Os 'senhores do deserto' fizeram de Petra um Oásis de sombra e água fresca; um deslumbre de arquitetura
Diego Bercito Publicado em 08/05/2021, às 10h00 - Atualizado em 10/04/2022, às 10h00
No meio do caminho tinha uma pedra. Na verdade, tinha Petra, uma cidade construída entre montanhas, com fachadas monumentais esculpidas nas rochas e que era
passagem obrigatória para o mercador que quisesse atravessar o deserto.
As caravanas carregadas de especiarias, incensos, perfumes e sedas vinham do sul da Arábia (atuais Iêmen e Omã) e encontravam ali água em abundância e um lugar seguro para descansar. Mas tanta hospitalidade não saía de graça.
Para usufruir desse conforto e chegar ao porto de Gaza, onde embarcariam seus produtos para a Europa, todos os viajantes tinham de pagar um pedágio aos donos desse oásis, os nabateus. Foi assim que Petra, atualmente território da Jordânia, tornou-se um dos maiores centros comerciais do Oriente Médio, capital do Império Nabateu.
Seus habitantes dominaram a disputada Rota do Incenso e acumularam uma riqueza extraordinária. Para isso, usaram o conhecimento que tinham do deserto e uma tecnologia avançada de aproveitamento da água.
Além do fato de estarem em um ponto estratégico: não havia outro acesso a esses produtos de alto valor. Para alguns especialistas, o império se formou no século 4 a.C., a partir de tribos árabes que, em algum momento, perceberam que seria melhor vender serviços e produtos aos viajantes que saqueá-los. Cobravam até a água tomada pelo camelo, o que, em pleno deserto, era um tesouro.
Os nabateus criaram um sistema complexo de aquedutos, calhas e cisternas, que recolhia a água da chuva e a redistribuía pela região. Com isso, irrigavam a terra e podiam oferecer banho e água limpa para beber. Fizeram a cidade ao longo de um planalto, a 1500 metros de altitude, o que facilitava o escoamento dos reservatórios e a defesa contra inimigos.
Outro trunfo dos nabateus era saber montar camelos, enquanto seus adversários ainda lutavam a cavalo. No século 3 a.C., o rei Antígono Dóson, da Macedônia, tentou conquistar a cidade. Sob seu comando, os gregos lançaram-se – a cavalo – contra as fronteiras do império, mas foram superados pelos nabateus e seus camelos, animais adaptados ao deserto, que podem ficar até sete dias sem água (ou mais, se permanecerem inativos).
Desde o início, essa civilização mostrou grande capacidade de sobrevivência. Resistiu a assírios, medos e macedônios, antes de se tornar um reinado. O auge dos nabateus veio com o pacífico e rico reinado de Aretas IV, de 9 a.C a 40 d.C.
Em Atenas, Roma e Damasco, queimava-se incenso em rituais medicinais, religiosos e funerários. Acreditava-se que tinha qualidades curativas, purificava os espíritos e agradava aos deuses, em oferendas.
A ascensão do Império Romano espalhou o hábito pelo mundo, fez disparar a valorização do produto e, também, a travessia por Petra. As riquezas mudaram o jeito de ser dos beduínos.
Nômades acostumados a viver em acampamentos, viraram prósperos negociantes sedentários, que precisavam guardar seus tesouros.
O caráter andarilho, contudo, deixou marcas. Os nabateus eram desprendidos e incorporaram à sua cultura influências dos diferentes povos que conheceram, sem preconceitos, especialmente gregos, romanos e indianos.
Essa mistura de estilos está presente nas gigantescas fachadas esculpidas em rocha nua, que refletem a luz do deserto e que fizeram Petra famosa entre as cidades da época e uma das novas Sete Maravilhas do Mundo.
As tonalidades das construções de pedra variam entre o laranja, o vermelho e o rosa. São monumentos extraordinários, que arrancavam e ainda arrancam suspiros dos estrangeiros de passagem pela cidade.
Tão bonitos que, diz a lenda, Cleópatra teria pedido a César que lhe desse a cidade de presente, como prova de amor. Não se sabe com certeza para que serviam essas joias da arquitetura.
Uma hipótese é a de que os monumentos foram feitos para impressionar os visitantes e espalhar a fama do império. Escavações feitas em apenas 2% da área central de Petra revelaram 800 construções.
Apesar de já habitarem a região havia séculos, os nabateus se organizaram como um reinado apenas em 168 a.C., com Aretas I, seu primeiro rei. Depois, envolveram-se em muitas guerras com os judeus, que ocupavam a margem oposta do Mar Morto.
Obodas I (96-86 a.C.) teve tanto sucesso nas conquistas, às quais somou parte do território da Síria (tomada dos selêucidas), que foi deificado e batizou uma cidade. Seu sucessor, Aretas III (86-62 a.C.), enquanto ocupava Damasco, entrou em contato com a cultura helênica e adotou o título de Philhellene, o amante dos gregos.
Dali em diante, a história dos nabateus vai se entrelaçando à dos romanos, de quem foram às vezes aliados, às vezes inimigos. Em 31 a.C., o imperador nabateu Malichos I queimou os navios de Cleópatra que, em fuga, tentavam cruzar o Mediterrâneo. Era o fim da batalha de Actium, em que o romano Marco Antônio (83-30 a.C.) foi vencido por Otávio, levando ao suicídio a rainha do Egito.
Em 20 d.C., a sorte mudou. O grego Hipalo descobriu um caminho marítimo para o Oriente e encerrou o monopólio nabateu na Rota do Incenso. A crise econômica de Petra coincidiu com lutas contra judeus e romanos, que precipitaram sua decadência.
“No fim do século 1 d.C. o reinado dos nabateus era a única peça que faltava no quebra-cabeça romano do Oriente Médio”, descreve Jane Taylor no livro Petra and the Lost Kingdom of the Nabataeans (“Petra e o reino perdido dos nabateus”), sem tradução no Brasil.
Em 106 d.C., foi anexado a Roma: o latim e o grego (dos bizantinos) substituíram a variação de aramaico falada em Petra. Depois, ainda no século 2, um terremoto causou imensos estragos à cidade, que, ao longo do tempo, foi virando uma lenda. “Após a Idade Média, não houve mais registro sobre Petra, envolta em uma névoa de mistérios. A população local escondia a região, porque acreditava que ali havia um tesouro”, contou a arqueóloga Martha Sharp Joukowsky.
No século 19, restavam apenas relatos antigos, não comprovados. O primeiro ocidental a rever Petra, depois dos cruzados do século 13, foi o explorador suíço Johann Ludwig Burckhardt, um apaixonado pela cultura islâmica. Em 1812, ele se disfarçou de muçulmano e convenceu um beduíno a lhe mostrar o caminho. Conseguiu, assim, revelar novamente ao mundo a capital do Império Nabateu.
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