Para evitar a gravidez, pesquisadores relatam históricos de poções com metais pesados, cocô no órgão reprodutor e até amuletos
Letícia Yazbek, atualizado por Wallacy Ferrari Publicado em 18/05/2021, às 13h00
Presente de maneira livre e massiva em farmácias e drogarias pelo mundo, os anticoncepcionais seguem um ciclo óbvio de interrupção: a natalidade. Com o intuito de controlar a chegada de filhos, a invenção de métodos contraceptivos de fácil manejo e aquisição, no entanto, são relativamente recentes na civilização.
O que não quer dizer que não se tenha ido bem além do coito interrompido — o pecado de Onã, pelo qual foi castigado com a morte pelo próprio Deus — para evitar o aumento da prole antes da chegada da primeira pílula, em 18 de agosto de 1960, nos Estados Unidos.
O desconhecimento de como a gravidez de fato acontecia fez com que teorias supersticiosas povoassem o imaginário e fossem passadas de geração a geração. Na obra 'Tales of Contraception' ('Histórias da Contracepção', em tradução livre), o pesquisador Percy Skuy conta que, por volta de 2.000 a.C., as chinesas eram encorajadas a beber óleo com chumbo ou mercúrio para evitar filhos ou provocar o aborto. Funcionava: quem não ficava estéril, morria.
A relação entre o sêmen e a gravidez já estava clara para os antigos egípcios; por volta de 1500 a.C., eles desenvolveram contraceptivos de barreira – que impedem a entrada do esperma no útero.
Em um deles, as mulheres inseriam na vagina uma mistura quase sólida, feita de mel, carbonato de sódio e fezes de crocodilo. Pesquisas recentes indicaram que a teoria fazia sentido, visto que o cocô do réptil aumenta o pH vaginal, contribuindo para a ação contraceptiva.
Outra técnica egípcia da época era colocar na vagina um pedaço de algodão embebido numa pasta de acácia. Enquanto o algodão servia de tampão, a planta se transformava em ácido lático, com propriedades espermicidas comprovadas.
Mil e cem anos depois, Hipócrates recomendava sementes de cenouras selvagens como uma pílula do dia seguinte — capazes, hoje se sabe, de impedir a síntese de progesterona.
Contudo, a ajuda da natureza não freou as ideias exóticas.No ano 200, também na Grécia, o médico Soranus dizia às mulheres que prendessem a respiração durante o sexo para evitar que o esperma chegasse ao útero.
Na Europa, durante a Idade Média, as mulheres eram aconselhadas a “amarrar os testículos de um roedor nas coxas antes da relação, ou pendurar o pé amputado do animal ao redor do pescoço”, como reconta a bióloga Janet Lieberman, autora de 'A Short History of Birth Control' (“Uma Breve História do Controle de Natalidade”, em tradução livre).
Um tipo de amuleto, entre tantos outros testados com o mesmo fim, como grinaldas de ervas, fígado de gato e fragmentos de ossos de gatos. Também se achava que a gravidez seria evitada se a mulher urinasse no exato local em que uma loba gestante tivesse feito o mesmo.
No século 18, vieram preservativos feitos de tripas de animais. E já era 1870 quando Charles Goodyear inventou a técnica da vulcanização da borracha. Surgiam os primeiros preservativos parecidos com os atuais.
Mas só a chegada do dispositivo de contracepção intrauterino (DIU), em 1920, e da pílula anticoncepcional, em 1960, aposentou de vez os amuletos e métodos antigos. Hoje, estima-se que mais de 60% das mulheres com mais de 30 anos de idade recorram à pílula, como registrou a revista Galileu.
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