Há 25 anos, a Convenção de Armas Químicas era assinada, para tentar bani-las do mundo. Não é segredo: não funcionou
Mauro Tracco Publicado em 29/04/2018, às 07h00 - Atualizado às 11h10
A Convenção de Armas Químicas foi assinada em 29 de abril de 1993 e entrou em vigor quatro anos depois. O acordo foi administrado pela Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), uma organização independente com sede em Haia, na Holanda. Os 178 países signatários concordaram em proibir o desenvolvimento, a produção, o armazenamento e o uso desse tipo de arma, que explora as propriedades tóxicas de uma substância química para matar ou incapacitar.
O prazo acertado para a destruição de todas as armas químicas declaradas foi abril de 2012. Entre as nações participantes, apenas 14% do arsenal declarado havia sido destruído até 2004, muito abaixo da meta de 45%. Em janeiro de 2013, cerca de 78% do estoque declarado de armas químicas foi destruído.
Um grupo de países, entre os quais Israel e Myanmar, assinou, mas ainda não ratificou o tratado. Angola, Coreia do Norte, Egito e Sudão do Sul seguem fora da Convenção.
O país, que ainda não havia aderido ao tratado, pediu para assiná-lo em 14 de setembro de 2013, comprometendo-se a abrir mão de todas as suas armas químicas - a entrada do país foi efetivada um mês depois. Antes disso, em 21 de agosto de 2013, o governo do presidente sírio Bashar al-Assad havia sido acusado de usar a substância química sarin, que age no sistema nervoso, contra áreas controladas por rebeldes no vilarejo de Ghouta, próximo à capital Damasco. Assad negou a utilização de armas químicas e concordou em destruir o arsenal químico do país.
Mesmo depois da adesão da Síria ao Acordo Internacional, a Opaq continuou a reportar o uso de produtos químicos tóxicos em ataques no país. Um inquérito feito pela ONU em conjunto com a Opaq, nos últimos dois anos, concluiu que o governo de Assad usou o agente sarin e o gás cloro como armas.
Recentemente, o assunto voltou às manchetes de todo o mundo, após um suposto ataque com armas químicas realizado pelo governo sírio no subúrbio de Damasco. Pelo menos 40 pessoas morreram na cidade de Duma, onde há resistência de rebeldes. Em retaliação, Donald Trump ordenou bombardeios coordenados contra três supostas instalações de armas químicas em Damasco e em Homs, em operação combinada com as forças armadas da França e do Reino Unido. O governo de Assad continua a negar que está por trás dos ataques químicos.
Em março deste ano, o Secretário de Assuntos do Exterior britânico, Boris Johnson, acusou a Rússia de utilizar agentes neurotóxicos do grupo Novichok para envenenar o ex-oficial da inteligência militar russa Sergei Skripal, recrutado nos anos 1990 pelo serviço secreto britânico MI6, e sua filha Yulia. Os dois foram encontrados inconscientes em 4 de março, em Salisbury, Inglaterra.
Para o chefe da diplomacia britânica, o uso da arma química foi uma mensagem a possíveis desertores russos. A Rússia nega qualquer envolvimento no ataque, e acusa o Reino Unido de tirar suas conclusões sem nenhuma evidência.
Veja alguns dos piores tipos de armas químicas que ainda fazem parte do arsenal mundial.
Os sintomas desse agente pulmonar letal demoram a aparecer. 24 horas após a exposição, o gás mistura-se com a água dos tecidos para formar o ácido hidroclórico, que dissolve as membranas do pulmão. Foi responsável por milhares de mortes durante a Primeira Guerra Mundial. Quem teria: Coréia do Norte, Egito, Irã.
Causa bolhas na pele, sangramentos no pulmão e cegueira. Os sintomas aparecem de 4 a 24 horas após a exposição. A morte, lenta e dolorida, pode levar semanas. Há chances de sobreviver, mas o gás pode causar câncer e mutação no DNA. Também foi muito utilizado na Priemieira Guerra. Quem teria: Coréia do Norte, Egito, Irã e Síria.
O mais mortal entre os agentes nervosos interrompe o funcionamento dos neurotransmissores. Provoca salivação, convulsões, urinação e defecação involuntárias, além de morte por asfixia. Tem efeito rápido e permanece no ambiente por longos períodos. Quem teria: Coréia do Norte, Egito e Síria.
Desenvolvido como pesticida pelos alemães em 1938, o gás sarin causa dano direto ao sistema nervoso. Estreitamento das vias respiratórias e acúmulo de fluido nos pulmões são as primeiras reações. Pode levar à morte em um a dez minutos. Quem teria: Síria, Irã e Coreia do Norte.
Agente sangüíneo de efeito imediato. Causa convulsão, paralisação e morte. É capaz de penetrar no filtro de máscaras contra gases. Quem teria: Coréia do Norte e Irã.
É um grupo de agentes nervosos, desenvolvido pela Rússia em 1971. É supostamente de 5 a 8 vezes mais tóxico do que o VX, além de agir mais rapidamente e ser mais difícil de identificar. Causa convulsões, insuficiência respiratória e morte. Quem teria: Rússia.
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