A organização fundamentalista islâmica voltou ao poder, causando preocupação por parte de diversas nações
Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 16/08/2021, às 19h35
O mundo entrou em estado de alerta após o Talibã voltar a controlar o governo do Afeganistão no último domingo, 15. Fazia vinte anos que o grupo fundamentalista islâmico estava longe do poder, desde 2001, quando as tropas norte-americanas invadiram o país.
Neste ano, com a decisão do presidente norte-americano Joe Biden de fazer uma retirada gradual do exército, seguindo um acordo de paz iniciado na gestão de Donald Trump, o que foi iniciado em maio, os fundamentalistas viram uma brecha para retomar o controle do território afegão, e começaram sua investida.
Eles conquistaram o comando de diversas cidades, até finalmente chegarem na capital, Cabul, e ocuparem o palácio presidencial, oficializando assim sua volta ao poder.
Assim, muitos se perguntam: Como nasceu esse grupo extremista que atraiu os olhos do restante do mundo ao regressar a uma posição de domínio?
A organização política nasceu no Paquistão nos anos 90, com a saída de combatentes soviéticos, posteriormente migrando para o Afeganistão. Segundo repercutido pelo G1, os primeiros membros possivelmente foram fruto de seminários religiosos financiados pela Arábia Saudita que pregavam uma interpretação extrema do Alcorão.
Na época, o governo afegão já era islâmico, todavia, os integrantes da milícia fundamentalista viam a lei islâmica de maneira diferente da grande maioria dos muçulmanos, e queriam estabelecer um regime de acordo.
Eles subiram ao poder em 1996, e estabeleceram uma série de regras, muitas delas restringindo a liberdade das mulheres.
As afegãs passaram a ser proibidas de estudar depois que fizessem nove anos de idade, além de serem obrigadas a usar a burca, vestimenta que cobre o corpo inteiro, incluindo os olhos.
O Talibã também estabeleceu punições mais violentas para os crimes. Assassinos e pessoas que tinham casos fora do casamento começaram a ser executados publicamente. Roubo, por sua vez, era castigado com mutilação.
Uma outra postura intransigente adotada pelo regime fundamentalista islâmico foi em relação às manifestações culturais: foi banida a música, os filmes, a televisão e até mesmo a maquiagem.
O novo e radical governo afegão foi reconhecido como legítimo por apenas três nações: Emirados Árabes, Arábia Saudita e Paquistão. Vale comentar também que este último país foi o último a deixar de legitimar a gestão extremista.
Em 2001, a Al-Qaeda, movimento terrorista árabe, havia acabado de realizar o atentado de 11 de setembro, que causou a queda das Torres Gêmeas, e o Talibã foi acusado de abrigar os membros da organização, incluindo seu fundador, Osama Bin Laden.
Os soldados norte-americanos que adentraram o território afegão naquele ano foram capazes de desestabilizar e derrubar o regime fundamentalista islâmico no Afeganistão.
A presença das tropas ocidentais no local durante duas décadas, todavia, não impediram que o grupo continuasse a exercer influência na região, se reorganizando e preparando para recuperar o domínio do país no decorrer das décadas.
De acordo com estimativas recentes da OTAN, atualmente o grupo possui por volta de 85 mil integrantes.
Um detalhe importante é que houve diversas negociações nos últimos anos entre o Talibã, o governo afegão e o governo dos Estados Unidos.
Apesar de a organização radical ter sofrido mudanças ao longo dos anos, a interpretação rígida dos textos religiosos persiste. Além disso, não é possível determinar quantas das características de seu último mandato irão voltar a ser uma realidade para a população do Afeganistão.
Em reação aos eventos recentes, a ONU fez uma reunião de emergência em que o secretário-geral do órgão, Antonio Guterres, frisou a necessidade da “comunidade internacional” unir-se para impedir as violações de direitos humanos no país e a possibilidade do local voltar a se tornar um “refúgio de organizações terroristas”.
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