Militares sendo recebidos por civis durante a libertação de Praga, em 1945 - Wikimedia Commons, sob licença Creative Commons
Praga

A batalha depois da guerra: O que foi a ofensiva de Praga

Nem a população local e nem os soviéticos estariam interessados na rendição alemã

Ricardo Lobato Publicado em 16/09/2023, às 18h00 - Atualizado em 18/01/2024, às 11h06

A batalha que opôs soviéticos e alemães é única e merece espaço redobrado, pois só acabou depois do Dia da Vitória na Europa (Dia VE). Para explicar as cronografias tão singulares de Praga e da então Tchecoslováquia na Segunda Guerra Mundial — em que a Ofensiva de Praga termina depois do fim do conflito e a Tchecoslováquia entra antes (!?) —,é preciso voltar no tempo.

Tudo começou em 1938, após a infame Conferência de Munique, quando Hitler conseguiu a “bênção” das grandes potências para ocupar os Sudetos, uma região que contava com significativa população germânica. Como é de conhecimento geral, apesar de ter prometido para Inglaterra e França que “se contentaria” com o território acordado, as promessas do Führer de nada valiam.

Rompimento do acordo

Assim sendo, no início de 1939 os nazistas romperam o acordo e ocuparam toda a Tchecoslováquia. O país foi dividido com a criação da República Eslovaca e do Protetorado da Boêmia e Morávia no local das terras tchecas, tendo Praga como capital. A Segunda Guerra começaria apenas com a invasão da Polônia, em 1º de setembro daquele ano, mas tchecos e eslovacos provaram, antes mesmo do início das hostilidades, o horror que estava por vir.

 Durante a ocupação, o país foi cenário de algumas das maiores atrocidades de toda a guerra, com um dos “administradores” alemães, Reinhard Heydrich, tendo ficado conhecido como “O Açougueiro de Praga” – a história do assassinato de Heydrich, em 1942, será contada em ocasião futura nesta coluna.

Para quem pensa que a opressão do povo tchecoslovaco terminou com a morte de Heydrich, houve o contrário, ela aumentou. Desse modo, quando chegamos a abril de 1945, com o Reich desmoronando e com o Exército Vermelho nos portões de Berlim, não é difícil entender o estado de espírito da população tchecoslovaca com os, então, ocupantes.

Casas no topo da Praça Venceslau durante a Revolta de Praga - Crédito: Getty Images

 

Rebeliões começaram a acontecer em todas as regiões da antiga Tchecoslováquia, mas, para os alemães, era Praga que importava. Manter a cidade significava a dominação sobre uma grande capital do antigo Império Austríaco. Na verdade, era mais do que isso: no devaneio da elite nazista que ainda acreditava que o Reich duraria mil anos, reter a metrópole significava a continuidade do regime quando Berlim capitulasse.

Por essa razão, nos meses finais da guerra, o antigo Grupo de Exércitos Centro — que atuara nas grandes operações na Frente Oriental —, junto do que restara do Grupo de Exércitos Sul, fortemente batido pelos soviéticos, foram envia dos para defender a cidade. Com a capital alemã já em ruínas, Praga ainda estava de pé, mas não por muito tempo. Ali seria travada a última grande ofensiva da Segunda Guerra. No dia 5 de maio de 1945, a população, fartada opressão que sofria, se levantou contra os ocupantes. No dia seguinte, as tropas do Exército Vermelho entraram na luta.

Rendição da Alemanha

Mesmo que o fim da guerra tenha sido selado em 8 de maio de 1945 (9 de maio na URSS), nem a população local nem os soviéticos estavam interessados na rendição alemã. Além das forças regulares (Wehrmacht), aquela guarnição era em grande parte composta pela SS, as unidades paramilitares do Reich, que se notabilizara por muitos dos crimes de guerra cometidos contra civis. Aceitar a rendição da SS era algo impensável, aluta teria de ocorrer de toda maneira.

O interessante é que, com as linhas de defesa alemãs praticamente inexistentes naquela altura da guerra, os Aliados Ocidentais não estavam muito longe de Praga. O Terceiro Exército do general Patton — a tropa norte-americana mais avançada no leste — havia chegado à Tchecoslováquia e tinha condições de atacar acidade pelo flanco Oeste.

Entretanto, já pensando no pós-guerra e querendo evitar baixas a seu ver desnecessárias, o Supremo Comandante Aliado, general Dwight D. Eisenhower, ordenou que qualquer unidade militar estadunidense cessasse suas operações. Mesmo que a resistência estivesse organizada e os alemães cercados, os tchecos sabiam que sem o apoio militar dos Aliados (Ocidentais ou Orientais), não teriam chance.

A parada brusca dos norte-americanos desanimou os defensores tchecos, que passaram a ver com (ainda mais) desconfiança o Ocidente. Se em 1938 1939 eles se sentiram vítimas do jogo de poder das grandes potências com a Alemanha, agora, com a hesitação dos EUA — e com a União Soviética pronta para o assalto final —, o país se virava para o leste. O desenrolar da batalha e suas consequências são cenas para o próximo capítulo.

História Segunda Guerra conflito alemães Praga libertação ofensiva rebeliões

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