumiu o poder da Guatemala em 1838 à frente de um exército popular, promulgando a independência em 21 de março de 1847. Já no ano de 1871 teve início uma revolução que iniciou um período liberal no país, marcado pela política de desenvolvimento econômico do presidente Justo Rufino Barrios.
Honduras
Também fazendo parte da República Centro-americana, Honduras proclamou-se um estado soberano e independente em 1838. O primeiro presidente constitucional foi o conservador Francisco Ferreira, eleito em 1841, e o território passou a ser palco de uma disputa pelo poder entre liberais e conservadores. A eleição do liberal Marco Aurelio Soto em 1876 levou à promulgação de uma nova Constituição hondurenha. O país foi por muito tempo liderado por caudilhos, líderes políticos ligados a setores tradicionais, como o Exército e o setor agrícola.
México
A emancipação do México foi declarada em 16 de setembro de 1810, a partir da revolta do povo mexicano contra a exploração do Reino da Espanha. Liderada pelos padres católicos Miguel Hidalgo e José Maria Morelos e com forte influência da Revolução Francesa, a guerra durou de setembro de 1810 a setembro de 1821 quando, sob o comando do general Agustín Itúrbide, os colonos mexicanos conquistaram a independência.
Nicarágua
O país alcançou sua independência também em 1821, sendo anexado ao território das Províncias Unidas do Centro américa. No entanto, conflitos entre liberais e conservadores acabaram desestruturando sua unidade territorial e, em 1854, eclodiu uma guerra civil na Nicarágua entre o Partido Conservador e o Partido Democrático, que buscou apoio do militar e aventureiro norte-americano William Walker para a tomada de poder. Walker dominou politicamente a Nicarágua entre 1856 e 1857 com a intenção de estabelecer uma colônia de domínio pessoal. Após o incidente, as disputas políticas continuaram e foram visivelmente marcadas pela intervenção política britânica e norte-americana.
Paraguai
O país alcançou sua emancipação em 15 de maio de 1811 quando, liderados pelos militares Fulgencio Yegros e Pedro Juan Caballero, os paraguaios depuseram o governador espanhol Bernardo Velasco e proclamaram a independência. Após a independência, um governo totalitário foi instaurado pelo político José Gaspar Francia, que manteve uma política isolacionista com o objetivo de deter as ambições expansionistas do Brasil e da Argentina e a penetração estrangeira na economia.
Peru
A independência do Peru foi proclamada em julho de 1821 pelo general argentino José de San Martín, que estava no comando de campanhas libertadoras no Peru, Argentina e Chile. Desentendimentos locais entre a elite criolla e o império espanhol contribuíram no processo independentista, gerando um processo de batalhas contra os exércitos da Espanha que durou até 1824 e teve seu fim na Batalha de Ayacucho, onde o Exército libertador comandado pelo general Sucre venceu o Exército de Operações do Peru, comandado pelo vice-rei José Hinojosa.
Uruguai
O país iniciou seu processo de revolução em 1811, com o que ficou conhecido como Grito de Ascencio. A capital uruguaia foi palco de uma luta armada entre os anos de 1810 e 1814, liderada pelo General José Artigas, que culminou com a anexação do território ao Brasil. Apenas em 1835 o líder político Juan Antonio Lavalleja, com a ajuda de tropas argentinas, expulsou os brasileiros do Uruguai.
Venezuela
O país declarou sua independência em julho de 1811, quando o militar Francisco de Miranda, a pedido de Simón Bolívar, assumiu o comando da nova República, gerando um processo ditatorial que culminou em seu assassinato e a rendição dos revolucionários ao jugo espanhol. Em 1813 Bolívar volta ao país e, com a ajuda da população, resgata a capital Caracas do domínio Espanhol e se nomeia Presidente da Venezuela, aclamado pelo povo como “El Libertador”.
Saiba mais sobre alguns dos países destacados na lista
Os argentinos, Ariel Palacios, 2013
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A Potência Plebeia. Ação Coletiva e Identidades Indígenas, Operárias e Populares na Bolívia, Àlvaro García Linera, 2010
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Chile E Ilha de Páscoa. Guia Visual, Vários Autores, 2011
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Costa Rica. Guia Visual, Vários Autores, 2009
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