Cartaz de divulgação de 'Os Quatro da Candelária' - Divulgação/Netflix
Chacina da Candelária

Candelária: Relembre a chacina que inspirou série da Netflix

Chacina que resultou na morte de jovens e crianças em julho de 1993 é tema da nova produção da Netflix 'Os Quatro da Candelária'

Giovanna Gomes Publicado em 26/10/2024, às 11h00

A madrugada de 23 de julho de 1993, no centro do Rio de Janeiro, foi marcada por um dos episódios mais brutais da violência urbana no Brasil: a chacina da Candelária.

Na data, crianças e adolescentes que dormiam sob a marquise da Igreja da Candelária, acordaram desesperados com os gritos dos agressores que perguntavam por "Come Gato", apelido de Marcos Antônio Alves da Silva, um dos jovens que viviam nas ruas do local. Em seguida, tiros interromperam vidas: em cerca de dez minutos, oito jovens, com idades entre 11 e 19 anos, estavam mortos.

Mais de três décadas após o massacre, o crime inspirou a minissérie "Os Quatro da Candelária", criada por Luis Lomenha, que será lançada na Netflix no próximo dia 30. A série adiciona elementos ficcionais e cenas de ação para retratar o horror vivido naquela noite, baseado em relatos de sobreviventes.

Investigações

Conforme informações do jornal Folha de S.Paulo, na versão oficial das investigações, dois policiais militares e dois ex-PMs foram responsáveis por abrir fogo contra os adolescentes, que encontraram nos arredores da igreja um refúgio.

A chacina, no entanto, não havia começado ali. Os primeiros tiros, disparados no Aterro do Flamengo — um local escuro e deserto na época — mataram dois jovens. Uma terceira vítima, um rapaz de 21 anos chamado Wagner dos Santos — que, mesmo baleado quatro vezes, sobreviveu — tornou-se testemunha-chave para a resolução do caso.

Após o crime, o grupo seguiu para a Candelária, onde matou outros seis garotos, incluindo Come Gato. As vítimas estavam entre as cerca de 70 crianças e adolescentes que viviam nas ruas fugindo de problemas familiares, situações de abuso e violência doméstica. Devido à vulnerabilidade dessas crianças, muitas delas não tinham documentos, o que dificultou sua identificação.

A Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro / Crédito: Wikimedia Commons/Donatas Dabravolskas

 

Vítimas

Entre os mortos estava um jovem de 17 anos, conhecido apenas pelo apelido de "Gambazinho", cujo nome nunca foi descoberto. Outras vítimas incluíam Marcos Antônio (19), Paulo Roberto de Oliveira (11), Anderson de Oliveira Pereira (13), Marcelo Cândido de Jesus (14), Valdevino Miguel de Almeida (14), Leandro Santos da Conceição (17) e Paulo José da Silva (18).

A artista plástica e ativista Yvone Bezerra de Mello, que realizava trabalhos sociais com esses jovens, foi uma das primeiras a chegar ao local após o crime. Ela costumava dar fichas de telefone aos garotos para que, em caso de necessidade, ligassem para ela — e assim o fizeram.

Nos meses seguintes, a investigação prendeu três policiais militares — os soldados Marcus Vinícius Emmanuel Borges e Cláudio Luiz dos Santos e o tenente Marcelo Cortes — além do serralheiro Jurandir Gomes, reconhecidos pelos sobreviventes. No entanto, a ausência de conexões entre eles gerava dúvidas entre os investigadores.

Homenagem às vítimas realizada 30 anos após a chacina / Crédito: Divulgação/vídeo/Youtube/TV Band Rio

 

"Isso nos incomodava, porque para cometer uma chacina, precisa de uma motivação e as pessoas tinham que ter uma relação", explica o promotor do caso, José Muños Piñeiro Filho, que hoje atua como desembargador no Rio, segundo a Folha de S. Paulo. "E os quatro nunca tinham trabalhado juntos, não se conheciam."

Confissão

Em 1996, às vésperas do julgamento, um ex-policial, Nelson Oliveira dos Santos Cunha, confessou o crime, apontando outros cúmplices: Emmanuel, que já estava preso, Marco Aurélio Alcântara e Maurício da Conceição Filho, também conhecido como Sexta-feira Treze. Conforme o ex-policial, Cláudio Luiz, Cortes e Jurandir eram inocentes.

Segundo Cunha, a motivação foi uma discussão entre Emmanuel e os jovens da Candelária, após o PM ter sido ridicularizado por eles ao tentar levá-los à delegacia por estarem cheirando cola de sapateiro.

Emmanuel e Alcântara acabaram confessando sua participação no crime, atribuindo a maior parte da responsabilidade a Maurício, conhecido como Sexta-feira Treze. No entanto, ele havia morrido anos antes, durante o sequestro de um bicheiro no Rio.

O promotor explicou a prisão de Cláudio Luiz, Cortes e Jurandir, que mais tarde foram absolvidos, pela semelhança física com outros suspeitos: "O Sexta-feira Treze e Cláudio Luiz eram muito parecidos, eram negros e magros. O Alcântara era corpulento assim como Cortes, e ambos tinham a mesma falha nos dentes da frente. E o Jurandir parecia o Cunha" explicou José Muños Piñeiro Filho.

Segundo a fonte, Alcântara foi condenado a 204 anos de prisão, enquanto Cunha recebeu penas que somaram 45 anos após recorrer de sua sentença inicial. Emmanuel foi sentenciado a 300 anos em 2003. Atualmente, os três estão em liberdade.

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