O Gastão de Orléans em pose em retrato fotográfico - Wikimedia Commons
Personagem

Atacado pela imprensa e excluído de cerimônias: a impopularidade do conde d'Eu, marido da Princesa Isabel

Com um império abalado após a Guerra do Paraguai, Gastão foi o alvo preferido dos opositores republicanos até o exílio

Wallacy Ferrari Publicado em 20/05/2020, às 09h00

Nascido na França, Louis Philippe Marie Ferdinand Gaston era neto do rei Luis Filipe I, mas se rendeu aos encantos da princesa brasileira em 1864, quando renunciou ao direito à linha de sucessão para casar com Isabel. Apesar de ter acompanhado a última princesa imperial brasileira até os seus últimos dias de vida, Gastão agradou poucos além da própria companheira.

Depois de oficializar a união, Gastão tentou participar de ações no governo brasileiro, sem sucesso. Dom Pedro II não fazia questão de dar ouvidos ao casal e evitava comentar sobre assuntos relacionados ao Estado, causando desentendimentos entre o francês e o imperador. Ao ser excluído das decisões nacionais, o homem fez de tudo para ter uma projeção positiva no cenário político nacional, com realizações comunitárias como auxílio em construções de escolas e orfanatos, até projetos de lei destinados ao Exército.

O conde impopular

Em um movimento liderado pelos republicanos, a recusa de D. Pedro II para a inclusão da princesa e seu esposo nas decisões reverberou em uma justificativa para a não-atuação dos mesmos de acordo com os opositores. Sendo pessoas públicas conhecidas em todo o país, os antipatizantes e a imprensa justificaram os problemas do Brasil após a Guerra do Paraguai apontando a falta de rigorosidade e decisões.

O Gastão de Orléans em fotografias com a princesa Isabel / Crédito: Brasiliana Fotográfica

 

Conhecido popularmente apenas como “o francês”, as constantes cobranças em funções que estavam fora de sua responsabilidade e as críticas sobre a forma que conduzia os negócios públicos tornou Gaston uma das figuras mais impopulares no império. Sua imagem piorou ainda mais quando a imprensa republicana criou calúnias envolvendo o nome do conde.

Desde escândalos em negociatas e envolvimento com a maçonaria, Gastão chegou a ser apontado como um dos principais exploradores de cortiços no Rio de Janeiro, criando uma relação de antipatia do conde com políticos — que o evitavam. Até mesmo a sua surdez foi explorada para causar rejeição, relacionando a incapacidade de ouvir o próximo com orgulho e falta de empatia.

O francês rejeitado

A recusa da classe política e dos próprios membros da monarquia causava desconforto para Gastão, conforme relatado em carta: “[Estou] cansado de ser usado aqui como bode expiatório pela imprensa, ostensivamente responsabilizado por tudo, sem, na realidade, ter voz nem influência”. Com a vida pública afetada, seus compromissos privados passaram por episódios negativos.

Sem a possibilidade de comprovar as afirmações, a família de Isabel passou a remover o conde de reuniões de conselho do Estado e até mesmo de cerimônias da família, como jantares e bailes, temendo a associação da festa com a imagem do francês. Infeliz, Gastão gradativamente se tornou um home recluso, com poucas declarações públicas.

Quando realizava boas ações, como quando enviou uma equipe médica para o litoral paulista, exclusivamente para tratar de uma epidemia de febre amarela na Baixada Santista, era ainda mais escarnecido com a imprensa afirmando “que se tratava de mais uma ação para polir sua imagem rechaçada”.

Fotografias em plano retrato de Gastão de Orleans em idade avançada / Crédito: Domínio Público

 

Com a proclamação da República, o conde se exilou em Portugal até o falecimento de Isabel, em 1921. Ao pisar em terras tupiniquins, não apenas pôde comemorar o centenário da independência do Brasil, como notou que haviam interrompido os ataques e que poucos se recordavam de sua rejeição. Morreu no ano seguinte de causas naturais, aos 80 anos.


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