Episódio quase lhe rendeu expulsão de Harvard e antecedeu outros ataques emocionais
Fabio Previdelli Publicado em 16/07/2023, às 00h00 - Atualizado em 27/07/2023, às 10h03
Oppenheimer, dirigido por Christopher Nolan, já pode ser conferido nos cinemas. O longa, um dos mais aguardados do ano, é inspirado no livro escrito por Kai Bird e Martin J. Sherwin chamado 'Oppenheimer: O triunfo e a tragédia do Prometeu americano', publicado no Brasil pela Intrínseca.
Na obra, Kai e Martin revelam detalhes sem precedentes sobre o sujeito que é considerado o pai da bomba atômica. Um desses períodos é quando Oppenheimer se graduava em química na Universidade de Harvard. No período, ele quase matou seu tutor envenenado com uma maçã.
Charles Oppenheimer, que é neto do "pai da bomba atômica", revelou à Time Magazine que visitou o set de gravações e que gostou do resultado, no entanto, não ficou feliz com a representação do envenenamento no filme.
Se você ler o American Prometheus com bastante atenção, os autores dizem, 'Nós realmente não sabemos se isso aconteceu.' Não há registro dele tentando matar alguém. Essa é uma acusação muito séria e é uma revisão histórica. Não há um único inimigo ou amigo de Robert Oppenheimer que ouviu isso durante sua vida e considerou isso verdade", disse Charles Oppenheimer.
Mas como foi essa suposta tentativa de envenenamento? O que aconteceu após esse episódio?
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Por conta da alta carga de estudo e da vida social pouco ativa, Julius Robert Oppenheimer foi um aluno recatado em seus tempos de Harvard, no campus em Cambridge. No final de seu primeiro ano como calouro, sua saúde mental passou a se degradar.
Além da frustração por perceber que deveria ter cursado física e não química como sua disciplina principal, o jeito recluso do norte-americano de origem judaica alemã lhe afastava das mulheres.
Os autores apontam que, anos mais tarde, um amigo de Robert em Harvard, William Boyd, relatou que o pai da bomba atômica sofria com episódios depressivos. Mas não era só isso, Oppenheimer quase envenenou seu tutor e chegou a atacar um de seus amigos.
"Para preocupação dos amigos e familiares, o estado emocional de Robert continuou a se deteriorar", descrevem Bird e Sherwin. "Ele parecia estranhamente inseguro de si e teimosamente moroso".
Uma das grandes queixas de Oppenheimer era contra seu tutor, Patrick Blackett, de quem Robert gostava e sempre tentava buscar sua aprovação. "Mas Blackett, sendo um físico experimental, que punha a mão na massa, o encarregava de fazer mais daquilo em que não era bom: trabalho de laboratório".
Blackett provavelmente não via nada de mal nisso, mas, no estado de agitação de Oppenheimer, a relação se tornou fonte de ansiedade extrema", descrevem.
No final do outono de 1925, Robert Oppenheimer fez um ato impensável e estúpido, mas que poderia trazer sérias consequências. "Consumido por sentimentos de inquietação e intenso ciúme, 'envenenou' uma maçã com compostos químicos do laboratório e a deixou na mesa de Blackett", explicam Kai e Martin no livro.
Por sorte, de alguma forma, funcionários do laboratório foram informados e o tutor de Oppenheimer não comeu a maçã envenenada. Em entrevista à Sherwin em 1979, Francis Fergusson, outro amigo de Robert em Cambridge, recordou o episódio: "Ele meio que havia envenenado seu principal supervisor. Parecia incrível, mas foi o que ele disse".
O veneno usado por Oppenheimer teria sido cianureto — o mesmo ingerido por Hitler e Eva Braun horas após o casamento em 30 de abril de 1945. O que não se sabe é se a quantidade era potencialmente letal ou não. Caso fosse, Oppenheimer poderia responder por tentativa de assassinato.
Mas os biógrafos apontam que isso parecia menos provável, e que o pai da bomba atômica teria inserido uma quantidade apenas para deixar seu tutor enjoado. De qualquer forma, a artimanha poderia causar sua expulsão.
Como os pais de Robert estavam na Inglaterra para visitá-lo, os mesmos foram chamados até Harvard. Seu pai, Julius Seligmann Oppenheimer, conseguiu convencer a universidade a não prestar queixas. Além disso, fizeram um acordo para que o filho ficasse em observação e fosse submetido a sessões com um psicanalista.
No Ano Novo de 1926, Fergusson se encontrou com Oppenheimer em Paris, onde Robert acompanhava seus pais por algumas semanas durante as férias de inverno. Até aquela altura, Francis não sabia o motivo do amigo visitar o psicanalista — tal razão só foi revelada durante uma caminhada pelas ruas da capital francesa.
Com o passar dos dias, o amigo percebeu que Oppenheimer passou a "ficar muito estranho", além de dormir pouco. "Certa manhã, trancou a mãe no quarto do hotel e saiu", dizem os biógrafos.
Pelo episódio, seus pais insistiram que ele procurasse um psicanalista francês. Mas o amigo percebeu que Robert passava por uma crise emocional. O episódio ficou ainda pior quando os dois estavam em seu quarto de hotel.
Para distraí-lo, Fergusson mostrou uma poesia que sua namorada lhe escrevera e disse que a havia pedido em casamento — e ela aceitado. Robert ficou atônico com a notícia e deu um estalar de dedos.
Eu me curvei para pegar um livro", descreve Francis, "e ele pulou em cima de mim, por trás, como uma correia de couro, daquelas de amarrar baús, e tentou passá-la em volta do meu pescoço. Por alguns instantes, fiquei apavorado. Acho que fizemos algum barulho. Então consegui empurrá-lo de lado e ele caiu no chão, aos prantos", revelou à Sherwin.
A reação do físico pode ter sido causada por ciúmes, visto que Robert havia 'perdido' outro colega, Fred Bernheim, para outra mulher. A repetição da situação teria lhe causado o novo ataque. Francis Fergusson, porém, o perdoou e continuou ao seu lado pelo resto da vida.
Em março de 1926, Robert e outros colegas, Jeffries Wyman, Frederick Bernheim e John Edsall, deixaram Cambridge para passarem férias em Córsega, na França — por onde permaneceriam por dez dias.
Durante a viagem, Wyman reparou que Oppenheimer parecia passar por uma "grande crise emocional". Perto do fim do período, os colegas estavam jantando numa pequena estalagem quando o garçom disse a Robert que o próximo barco já estava partindo.
Sem ninguém entender nada, Oppenheimer apenas falou: "Não suporto falar sobre isso, mas preciso ir", revelou Jeffries à Charles Weiner que, junto de Alice Kimball Smith, escreveu Robert Oppenheimer: Letters and Recollections. Mas Robert optou por ficar e revelou o motivo de sua angústia após algumas taças a mais de vinho.
Bem, talvez eu possa lhes contar por que preciso ir. Fiz uma coisa terrível. Pus uma maçã envenenada na mesa de Blackett e preciso voltar para ver o que aconteceu".
Robert não deu mais detalhes, tampouco falou que o incidente havia ocorrido há alguns meses. Por décadas, o envenenamento da maçã ganhou registros conflitantes. Mas Fergusson esclareceu o ocorrido: "Tudo isso aconteceu durante nosso primeiro período letivo em Cambridge".
Devido à confusão, Sherwin perguntou se o amigo acreditava que o caso havia realmente acontecido: "Sim, acredito. Acredito. O pai dele precisou dar um jeito com as autoridades de Cambridge em relação àquela tentativa de assassinato". A história, no entanto, é alvo de controvérsia.
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