O fato do famoso escritor brasileiro modernista nunca ter se casado o levou a ser alvo de especulações; entenda!
Ingredi Brunato Publicado em 13/05/2023, às 15h00 - Atualizado em 30/10/2023, às 17h17
Poeta, contista, romancista, crítico literário e estudioso do folclore, Mário de Andrade é um dos mais proeminentes escritores da literatura brasileira. Além de estar por trás do importante livro "Macunaíma", o intelectual paulistano foi um dos fundadores do movimento modernista no país.
Conhecido com um dos envolvidos na criação da Semana de Arte Moderna em 1922, iniciativa que realizou ao lado de Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Menotti Del Picchia, o artista teria também dado o pontapé inicial à poesia modernista com a obra "Pauliceia Desvairada".
A importância de Mário de Andrade para a literatura nacional é tanta que mesmo as cartas que enviou durante sua vida são alvo de estudo. Entre elas, estão as trocadas com o poeta Manuel Bandeira, que as publicou entre 1948 e 1951, poucos anos depois da morte do ícone modernista por infarto.
Em seu prefácio às primeiras mensagens pessoais divulgadas, Bandeira disse:
Além de retratarem com tanta verdade o seu autor, são estas cartas do maior interesse para a compreensão de sua obra, sobretudo de sua poesia, porque o meu saudoso amigo costumava expor-me a motivação, gênese e trabalhos de construção de suas produções, quer se tratasse de um romance, de um ensaio, de um livro didático, ou de um simples poema. Pedia-me opinião e crítica. Eu dava-as. Ele redarguía. Discutíamos. Eram longas missivas 'pensamentadas', como certa vez ele as qualificou".
Nem todas as conversas dos dois autores, no entanto, eram sobre suas produções literárias. Uma mensagem escrita por Mário de Andrade em 7 de abril de 1928, em particular, chama a atenção devido aos assuntos delicados abordados.
Na publicação original, seu conteúdo teria sido, inclusive, censurado. Já em 2015, porém, o Museu Fundação Casa de Rui Barbosa, que estava em posse do misterioso documento histórico desde 1978, o publicou na íntegra após um pedido do jornalista Marcelo Bortoloti.
Conforme repercutido na época pela Folha de São Paulo, o profissional de imprensa entrou em contato com a Controladoria Geral da União (CGU) e tinha sua solicitação apoiada pela Lei do Acesso à Informação.
Vale apontar que aquela era a única correspondência de Mário a Bandeira em seu acervo que a Fundação nunca havia disponibilizado ao público.
Na carta, o co-fundador do Modernismo, que nunca se casou e, àquela altura, tinha 35 anos e fama de levar uma vida boêmia, discorre sobre as especulações do público e dos colegas artistas a respeito de sua orientação sexual.
Mas se agora toco neste assunto em que me porto com absoluta e elegante discrição social, tão absoluta que sou incapaz de convidar um companheiro daqui, a sair sozinho comigo na rua (veja como eu tenho a minha vida mais regulada que máquina de previsão) e si saio com alguém é porquê se poderia tirar dele um argumento para explicar minhas amizades platônicas, só minhas", explica Mário de Andrade na mensagem.
A então presidente do museu, Lia Calebre, comentou na época que o trecho era muito atual por trazer em foco a discussão sobre a dificuldade encontrada por figuras famosas de fazer a separação entre a esfera pública e a privada de suas vidas.
É um questionamento atual da invasão de privacidade e da necessidade de se justificar a cada passo que se dá" explicou ela, como repercutido em 2015 pelo G1. "Reconhecemos no trecho a maneira filosófica de Mário de Andrade se autoanalisar. Ele coloca as suas inquietações de maneira própria. Ele fala sobre o incômodo de ser uma pessoa pública e ter sua vida questionada".
Já em relação ao hipotético interesse romântico do poeta por homens, o jornalista Jason Tércio, que é o autor de "Em busca da alma brasileira: Biografia de Mário de Andrade" (2019), disse durante uma conversa com o Correio do Povo, naquele mesmo ano, que o rótulo da "bissexualidade" constituía uma "categoria mais precisa" para descrever o modernista:
Há comprovação nesse sentido. É certamente a categoria mais precisa para descrevê-lo. Havia mais dúvidas sobre o seu interesse por mulheres. Mas mostro que, na sua viagem à Amazônia, ele se sentiu atraído inclusive por uma índia. Nos documentos, aparecem várias indicações de interesses heterossexuais. Apresento também uma carta de um homem, cujo nome prefere preservar, que se posiciona como tendo um caso com Mário. Pode ter sido algo passageiro. Mário disse ao amigo Rosário Fusco que seria capaz de ter relações até com uma árvore", observou o biógrafo.
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