Cláudio Antonio Guerra - Divulgação
Personagem

Cláudio Guerra, o ex-delegado do Dops que sumia com os cadáveres da ditadura militar

O oficial, que incinerava cadáveres e matava militantes, afirma não combater a esquerda nos dias atuais

Caio Tortamano Publicado em 05/02/2020, às 08h00

Acusado de eliminar 12 cadáveres nos anos de 1974 e 1975, em plena ditadura militar, Cláudio Antonio Guerra foi um ex-delegado da Dops, o antigo Departamento de Ordem Política e Social, que queimava corpos em uma usina de açúcar desativada em Campos de Goytacazes, no Rio de Janeiro.

Seus assassinatos começaram durante a Operação Radar, que executaria 19 militantes do Partido Comunista Brasileiro, incluindo Vladimir Herzog. Aos 30 anos, era um dos responsáveis por matar pessoas que fossem contra o regime militar.

No entanto, seu trabalho envolvia queimar os corpos despachados por militares. Em geral, as vítimas eram militantes de esquerda perseguidos pelo Dops. Hoje, com 79 anos, Guerra afirma não agia por conta própria, mas sob as ordens de superiores na hierarquia do exército.

Ele aguardava com seu carro em frente à Casa da Morte, em Petrópolis. O lugar era conhecido como o abatedouro dos militares durante a ditadura no Rio de Janeiro, usado para assassinar os opositores do regime. Os defuntos vinham dentro de sacos, os quais Antonio Guerra confessa já ter aberto para dar uma espiada.

Ele nunca negou nenhum de seus crimes. Tanto em seu livro, Memórias de uma Guerra Suja, 2012, como no documentário Pastor Cláudio (que narra a vida do ex-oficial) ele afirma categoricamente ter matado, pelo menos, 20 pessoas.

Quando os corpos não eram queimados, Guerra e os militares jogavam os defuntos na água, sempre arrancando parte do abdômen para que não se formassem gases e o corpo boiasse, ou acabasse indo para a superfície.

De preferência, esses restos teriam que ser despejados em rios, porque a maré do mar poderia trazer de volta os “desaparecidos” da ditadura militar. O jeito mais eficiente, na realidade, era usar a Usina Cambahyba. A ideia foi de Guerra, que já conhecia o dono do local e usava pra desovar corpos de criminosos comuns.

Na processadora de açúcar, o cheiro da putrefação dos corpos não era muito evidente, já que o vinhoto (subproduto do açúcar e etanol) tinha um cheiro característico e forte, mascarando o desagradável cheiro dos cadávares apodrecidos.

"Vi quando me chamam de assassino. Destilam ódio e, enquanto for assim, o objetivo de termos uma nova sociedade em que se perdoa os erros que foram cometidos. Teve vítimas fatais dos dois lados", afirmou Guerra à Folha em 2019. "Hoje eu não combateria a esquerda, embora não concorde com o comunismo. Hoje eu quero paz".

Cláudio cumpre prisão domiciliar depois de ter sido condenado pela morte de sua esposa e de sua cunhada, ainda na ditadura. As mulheres, ambas encontradas em um lixão em 1980, não foram obra do ex-militar, segundo as suas próprias palavras.

Com a lei da Anistia, os crimes perpetrados por Cláudio Guerra demoraram até serem julgados, na realidade, somente em 2019 virou réu pela Justiça Federal. Hoje em dia ele trabalha como ministro da Assembleia de Deus, e prefere ser chamado como Pastor.

Durante a ditadura, sua participação no regime e no exército dava acesso a um casarão que recebia mais de 100 pessoas, com bastante luxo. Agora, o Pastor mora em uma pequena casa em Vila Velha, no Espírito Santo, reconhecendo sua frieza e crueldade no período militar.


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